No mês passado, em prol do (excelente) concerto de Steven Wilson, falou-se de como tem vindo a ser escrito que ‘o rock está morto’. Esta premissa, claro exagero do mundo jornalístico, fundamenta-se a partir da popularidade que os registos de música pop, de dança e, mais recentemente, o hip-hop tem vindo a alcançar, remetendo o rock para a dita ‘rua da amargura’.
Perante o atual cenário sem conteúdo e superficial que a industria musical atravessa, o rock ‘n’ roll, ao contrário de seguir estas tendências, recuou no passado para voltar a ser o que fora no passado: música de revolução, de intervenção. E nessa frente, uma das bandas que mais cartadas tem distribuído são os The Last Internationale.
O público português está bem familiarizado com a dupla de Edgey Pires e Delila Paz, ou não fossem os The Last Internationale presença regular pelos cartazes dos nossos festivais, como NOS Alive, Vodafone Paredes de Coura e até mesmo na Festa do Avante! 2015.
Em jeito de promoção ao mais recente disco da banda, Soul on Fire, os norte-americanos lançaram-se por uma extensa tournée por palcos portugueses, do norte ao sul do país. Face à capital, foi num composto MusicBox onde a guitarra se fez de arma.
Os The Last Internationale não são de cerimónias no que ao ‘partir a casa toda’ diz respeito, começando a noite de forma explosiva e alucinante, sem vagar para o aprumo e o decoro. Arrancando ao som de “Killing Fields” e “Life, Liberty, and the Pursuit of Indian Blood”, ambas resgatadas do primeiro disco, foi meio caminho andado para que Pires e Paz conquistassem o público, com este a estar mais do que apto a figurar a revolução da dupla.
“Tempest Blues” foi o primeiro vislumbre de Soul on Fire que se fez ouvir pela sala, disco que ficou prometido, isto no NOS Alive, voltar a fazer-se por ouvir em Lisboa. O mediático festival de Algés não foi esquecido por Delila Paz, com esta a confessar, que apesar de gostar do evento, prefere “estar junto de vocês e não com um enorme fosso a separar-nos”.
O ambiente mais intimista proporcionado pelas dimensões de uma sala como o MusicBox fariam mesmo com que a relação banda/público fosse bem maior, como demonstrado no coro em uníssono de “Wanted Man”, com os The Last Internationale a nem precisarem de convidar o público para tal.
Todavia, o intimismo do MusicBox naquela noite só atingiria os seus níveis máximos através de duas baladas, “Stay” e “Running for a Dream”, tocadas somente a piano por uma abandonada Delila Paz em palco. A mudança drástica de um constante serão alucinante para instâncias de emoção foi sem dúvida uma surpresa, chegando até a tecer sensações de descontexto. Todavia, tal registo só demonstra a versatilidade dos The Last Internationale e, verdade seja dita, primou pelo momento bonito que se gerou.
Para acabar em grande, “1968” foi a cereja no topo do bolo, com Edgey Pires a soltar-se em vibrantes solos de guitarra capazes de prender todas as atenções em si e na sua fiel Les Paul. Já nos períodos de compensação do encore, fez-se ouvir uma versão de “This Train” (Bruce Springsteen), o que só veio cimentar a ideia de que os The Last Internationale são cada vez mais um caso sério a ter em conta.