Com o passar dos últimos anos, muitos têm sido os projetos emergentes que têm surgido na nova música portuguesa. Nesta atual era digital, a descoberta de novos artistas está à simples distância de um click, e basta qualquer coisa como meia hora para que nos deliciemos com os entusiasmantes projectos que existem no nosso país; nunca o cancioneiro português esteve tão rico e diverso.
Nesta onda de variedade e novas promessas, o MusicBox apresentou, na semana passada, um serão destinado a mostrar alguns desses projetos: CAIO, SEASE e Meses Sóbrio.
Dado o líquido amniótico que ainda corre nas veias destes petizes, a sala encheu-se de amigos, família, conhecidos e uns quantos curiosos, motivo mais do que suficiente para proporcionar um ambiente intimista pela sala de concertos da infame rua ‘cor-de-rosa’.
Apesar de os ingressos publicitarem a apresentação do novo EP de CAIO como o prato principal da noite, a verdade é que as entradas foram igualmente saciantes. Comecemos com a primeira: Meses Sóbrio.
São 3: Manuel Perdigão (guitarra, teclado), João Fernandes (bateria) e Miguel Rosa (voz, guitarra e teclado). Munidos de influências do passado, como The Doors e Pink Floyd, e com sonoridades que relembram Tame Impala, este tripleto mostrou os temas do seu primeiro EP, de nome Folha, que rapidamente contagiaram o MusicBox.
Mesmo apresentando um registo que, nos últimos tempos, tem o seu quê de badalado, a irreverência dos Meses Sóbrios leva a que estes insiram o seu cunho pessoal e inovem a dita sonoridade, não só soando únicos como entusiasmantes ao mesmo tempo. Foi uma meia hora bem passada, sem dúvida.
Meses Sóbrio
Navegando por um registo bem diferente que os seus compatriotas, a synth pop dos SEASE tanto tem de irreverente como de doce. Atribui-se a culpa do primeiro a Miguel Laureano e o segundo a Rita Navarro, as caras desta eletrizante dupla oriunda de Oeiras.
Os SEASE não são propriamente novatos por estas andanças – já contam com um disco, The Way the Waves Hit the Beach, na bagagem. Como tal, a segurança com que Rita se pavoneia em palco torna-se contagiante, especialmente à primeira miragem do seu sorriso que transpira felicidade por todos os lados.
A felicidade dos SEASE nasce muito pelo vibrante synth pop que apresentam, despertando desde logo uma necessidade fulminante de bater o pé, ora seja na tentativa de controlar a sede de dança ou a de marcar o compasso pelos temas orquestrados por Miguel Laureano. Seja qual for o motivo, certamente que os SEASE não deixaram indiferente, especialmente à senhora da linha da frente que não tirou os olhos do palco durante todo o concerto (mãe da Rita?).
SEASE
Entradas mais do que degostadas, chegou a altura do prato principal: CAIO, o pseudónimo de João Santos.
Em noite de apresentação do seu mais recente EP, Retratos, João abraça uma nova fase na sua (ainda) curta, mas promissora jornada musical, apresentando-se em formato banda – aliás, a inclusão de músicos é uma das principais novidades do seu mais recentre trabalho.
Retratos é uma como um ponto de viragem para a carreira de CAIO. Se Desassossego e Viagem eram histórias contadas a dois, isto pelas palavras e guitarra de João, o mais recente EP é o consolidar dessas mesmas, uma expansão daquilo que temas como “Vinho” e “Benedita” outrora ameaçaram em Mundo Aberto.
A presença de músicos para se encarregarem de instrumentos dá uma certa segurança e mais liberdade a CAIO do que o músico alguma vez tivera, notando-se um claro à vontade. Esse revelou-se também numa certa cumplicidade, especialmente nos novos temas, como “Sombra” ou “Conto do Retorno”. Porém, os anteriores, não foram esquecidos, com nota especial para “Benedita”.
Todavia, e apesar da excelente companhia deste ‘novo’ tripleto de músicos’, a noite também iria contar com instâncias a solo para João, abrindo-se a porta para todo um serão emotivo e intimista, tal como “Mundo Incerto” e “Partida” assim o exigiam.
Em suma, esteve-se perante uma noite não só de celebração à música portuguesa como também ao reconhecimento de novos talentos, ficando no ar a promessa que estes três nomes tudo têm para chegar longe e vingar no atual panorama musical português.
Caio