De Olhos de Mongol a Sirumba, não esquecendo Casa Ocupada, Turbo Lento, EPs e o mais recente homónimo, os Linda Martini revistaram toda a sua carreira na passada quinta-feira, no Musicbox.
A premissa era atractiva: uma tournée pelo país, em salas de pequenas dimensões, onde os fãs da banda poderiam escolher qual o alinhamento de cada concerto. Naturalmente, praticamente todas as datas esgotaram num ápice e, no caso lisboeta, o Musicbox voltou a acolher os Linda Martini para um serão de quatro noites onde qualquer uma das canções da banda portuguesa que, a brincar a brincar, já vai com quinze anos de carreira, poderia ir a palco.
Num Musicbox completamente à pinha, a antecipação era muita: “a noite será de clássicos, recentes ou um misto de ambos?”, era a pergunta de todos. Na entrada em palco, e diretamente resgatado do EP Marsupial, “As Putas Dançam Slows” é a primeira canção da noite que se ouviu, um clássico que fazia tempo desde a última vez que acompanhou os Linda Martini em concerto. Seguidamente, “Panteão” e “Europeu Comum” serviriam de presságio à resposta do público sobre como seria a noite, isto é, a de um best-of a todo o repertório dos Linda Martini.
Apesar de impactantes como sempre, “Belarmino Vs”, “Putos Bons” e “Amor Combate” – despertou o mosh nas frentes do palco – são presenças tão constantes nos concertos de Linda Martini que poucos tiveram dúvidas que não iriam a palco. Claro está, a sua presença só fez aumentar os ânimos para uma noite que em tudo foi de especial.
Êxitos de parte, as surpresas viriam logo de seguida, pelo nome de “Lição de Voo Nº1”, “Volta”, “A Corda do Elefante Sem Corda” ou “Estuque”. Estes temas, que levaram Cláudia Guerreiro a pedir desculpas em antemão se corressem mal, ou não os tocassem há algum tempo, deixaram os fãs da banda num estado de admiração que rapidamente dava lugar a um de êxtase quando todo o Musicbox se cantava, em uníssono, algumas tiradas que já fazem parte do dicionário dos fãs dos Linda Martini, como “sem ti, nada faz sentido” ou “o Fado agora quer ser samba”.
Esgotar três datas seguidas no Musicbox – ainda há bilhetes disponíveis para domingo – não é para todos, e é preciso uma fiel legião de fãs para conseguir tal feito; “obrigado por terem esgotado estas datas de forma tão rápida. Há sempre um gosto especial em tocar em Lisboa, por ser a nossa casa. Obrigado por fazerem isto possível!”, agradeceu Hélio Morais com sinceridade.
Realmente, é notável a relação que existe entre os Linda Martini e os seus fãs, sendo possivelmente uma das mais admiráveis que vigora actualmente no panorama musical português. Dado o facto, em nada espantou a diversão e a cumplicidade que se viveu pelo MusicBox, com a banda a responder a praticamente todas as interpelações da plateia para o palco, sempre com sorrisos nos lábios.
Apesar da restrição a treze canções, todos os álbuns dos Linda Martini estiveram presentes em semelhante pé de igualdade, embora só no final é que o homónimo, lançado este ano, tenha surgido, ao som da estrondosa “Gravidade”. Continuando numa onda de barulho, e já a entrar na recta final, ouviu-se a inevitável “100 Metros Sereia”, intensa como sempre, e o fim fez-se com duas outras antecipadas surpresas: “Este Mar”, reminiscente ao EP de estreia e quando a banda acusava uma sonoridade post-rock, e “Dá-me a Tua Melhor Faca”, com esta última então a sentenciar a noite.
Já em período de compensação, o encore contou com duas outras canções que por pouco não constaram das mais votadas – “Unicórnio de Sta. Engrácia” e “Boca de Sal” – e por uma grande dose de agradecimentos para todos aqueles que fizeram a noite possível, desde a equipa técnica até ao Musicbox. O agradecimento especial, lá está, foi para o público que ajudou os Linda Martini em tornarem-se, indiscutivelmente, como uma das maiores bandas portuguesas desta geração.