Ambicioso. À primeira vista, é este o primeiro adjetivo que nos passa pela cabeça para descrever o mais recente projeto dos First Breath After Coma. Dizemos projeto e não disco, ou álbum, pois NU transcende essa nomenclatura: é uma assombrosa viagem pela genialidade e pelo íntimo do grupo de Leiria.
NU é uma película que não precisa de narrador nem de diálogos para que haja a transmissão de mensagens ou de emoções. NU é uma banda sonora que consegue retratar histórias e imagens, culminando numa experiência nunca antes vista. Acima de tudo, NU é a obra-prima de uma banda que sempre foi talhada para grandes feitos, e que mesmo assim, conseguiu superar-se.
Nos primórdios, os First Breath After Coma eram vistos como alguém cuja génese do post-rock estava bem entranhada nas suas células, ou não partilhassem o seu nome com o tema dos Explosions in The Sky. Drifter, segundo disco de originais, veio chutar para canto essas comparações. Agora, em NU, o esférico abandonou o estádio dessa sonoridade por completo. E isto não é mau, muito pelo contrário: os First Breath After Coma tornaram-se únicos, livres de qualquer comparação e, consequentemente, livres de arriscar e de se exporem.
Essa dita exposição leva a que NU seja o trabalho mais sombrio e honesto da banda até hoje, onde se sente a sua verdadeira essência, fruto de um crescimento que se foi vendo ao longo dos anos. Aliás, NU não seria atingível se The Misadventures of Anthony Knivet e Drifer não tivessem existido; é graças à existência dos seus antecessores, numa quase cruel chamada de ‘tentativa-e-erro’, que NU acaba por surpreender, por ir completamente contra a corrente do que seria expectável, de dar ao público aquilo que ele queria.
No final do dia, o próprio nome deste projeto, NU, acaba por retratar na perfeição aquilo que este trabalho representa na carreira do grupo de Leiria: os First Breath After Coma na sua faceta mais nua, crua e pura.
No decorrer desta epopeia que será recordada por anos afins, há oito cenários, oito temas recriados em carne e osso no ecrã, oito instâncias onde se entra pelo fascinante mundo dos First Breath After Coma, oito ocasiões onde imagem e som complementam-se ao ponto de criarem quarenta minutos de cortar a respiração.
Há uma sensação palpável a ‘humanidade’ em NU, àquilo que é ser um, àqueles que são comportamentos expectáveis do ser humano, com “Change” a representá-los de forma sublime. Curiosamente, a obsessão do ser humano em alcançar a perfeição também se encontra por NU, com alguns temas a não conseguirem estar a par com ambição que paira sobre quase todo este trabalho de First Breath After Coma, como é o caso de “Howling for a Chance”.
Outrora, Fernando Pessoa, pelas palavras de Bernardo Soares, defendia que o ser humano adorava a perfeição “porque não a podemos ter, repugná-la-íamos se a tivéssemos. O perfeito é o desumano porque o humano é imperfeito”. Nesse aspecto, os First Breath After Coma só fizeram algo de imperfeito por serem humanos. E essa dita humanidade nunca lhes assentou tão bem.
A apresentação oficial de “NU” acontecerá amanhã no Time Out Market em Lisboa, e o Música em DX não poderia faltar.
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