Saudade é a palavra mais forte que a língua portuguesa tem e é, também, um despertar de um sentimento que anda de mão dada com o passado. Neste passado domingo senti que saudade daquele momento inexplicável onde só os TOY me conseguem colocar, era ínfima.
Apesar de o Estúdio Time Out não ser a melhor sala de Lisboa em vários aspectos, no passado dia 17 de Março, recebeu os britânicos TOY. Depois de pouco mais de dois anos de espera, estes frios rapazes vieram relembrar-nos o quão bons são em cima de um palco!
Com a instrospecção e distância que os caracteriza entram em palco para nos fazer aquilo que poucos sabem. De disco para disco, de ano para ano, de concerto para concerto, conseguem manter o saber e a vontade de nos quererem entregar o Mundo. Happy In The Hallow, sucessor de Clear Shot, carrega consigo um peso mais denso e compacto e mantém o desejo pelo transcendente. Nove das onze músicas do recente álbum foram apresentadas começando por nos dar mini facadinhas que causam comichão e, ao mesmo tempo, nos abrem um horizonte sem chão nem limites, fazendo-nos saltar sem pensar. Pensar não! Num concerto de TOY nunca se pensa, só se sente e, de preferência, de olhos fechados. “Mistake a Stranger” trouxe apertos e sentimentos de suspense e coração apertado transitando para “Fall Out Of Love” em crescendo, com uma intensidade cada vez maior (intensidade que nunca pensamos poder ser superada) ao ponto de nos faltar o ar e atingirmos um estado de quase nirvana ou até dormência física. A mistura entre o shoegaze, o krautrock, um ligeiro post-rock, uma brisa de indie e um manto de psicadelismo meio escondido abre-nos uma estrada que nos suga magneticamente e nos deixa no desconforto da solidão apetecida. O fumo que enche o palco desfoca-os a eles e nós numa nuvem de perfeita intensidade devastadora. Há qualquer coisa no timbre das vozes de Tom e de Maxim que arrepia e ao mesmo tempo cria ansiedade fazendo-nos sentir, em cada momento, que somos servos da sua música. A dualidade e variedade de sensações e sentimentos extremos é tão grande que se cria um desconforto tal em nós que nos faz quase encolher e desaparecer de tão grande e poderosa que é a mão instrumental que nos agarra e aperta. “Join The Dots”, já quase na recta final do concerto da-nos choques eléctricos com os sintetizadores e cordas onde quase sentimos com as mãos as ondas sonoras que saem pela coluna e nos invadem o corpo. As bolsas de distorção existentes ao longo das faixas são desconfortáveis e maravilhosas no sentido de gostarmos da inquietação e aceleração com que o coração se depara. “Energy” encerra o concerto com Max a sair dos sintetizadores, a pegar na guitarra e a pulverizar-nos com umas últimas gotas de loucura. Quase que não dá para falar, agir, pensar!
Felizmente, o regresso ao palco fez-se com “Left Myself Behind”, que nos abanou por mais 8 minutos e nos fez desejar ficar ali, em loop, com eles e com aquele instrumental tão sabia e emocionalmente construído.
O concerto soube pela vida e por tudo mais! Sendo, novamente, um rasgo no tempo onde o transcendente é alcançado e sentido com todo o nosso ser. A entrega é completa e estes 5 rapazes ficam sempre com um pouco de nós, o que é mais que merecido pois antes de nos desfragmentarem em pedaços de prazer dão-nos o mundo que nós quisermos, como se estivéssemos sempre a acordar de um sonho.
Até já meus queridos TOY, é sempre um regalo ir brincar convosco.