A música portuguesa independente está a crescer e a profissionalizar-se, prova disso foi a realização do evento “Dias da Musica Independente” que decorreu em Lisboa no Palácio Baldaya no passado fim-de-semana. Várias entidades juntaram-se e quiseram dar destaque à música portuguesa através de várias expressões artísticas, como a fotografia, música ao vivo e a mostra e venda de discos. A organização do mesmo esteve a cargo da Associação de Músicos, Artistas e Editoras Independentes (AMAEI), a revista on-line Música em DX, a Junta de Freguesia de Benfica e contou ainda com o apoio do Museu Nacional da Música.
Na 6ª feira dia 11 de Janeiro às 19h arrancou a exposição fotográfica “Sons de Palco” pela autoria de fotógrafos colaboradores da Música em DX, bem como a 1ª Feira de discos dos artistas associados da AMAEI. A exposição “Sons de Palco” esteve patente no Museu Nacional da Música de Maio (no âmbito da Noite dos Museus, dia 18 de Maio) a Julho último, e permanecerá na Sala Joanna Baldaya no Palácio Baldaya até ao próximo dia 11 de Fevereiro. “Sons de Palco” é uma homenagem à música portuguesa das últimas décadas. Contou com a curadoria de Luís Sousa e integra registos fotográficos de artistas de espectros musicais muito distintos, como Slow J, The Gift, B Fachada, Jorge Palma, Filho da Mãe, Sean Riley, Dead Combo, Gisela João, Linda Martini, The Legendary Tigerman, Moonspell, Bizarra Locomotiva, Pop Dell’Arte, The Parkinsons, Xutos & Pontapés ou Mão Morta.
© Marta Santos
Em simultâneo e numa espécie de warm-up do Festival Eurosonic 2019 que irá decorrer de 15 a 18 de Janeiro, o Why Portugal organizou dois workshops com o objectivo de “partilha de sugestões e boas práticas para que os artistas e profissionais possam tirar o maior partido possível deste festival e conferências”. Os workshops aconteceram dias 12 e 13 no salão Nobre do Palácio Baldaya.
No sábado dia 12 pelas 17h na Sala do Desembargador, assistimos ao show-case de MERU, projecto musical “com composições originais de base instrumental”. As composições sofrem um processo de decomposição sonora onde identificamos sons de diferentes culturas, tradições e estilos musicais. Com uma diversidade étnica na sonoridade, o multifacetado quarteto de músicos convidou o público a viajar pelo mundo esotérico de MERU. Segundo os próprios, os 4 elementos que constituem o projecto MERU (Carolina Pizarro, Pedro de Faro, Rui Miguel Aires e, mais recentemente, a Sara Rica Gonçalves) estão “unidos pela missão das artes de expressão, canto, música e dança, como prácticas fundamentais e terapias para a cura, o bem-estar e a ascensão das mentalidades, das relações humanas e do planeta”.
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Uma viagem pelas sonoridades do mundo, de África a Ásia e da Oceânia às Américas, onde a guitarra portuguesa se apresenta como estrutura de alguns dos temas. Sempre acompanhada com instrumentos como o Sitar, o nGoni, o Didgeridoo, o Handpan. Uma variedade imensa de instrumentos de percussão como o Djambe, Adufe, Cabaça, Shakers, paus de chuva, cymbalos, nozes e guizos. Um ambiente intimista, onde a luz baixa e suave que iluminava os músicos, aclarava as flores que ornamentavam o pequeno palco improvisado onde 4 elementos do grupo representam os elementos Ar, Terra, Água e Fogo. A Sala do Desembargador do Palácio Baldaya foi pequena para tantas pessoas que quiseram embarcar na “viagem” de MERU, e nem mesmo as crianças que estavam presentes provocaram alguma espécie de ruído de fundo. Os MERU já editaram um CD e era possível adquiri-lo na no espaço de venda de discos na Sala Joanna Baldaya no piso 0.
Num registo distinto dos MERU, o trio de Benavente Ossos d’Ouvido (ODO) iniciaram a sua actuação praticamente de seguida no Salão Nobre (piso 2). O Diogo Lourenço (guitarra), o João Massano (baixo) e o Pedro Almeida (bateria), estão juntos desde 2014 e se auto-intitulam uma banda instrumental ecléctica no registo musical, uma mistura orgânica que percorre desde o rock psicadélico/progressivo à música do mundo. Actuaram no festival Reverence Valadas 2016 e mais recentemente, em Outubro último, no Cartaxo Sessions.
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Já com trabalhos originais editados, os ODO gravaram pela Watermelon Records (Leicester no Reino Unido) em Maio de 2018 o seu primeiro álbum que sairá em breve. Nos “Dias da Música Independente” escolheram um alinhamento mais jazzístico, onde cada tema se estendeu numa vivacidade densa e harmoniosa. A versatilidade no registo permite-lhes experienciarem novas texturas, misturando arranjos psicadélicos com acordes mais libertinos do jazz. Os Ossos d’Ouvido encaixam-se assim em diferentes ambientes, conseguindo nos “Dias da Música Independente” surpreender a assistência que os ouvia pela primeira vez. Agradecemos à Junta de Freguesia de Benfica e ao Museu Nacional da Música por apoiarem esta iniciativa e, esperemos que mais encontros destes possam acontecer em Lisboa. A música agradece!