Já contam com uns invejáveis dezassete anos de carreira e uns quantos êxitos que tiveram entrada directa para o cancioneiro da melhor música portuguesa que se faz recentemente.
Desligado, o novo trabalho do Mundo Cão, veio pôr fim a uma longa ausência de palcos e de discos, mas o mais recente longa-duração da banda satisfaz em todos os sentidos, acolhido de forma unânime pela crítica e pelo público. Este último manifestou-se em peso na passada noite do dia 28 de Março, ocasião em que Desligado foi apresentado no Lux.
Mais do que a apresentação de um novo álbum, a última quinta-feira foi essencialmente a consagração de toda a carreira dos Mundo Cão, contando-se com um alinhamento especial que não se fez de cerimónias em rodar um pouco por toda a bagagem de Pedro Laginha, Miguel Pedro, Vasco Vaz, Frederico Cristiano e Canoche.
Foi com “Vamos Ver os Pavões a Voar” e “Cidade Lupanar” que a noite teve o seu arranque, com o relógio a passar um pouco das 23h. Chega a ser quase irónico como um espaço noturno como o Lux, sempre associado a diversão e festança, conseguiu ficar imerso na penumbra dos Mundo Cão, com os únicos vestígios de luz a serem os rasgões das luzes LED que caracterizam o piso subterrâneo do Lux.
Quis-nos parecer que a escolha da sala se deveu, em certa forma, à adjacente ‘celebração’ que existe em ambientes noturnos, seja celebrar um aniversário, celebrar a amizade ou celebrar a vida. No Lux, acabaria por se celebrar a existência dos Mundo Cão, e para o feito, contou-se com a presença daqueles que a tornaram possível; amigos, familiares e até mesmo produtores não quiseram faltar à festa dos Mundo Cão.
O ambiente familiar que se vivia pelo Lux, assim como a sua descontração associada, levaria a que Pedro Laginha abordasse o público por diversas vezes, sempre com um sorriso genuíno nos lábios, como das vezes em que gracejou com os nomes particularmente longos de alguns temas de Desligado – “As Mulheres que Muito Amamos sem Regresso nem Lamento”, “É Sempre Essa Treta do Amor Eterno Que me Lixa” e “Acerca da Cadelita Ferida e Torta a Resvalar Para o Lado do Coração” foram, curiosamente, todas tocadas se seguida.
Apesar de os novos temas de Desligado terem sido acolhidos de braços abertos, as grandes vedetas da noite seriam os êxitos de sempre, como “Caixão da Razão”, “Morfina”, “Anos de Bailado e Natação” e a sempre eletrizante “Ordena Que Te Ame”, ordem esta que não precisa de comandada: há muito tempo que o rock português se perdeu de amores pelos Mundo Cão. E este concerto, apenas veio justificar o porquê.