Um bom preço é tudo o que sempre esperamos. No entanto, por vezes, torna-se difícil conjugar um bom preço com uma boa qualidade. Os The Lazy Faithful têm vindo a sofrer transformações ao longo da sua existência e, neste novo disco, oferecem o fruto do caminho da maturação com caminhos mais ténues e melódicos numa essência pop que custa (a quem os conhece) a entrar para se manter em loop nas nossas cabeças.
Nice Price é o terceiro longa duração da banda nortenha de Tommy Hogg (voz, guitarra e teclas), João Ramos (guitarra e voz), Miguel Pinto (baixo) e Zandré (bateria) e viu a luz do dia no passado dia 21 de Fevereiro com o selo da pontiaq.
Depois de um Bring Of a Good Time de 2017 com genica e alguma sujidade, Nice Price apresenta-se como um trabalho polido, sem arestas nem poeira. Um álbum mais maduro e respirável onde a cautela e os passos sábios revelam a vontade de chegar mais longe sem, no entanto, perder a essência rock. Neste disco, o rock mantém-se de base mas é a pop que se eleva e se vinca mais. O formato canção está mais redondo trazendo um sabor a verão camuflado de sonho adolescente. Nice Price é, acima de tudo, um álbum bonito na sua essência. Com variações de humor, mas sempre a caminhar na mesma linha de sentidos e sonhos.
São 9 as canções que compõem este terceiro longa duração e é pelas 9 que passamos de crianças a adolescentes e adolescentes a adultos numa mágica poção de ingredientes que nos fazem despertar memórias e nostalgias. “Wide” dá o mote de partida logo com uns riffs a cheirar a Stones deixando-os logo com algum formigueiro curioso para o resto do álbum. O ritmo aumenta ligeiramente com “Bring Me More Life” dando mais relevância ao baixo e com um coro de vozes que nos remete de imediato para a parte de trás do carro dos nossos pais numa qualquer viagem longa que fizemos há dezenas de anos. “When In Doubt” é a faixa mais pequena do álbum e a mais seca e directa com as cordas a gritar alto. “By Mike Oldfield” não tem voz mas carrega um ritmo ligeiramente mais underground onde o baixo impera. De seguida, talvez, a música mais pop do disco inteiro. Com uma intro de teclas e um ritmo lento, “Warning Signs” está feita para entrar facilmente na mente das pessoas, traz consigo uma chamada de atenção para o interior de cada um de nós e, ao mesmo tempo, contrapõe a imagem fria da Serra da Estrela com o “xalala” quente e reconfortante.
“Itch”, uma das faixas mais surpreendentes deste disco, é construída em dois momentos distintos. Num acorda-nos de uma certa dormência remetendo ligeiramente para distorções de anos 70 e, em simultâneo, uma banda sonora de uma espécie de remake de “Top Gun” e no outro dá-nos uma chapada com a voz de Manel Cruz a declamar um poema que tem tanto de belo como de demolidor. Depois, a segunda e última instrumental, que nos dá empurrões com os jogos de cordas viciantes – “Paco Toby and Blackie”. “Make Believe” cheira mais a funk com um manto de cordas lentas e uma melodia apaziguante para terminar com a mesma linha ténue e coerente que acompanhou este longa duração. “My Point Of View” termina de forma explosiva, mais corpulenta e ritmada obrigando-nos a visualizar um caminho de terra em direcção ao sol com pranchas de surf e skates debaixo dos braços.
Nice Price foi apresentado na passada sexta-feira, dia 1 de Março, no Hard Club, no Porto com a participação de Manel Cruz e primeira parte a cargo dos Flying Cages; e, no Sábado, dia 2, no MusicBox em Lisboa com a primeira parte a cargo dos Basset Hounds.
Mais datas vêm a caminho. Na próxima 6ªfeira dia 8 de Março tocam no All Guimarães e, dia 9, no Avenida-Café, em Aveiro. Enquanto esperam, podem ir ouvindo o disco aqui.
Fotografia (capa) – Anita Gonçalves