Os The Zeros são uma banda de punk-rock norte-americana, da cidade Chula Vista (San Diego, Califórnia), onde a maioria dos residentes são oriundos do México. Surgiram em 1976 e no ano seguinte gravaram o seu primeiro single, “Wimp b/p Don´t push me around” (pela Bomp! Records). Os “Ramones mexicanos” como foram apelidados, logo correram os palcos das mais emblemáticas salas de Los Angeles, como o Orpheum Theater ou o Whisky a Go Go.
Javier Escovedo, a alma da banda, é o único elemento que se mantem desde a sua fundação e que eterniza a voz arrastada e os riffs de guitarra dos The Zeros. A década de glória na edição dos longa-duração foram os anos 1990, onde saíram os quatro álbuns que constam na sua discografia. Sem nunca se terem afastado muito tempo dos palcos, os singles foram sendo editados mais ou menos desfasados no tempo, para que os fãs não se esquecessem do seu poder no rock’n roll. Em 2012, estiveram representados na coletânea Best of American Punk Rock editada pela inglesa Domino Records e, avivaram a memória dos que já se tinham esquecido da banda que abriu concertos na Califórnia, dos The Clash e dos Divo.
No mesmo ano de 2012, Javier Escovedo gravou o seu primeiro álbum a solo, “City lights”, afirmando que continuava a ser um magnífico song righter, guitarrista e vocalista. A verdade é que Javier Escovedo continua a dominar a guitarra e dar voz aos The Zeros com um glamour new wave irrepreensível.
Os norte-americanos começaram a tour europeia na cidade de Paris no final do mês passado, e em Março têm dado concertos quase diariamente! Portugal teve a sorte de os ter por cá na passada semana no Sabotage Club em Lisboa. Uma 5ª feira morna apesar do fresco das noites de primavera, onde o trio de cabelos negros mostrou que os anos passam e aprimoram as guitarras. o músico Victor Penalosa que substituiu o seu irmão Hector Penalosa no baixo e deu a segunda voz aos The Zeros e, na bateria, Baba Chanelle que fez as marcações e deu o litro numa cumplicidade com Javier quase intimista.
Os singles passaram quase todos pela sala do Cais Sodré e Victor Penalosa fez questão dos anunciar, muitas vezes em diálogo com Javier. Indumentária a rigor, com figurinos de rock n’roll band de1980 (a realçar o cinto do baixista onde se lia “Elvis”!), os The Zeros malharam os hits e deram tudo. “Don´t push me around”, “Wild Weekend”, “I Don’t Wanna” ou “Pushin’ Too Hard”, foram temas que seguiram limpinhos quase a fazerem suster a respiração. A maioria destas canções são composições com mais de duas décadas, mas a diversidade rítmica poderia ser de hoje, com registos mais do punk e outros a puxar mais new wave, com acordes de surf music ou com o swag rockabilly. Os The Zeros são tudo isto e muito mais, uns verdadeiros estilosos do rock! Sem demoras “ Yo no quiero” soltou-se na voz ligeiramente aguda de Victor, e por cima, num tom mais grave, entrou a de Javier. “Spotlight” foi apresentado como o tema mais recente da banda e no meio de entradas e saídas dos riffs, Escovedo beijou aquela que é certamente a mais fiel companheira da sua (já) longa vida, a guitarra.
Um encore de blazer despido, realçando a camisa meio folheada de Javier Escovedo bem como as gotas de suor que abundavam por debaixo da franja negra. E mais um pare de canções rasgadas, a teimarem o ritmo orgânico, mergulhadas na cumplicidade dos anos de palco e nas muitas estórias bem vividas por todos. Uma noite que muito provavelmente não se repetirá.