Gonçalo e Hugo são dois amigos que depois de uma jam session resolveram formar uma banda, Galo Cant’Às Duas. Os Anjos Também Cantam foi a primeira voz destes Galos que nos guiou por paisagens quase divinas, onde a intensidade era a ambição mais forte. Agora, Cabo da Boa Esperança transparece a necessidade de voar por outras áreas e uma certa de libertação de dualidades e confrontos pessoais, mantendo uma energia e necessidade de estar em contacto com a terra e os sentidos.
Lançado no passado dia 18 de Janeiro, Cabo da Boa Esperança é um disco de 8 faixas com alguma maquinaria e tecnologia e a introdução de vozes, desviando-se para um caminho mais indie e electrónico. No próximo dia 8 de Fevereiro, o álbum será apresentado no Sabotage Rock Club e o Música em DX esteve à conversa com o Hugo Cardoso (bateria e voz) acerca deste novo álbum:
Música em DX (MDX) – Estão ou estamos numa maré de Esperança?
Hugo – Claro! Nós estamos pelo menos, espero que estejamos todos. É isso que nós queremos dizer neste novo disco. É um bocado a remeter a essa esperança na qual acreditamos bastante e que acaba por ser trabalhada, também, é uma esperança que se trabalha.
MDX – Esperança de quê?
Hugo – De conseguirmos alcançar tudo o que queremos como profissionais e pessoas, enquanto seres humanos, tudo e mais alguma coisa.
MDX – Podemos ver este Cabo da Boa Esperança como uma espécie de renascimento vosso?
Hugo – Renascimento não sei se será a melhor palavra. Nós decidimos explorar outras coisas. A comparar com o primeiro trabalho, nós vemos as coisas como uma continuação do que já estava a acontecer na viagem d’ Os Anjos Também Cantam. Por exemplo o “Partícula”, o último tema, já foi uma tentativa de conseguirmos explorar um lado mais concreto, mesmo a nível de mensagem escrita em português, está ligado. Apesar de que se compararmos o produto, em geral, está diferente.
MDX – Pois… há uma grande mudança, daí ter falado em renascimento…
Hugo – O que eu estava a dizer é que no primeiro trabalho, o último tema já faz a ponte para este segundo trabalho. Nós quando estávamos a acabar de compor o primeiro disco já estávamos com essa vontade… daí eu dizer que é uma continuação. Comparando a obra no total, claro, que está bem diferente.
MDX – De onde é que vem essa vontade de seguir este caminho?
Hugo – Vem de várias coisas, vem das nossas fases de vida. Na altura quando estávamos a compor o primeiro disco tínhamos acabado os estudos de jazz, vínhamos com aquelas influências um bocado mais free por assim dizer, ainda que tenhamos encontrado um equilíbrio entre o free e algo concreto. Tem a ver, também, com os objectivos que nós queremos atingir a nível de mercado. Queríamos ter algo mais concreto, com mais beat e harmonia, canções mais directas, mais dance e chegar a mais gente, tocar mais, em mais festivais, em mais teatros e clubes, tocar em mais tudo e ir para fora também.
MDX – Quem é que canta?
Hugo – Somos os dois, cantamos os dois ao mesmo tempo e sozinhos. O propósito é dar dinâmica, cada um cantar com o seu timbre causa uma dinâmica interessante que nós gostamos de explorar.
MDX – Quem toca teclados?
Hugo – Indo outra vez ao “Partícula”, já tínhamos colocado um pouco de teclados e gostámos bastante de compor isso e do resultado e decidimos avançar. O Gonçalo deixou a guitarra de parte neste disco e dedicou-se mais ao baixo, apesar de por vezes o baixo parecer guitarra, e aos teclados no sentido mais beat.
MDX – Era isso que estava a tentar perceber… Se iam ser só os dois em palco ou meter mais algum elemento..
Hugo – Continuamos só os dois. Houve uma mudança muito grande porque agora dependemos bastante de tecnologia. Esta nossa mudança foi a nível de tudo, mesmo a nível do nosso concerto tivemos que adoptar a técnica dos inears, de tocar com metrónomo porque está tudo programado em computador e depois o Gonçalo vai lançando os loops e dependemos mais da tecnologia.
MDX – Isso deixa-me um bocado chateada porque vocês têm um álbum com muita ligação à terra, aos sentidos e depois vão fazer algo que não é nada orgânico…
Hugo – Eu percebo o que queres dizer. Claro que no disco é o que é, é o que está gravado e é assim. Aquilo em que nós acreditamos e em que estamos a trabalhar imenso é em atingir um equilíbrio ao vivo e não perdermos essa parte terrestre que estás a dizer porque nós gostamos dela também e queremos que ela continue presente, não queremos fazer um concerto tipo máquinas. Acreditamos que vamos conseguir esse equilíbrio e que a tecnologia não nos vai impedir de ter o lado orgânico e, sinceramente, acho que estamos a conseguir. Para a semana vão ver e depois falamos sobre isso.
