Três residências. Três compositores. Peças manualmente rendilhadas, com um sentido crescente de sonoridade numa especulação de Vida. Três formas de vida espelhadas na evolução da humanidade, como se os próprios músicos fossem o resultado de um processo doloroso dos antagonismos. “Mundo”, com todas as “possibilidades do real” num desbravar do caos e do equilíbrio. Uma força roubada ao interstício da natureza, projectada numa bateria no centro do universo. Os Black Bombaim, orquestraram hora e meia um turbilhão energético numa linha evolutiva ímpar. O trio de Barcelos, que há muito se posiciona num rock psicadélico sem paralelo lançaram o seu último álbum em 2016, “Black Bombaim & Peter Brotzman”.
No sábado passado trouxeram ao aquário da ZDB o seu último trabalho de originais que já se encontra disponível em formato digital. Num momento sem precedentes, rebentaram os limites do razoável dos decibéis e, numa projecção física extenuante, fizeram vibrar todas as vísceras do público que fechou os olhos e embarcou na viagem psicadélica de “Black Bombaim w/ Jonathan Saldanha, Luís Fernandes & Pedro Augusto”.
Duas pausas muito breves que não conseguiram que desprendêssemos os pés do chão, Tojo Rodrigues (baixo), Paulo Gonçalves (bateria) e Ricardo Saldanha (guitarra) redimiram-nos à evidência de que a música pode projectar imaginários complexos e infindáveis. Ritmos minimalistas encorpados num psicadelismo desconcertante, que facilmente nos projectavam do centro da terra para ultima linha da estratosfera. A guitarra gritava até o baixo lhe dar alguma tranquilidade, mas a bateria maestrina subia o compasso e dominava os acordes electrizantes. Os músicos deixaram o palco ainda durante as palmas, mas os instrumentos continuaram intensos nos nossos ouvidos o resto da noite.
Um registo único onde os músicos experimentalistas por excelência, Jonathan (HHY & The Macumbas), Pedro (Ghura X) e Luís Fernandes (Peixe:Avião) foram desafiados a desconstruir com ousadia a normalidade dos processos de composição. O resultado das residências, que fizeram parte integrante desta desconstrução culminaram neste álbum, editado pela Lovers & Lollypos, e num documentário (argumento de Manuel Neto e realização de Miguel Figueiras) que se espera para breve.