Os The Last Internationale têm passado bastante tempo em Portugal, situação que não é alheia ao facto de Edgey ser um português nascido em Nova York que contagiou Delila Paz com a sua paixão. Lançaram o primeiro EP em 2013 e o primeiro álbum em 2014, e agora em 2019 oferecem-nos mais um pouco da sua paixão por mudar o mundo através da música. Entre hoje dia 6 de Fevereiro e até dia 24 de Fevereiro vão por Aveiro, Lisboa, Torres Vedras, Coimbra, Porto e Évora com a promessa de concertos memoráveis e noites inesquecíveis. Um concerto para aqueles que sabem que o rock não morreu nem nada que se pareça. Nas palavras dos The Last Internationale o rock como banda sonora da revolução está mais vivo que nunca.
Música Em DX (MDX) – Como é que os The Last Internationale se tornaram os The Last Internationale, ou por outras palavras como é que se conheceram?
The Last Internationale – Conhecemo-nos nas ruas de Nova York. Cruzámo-nos em protestos, concertos e em alguns cafés. Não havia muita gente a ouvir Woody Guthrie, Howlin’ Wolf, Muddy Waters, acabámos por fazer click.
MDX – Assumem-se como uma banda politizada?
The Last Internationale – Não concordamos com o termo banda politizada. Toda a gente está politizada, até o Justin Bieber. Como músicos temos duas escolhas: Ou nos erguemos contras as injustiças que acontecem no quotidiano ou somos cúmplices. Os artistas que optam pelo silencio para não prejudicar as suas carreiras também deveriam de ser considerados politizados. Estão conscientemente a escolher apoiar o status quo e tudo o que de mal daí advém.
MDX – Como se descreveriam a quem não conhece a vossa sonoridade?
The Last Internationale – Não descrevemos, damos o nosso link do Spotify. Se ouvem ou não é uma decisão deles.
MDX – A música é um meio ou um fim em si?
The Last Internationale – Ambos. Não há maior felicidade do que alcançar aquele momento de transcendência musical. Mas a música também influencia os outros, por isso é automaticamente um veículo para a mudança pessoal e social.
MDX – Li em várias publicações sobre o grande esforço e empenho que puseram no vosso novo disco e como isso de certa forma agravou a vossa descrença nas grandes editoras. É dessa luta que nasce a vossa editora? Este novo papel que assumem alterou aquilo em que acreditam ou fortaleceu?
The Last Internationale – A nossa experiência durante e depois de sairmos da Epic Records tornou-nos definitivamente mais fortes. Para sermos honestos houve muitos momentos em que pensámos que a nossa sanidade mental não iria sobreviver. Estávamos literalmente a enlouquecer. E que melhor forma de escrever o segundo álbum? Tornou a nossa escrita muito mais forte e as nossas letras tornaram-se por isso ainda mais pessoais. Ter inimigos poderosos aproximou-nos ainda mais, assim também estamos agradecidos por eles existirem. Ajudaram-nos a perceber que conseguíamos fazer isto tudo sozinhos. Podemos criar a nossa própria editora. Mas mais importante que isso fez com que apreciemos ainda mais a vida e não tomemos nada por garantido. Somos afortunados porque podemos fazer a nossa vida na música e usar as nossas vozes para fazer ouvir os mais fracos e oprimidos.
MDX – Alguma vez tiveram algum problema por causa do nome da banda?
The Last Internationale – Não. Os que representam o poder vigente nos E.U.A são demasiado estúpidos para sequer saber o que o nome significa. As pessoas nos outros países sabem e adoram-nos por isso. Devido à ausência de consciência de classe nos E.U.A. existem pessoas que ficam intrigadas com o nome e questionam o seu significado. Mas nós temos uma história. Billy Murray – sim, o Bill Murray – uma vez cantou A Internacional à Delila e depois sacou de uma nota de 50$ do bolso e deu-lhe. Ele disse “Isto é para o teu baixo novo, é todo o dinheiro que tenho comigo.” O Edgey diz que o devia de ter seguido até ao ATM.
MDX – Quem são as vossas maiores influências, e aqui não falo de músicos. Li que o anarquista Bob Black teve determinada importância na escolha do nome da banda, mas creio que também são influenciados por outros escritores e pensadores, querem falar um pouco disso e do vosso activismo?
The Last Internationale – O Edgey ouviu a expressão quando convidou o Bob Black para uma conferência na universidade que frequantava. Somos muito influenciados por uma série de escritores anarquistas tais como Bakunin, Peter Kropotkin, Noam Chomsky, etc, mas lemos um pouco de tudo; Howard Zinn, Nietzche, Che Guevara, José Saramago, Gabriel Garcia Marquez, Eduardo Galeano, Paulo Freire, Paulo Coelho, Karl Marx, Jeremy Scahill e milhares de outros escritores.