MDX – Onde foi o primeiro concerto com este disco?
Hugo – Tocamos em Dezembro no Carmo 81, fizemos uma pré-apresentação.
MDX – Como foram as reacções?
Hugo – A nível de evento em si correu incrivelmente bem. Nós subimos bastante a fasquia no sentido de querermos oferecer às pessoas um espectáculo com um cenário, trabalhamos imenso para o cenário, luzes e tudo mais, também estávamos a jogar em casa e temos mais facilidade e a nível de evento foi incrível. A nível musical foi importante para nós para percebermos isto que estavas a dizer a nível da orgânica e da dinâmica e não ficámos assim tão satisfeitos como seria porreiro termos ficado mas foi bom para decifrarmos o que temos de melhorar e o que é para manter. No concerto, musicalmente, não foi algo em que nós nos sentíssemos felizes; mas a nível de público, os nossos amigos que estiveram connosco nas nossas residências artísticas sentiram o mesmo que nós e disseram exactamente o que disseste à pouco, mas a malta em geral gostou e houve boas reacções. Tivemos o disco à venda e ainda vendemos uns quantos, no geral foi bom. Para nós é que não foi assim tão bom mas foi importante!
MDX – Queres falar-me um pouco dessas residências? A importância que tiveram para vocês?
Hugo – As residências fizemos no Condado de Beirós (perto de São Pedro do Sul) que é uma casa enorme com um terreno enorme com pessoas muito simpáticas e basicamente é turismo rural e quando vamos para lá eles fecham e ficamos só nós, aqui fizemos a parte instrumental e depois fizemos numa Surf House perto de Aveiro a parte lírica e melodias de vozes. Foram super importantes porque fomos à procura de um desconforto, estávamos a precisar disso. Por isso é que o disco está muito diferente no geral, foi mesmo a nossa necessidade de procurar outra coisa que nunca tenhamos feito e as residências fizeram para bem para sair do nosso estúdio onde estamos todos os dias e estar com outras pessoas e fazer coisas diferentes. Tivemos a vantagem de amigos nossos irem ter connosco e ajudarem-nos e darem a opinião e fazermos coisas com eles. Creio que foi tão positivo e ficamos tão felizes com tudo isto que vai ser um registo a manter, ficar o estúdio para ensaiar e irmos para fora para compor. Foi assim que também descobrimos muitas coisas nossas que não estavam tão ao cimo da pele.
MDX – Qual é o vosso medo?
Hugo – Não é bem medo, acho que medo é demasiado forte, mas é sempre aquele lado de acreditarmos bastante numa coisa, neste caso por exemplo naquilo que nós fazemos enquanto músicos e enquanto Galo Cant’Às Duas e que, por alguma razão, não consigamos alcançar os objectivos de maneira geral. Ou que o disco não chegue a tanta gente como nós gostaríamos, acho que é um bocado por aí. É um receio, de maneira geral, mas acho que é algo normal de quem tem um projecto ou um negócio. Como nós queremos fazer disto vida, dependemos de muitos factores e não só de compor ou trabalhar… Temos receio que essas coisas se desalinhem e não nos levem onde nós queremos. Mas, mesmo assim, não pensamos muito nisso.
MDX – Quais são as vossas perspectivas para 2019?
Hugo – Nós estamos a trabalhar para conseguirmos cumprir tudo o que temos planeado. Estávamos com uma falha grande na nossa equipa porque não tínhamos nenhum agente e isso obrigava-nos a fazer nós esse trabalho, quando não queremos ter esse peso. Felizmente agora estamos a trabalhar com alguém de quem gostamos bastante e que acreditamos que vá fazer um grande trabalho e já está a mostrar provas disso. Estamos a organizar uma boa tour e as coisas estão bem alinhadas. Portanto as nossas expectativas é tocar, queremos tocar e sair de Portugal.
MDX – Vai acontecer?
Hugo – Estamos a trabalhar para isso. Ainda não há nada em concreto mas já falámos sobre isso e temos algumas hipóteses. Mas para já queremos focar-nos em Portugal e depois dependendo de como as coisas vão correndo vamos vendo.
Os Galo Cant’Às Duas vão estar no próximo dia 8 de Fevereiro a apresentar o seu novo trabalho no Sabotage Rock Club. Mais info aqui.
Fotografias – Rafael Farias