Rubel Brisolla, o cantor e compositor brasileiro está em Portugal para uma digressão de 11 concertos. Em Lisboa esteve no MIL no final de Março e regressou na passada 5ª feira à sala do Capitólio com casa cheia. Rubel é a nova revelação da música popular brasileira, e o seu segundo álbum “Casas” (2018) valeu-lhe uma nomeação para o Grammy Latino na categoria “Melhor Álbum de Rock ou música Alternativa em Língua Portuguesa”. Com um ar franzino, jeito desajeitado e voz meio desafinada, regressa agora depois de se ter estreado no verão passado com quatro concertos, dois deles no Musicbox em Lisboa.
Rubel estudou cinema nos Estados Unidos (Austin, Texas), mas não fora a 7ª arte que o prendeu ao mundo profissional. Durante o tempo que se dedicou aos estudos de argumentista, escreveu e compôs meia dúzia de canções que editou num álbum em 2013, “Pearl”, “só para registar o momento de vida que tive”. Ficou conhecido por trabalhar vários estilos musicais e misturar ritmos como o MBP, o Hip-Pop e claro, o samba carioca, não fosse o jovem músico um carioca nativo.
Em 2015 com o lançamento do videoclipe de “Quando Bate Aquela Saudade”, e com os milhares de visualizações dentro e fora do Brasil, redimiu-se às evidências e lançou-se profissionalmente na música. E foram as estórias da sua adolescência e da sua juventude (27 aninhos!) que Rubel partilhou. Ao contrário do que assistimos em Agosto, em que o músico se fez acompanhar com o seu violão tornando a actuação muito mais intimista, desta vez Rubel trouxe consigo um aparato de músicos . Este espetáculo tem quase tudo, muitas cordas (guitarra, violoncelo, baixo, banjo), muitos sopros (saxofone, trombone e trompete), percussão, teclas e aquele que é muitas vezes a base dos seus temas, o acordeão. O próprio confessou que nunca imaginou que conseguisse atravessar o oceano em digressão com tantos “amigos”.
Um perfil magro e desengonçado que escondia uma timidez num Cap vermelho e numas meias confortáveis. Uma luz ténue pendurada sob o rosto, que de vez em quando acendia para iluminar as cordas do violão. No final do primeiro tema, “Colégio”, contou a estória dessa música com o humor que o caracteriza. Momentos marcantes da adolescência, em que um primeiro beijo mal dado o fez voltar a ser o patinho feio e caísse por terra o “príncipe encantado” de Erica (“a miúda mais gira da escola!”).
Uma carta de “boas-vindas ao mundo” que escreveu ao sobrinho recém-nascido, onde a esperança e os sonhos ganharam forma e substancia, “BEN”. As canções de Rubel são isso mesmo, a inocência da infância do “medo do escuro”, os primeiros namoros que terminam e voltam a “namorar”. O pedido de proteção a S. Jorge, para que a nova geração de músicos brasileiros consiga manter a qualidade da herança que lhes foi deixada (saravá!).
Como um bom maestro que admira e estimula a sua orquestra, também Rubel apresentou mais do que uma vez os seus músicos com orgulho, e fez questão de dizer que eram os seus “amigos”. Umas quantas rondas de brevíssimos solos pelos instrumentos de sopro e pelo violoncelo, que marcou presença durante praticamente todo o alinhamento.
Já quase a chegar ao final e muito provavelmente o momento da noite, “a música que é a responsável de estar na música e não no cinema”, o apaixonante tema “Quando Bate Aquela Saudade”. Uma roupagem diferente, onde as estrofes saíram mais prolongadas e espaçadas enganando o público que gritou a bons pulmões no refrão, “Eu te amo”. Para a despedida, “uma cantada esperançosa de amar” uma e outra vez, com o tema “Partilhar” (“a vida boa com você”). Nesta música quis recriar uma igreja gospel e pediu ao público que o ajudasse com as palmas. O abraço conjunto da banda, onde apareceu também um bebé ao colo de um dos músicos, com o pormenor delicioso de ter uns pequenos headphones cor-de-rosa (uma menina?) na cabeça.
No encore Rubel regressou ao palco sozinho, novamente com o seu Cap (que retirara no inicio do concerto) e com os “vestígios dos quadros que eu vi”. A luz ao seu lado acendeu temporariamente e os músicos, um a um, juntaram-se ao seu violão dando corpo à música transformando-a quase numa ária. Agradeceu ao público e saiu do palco enquanto os músicos ainda tocavam. Um a um os músicos foram saindo, até que por último ficou o acordeão e por isso levou uma ovação a dobrar. A chuva amainou pouco tempo depois.