MDX – Actualmente, como activistas, o que vos preocupa mais?
The Last Internationale – Emma Goldman disse que o elemento mais violento da sociedade é a ignorância, e nós concordamos.
MDX – Se olharmos para trás, no inicio deste século por exemplo, alguma vez imaginaram o que a internet se iria tornar, ou o impacto que viria a ter em tantos sectores da nossa sociedade, desde a liberdade de expressão à proliferação de noticias falsas e manipulação da opinião publica? Em Portugal a internet era sobretudo utilizada como meio de comunicação entre pessoas com os mesmos interesses e era muito utilizada também muito utilizada para partilhar música e filmes. De repente parece que quanto maior é a quantidade de informação ao nosso dispôr, menos críticos somos. Poderiam partilhar o que pensam sobre esta evolução?
The Last Internationale – Éramos apenas miúdos nessa altura. Não tínhamos capacidade mental nem pensávamos sobre nada disso e não queríamos saber de nada realmente.
MDX – E quanto ao impacto da internet na industria musical?
The Last Internationale – Acreditamos que este é o melhor momento para se ser um artista independente. É mais fácil colocares a tua musica lá fora e chegar a gente de todo o mundo. Já não precisamos de depender de editoras para distribuir a nossa musica. O reverso da medalha é que se torna muito mais confuso e isso faz com que seja mais difícil uma banda destacar-se.
MDX – Quando no auge da crise económica em Portugal cantaram “Grândola Vila Morena” no NOS Alive, causaram uma forte uma forte impressão na audiência. Sabemos que tem em vós essa paixão de mudar o mundo, e sabemos que conhecem o significado da música para os portugueses. Costumam planear este tipo de surpresas para o vosso público?
The Last Internationale – Gostamos de ser o mais espontâneos possível. Claro que cantar noutra língua requer alguma preparação, mas gostamos sempre de preparar coisas especiais para o publico português, especialmente porque o Edgey é português. O pai dele foi militar e participou no 25 de Abril, por isso esta música também é muito especial para nós.
MDX – Há cinco ou seis anos disseram numa entrevista que o vosso maior sonho fazer uma tour com Robert Plant. Agora que esse sonho já se concretizou, qual é a próxima meta?
The Last Internationale – Agora é tempo de construir o nosso legado. Quando tivermos oitenta e tal anos queremos que as gerações mais jovens fiquem loucas por tocaram connosco, assim como nós ficamos com Robert Plant, The Who, Slash e muitos outros.
MDX – Portugal tem sido o vosso refúgio desde há algum tempo a esta parte, Porto e Arcos de Valdevez principalmente. Como encaram a cena musical portuguesa? Identificam-se com ela?
The Last Internationale – Os músicos portugueses estão sempre entusiasmados por tocar. Nos E.U.A. parece que são um pouco menos entusiastas, daí que seja tão refrescante tocar com bandas portuguesas. Queremos tocar no maior número de cidades e conhecer o máximo de pessoas possível. Temos uma grande paixão por Portugal.
MDX – Soul on Fire foi lançado há alguns dias como single do novo álbum. Qual é a data de saída do álbum?
The Last Internationale – Em formato digital já saiu, em formato físico vai sair no dia 8 de Fevereiro. Mal podemos esperar para que toda a gente o oiça.
MDX – Num determinado ponto do vosso caminho cruzaram-se com Tom Morello e Brad Wilk o que de certeza deu um grande impulso ao que tentavam fazer. Mais tarde Joey Castillo tornou-se o vosso baterista, no entanto os The Last Internationale são na sua génese o Edgey e na Delila. Como gerem esta dinâmica?
The Last Internationale – Na verdade tem sido algo que nos tem consumido bastante tempo, esta “situação do baterista”. O Joey tem uma agenda muito cheia e por isso é difícil coordenar datas. A dada altura estávamos a aceitar candidaturas e vimos centenas de candidaturas, mas fizemos o que era necessário para encontrar a malta com mais groove que anda por aí.
MDX – O que é estão a ouvir actualmente e qual foi a banda que mais vos surpreendeu recentemente?
The Last Internationale – Ouvimos imensa música antiga. A nossa última descoberta é uma banda dos anos 60 que se chama Black Merda. O Tom Morello lançou recentemente um álbum a solo, e temos ouvido muito a nova música do Gary Clark Jr. e também Run The Jewelz.
MDX – O que é que o público pode esperar desta tour por Portugal?
The Last Internationale – Vai ser a tour mais rock n’roll de sempre, e isso garantimos a 100%.
MDX – Algumas palavras para os fãs?
The Last Internationale – Venham aos nossos concertos, encontrem-nos no final e vamos beber uma Sagres ou uma Super Bock (há alguma diferença?).