Após a semana longa de trabalho, temos concerto dos Madrugada, com os A Jigsaw na primeira parte, para exorcizar demónios da mesma semana, que passou como todas as outras à velocidade normal, ou seja muito lenta à segunda-feira e com muito fulgor pela manhã de sexta.Todos os presentes que quase por completo encheram a sala deram aos noruegueses uma recepção ultra calorosa, adivinho terem madrugado, desculpem-me o trocadilho, e nem por isso faltaram então a esta celebração da carreira da banda de Sivert Høyem que agora pelos sinais dados em palco nesta noite, terá nova continuidade, e quem sabe novos caminhos sonoros a percorrer.
Para já celebram a sua própria nova existência enquanto colectivo físico, não se contentam portanto em ser uma chama apenas na memória colectiva das imensas pessoas que tocaram com a sua música por vezes (ou quase sempre) melancólica e de emoções intensas com acordes bonitos e arranjos minimalistas onde a melodia é sempre dominante na voz profunda e carismática de Høyem.
Com pontualidade britânica o colectivo nacional A Jigsaw tocou já para uma sala a metade, o que no caso do LAV significa muitas pessoas. Enquanto o número dessas pessoas aumentava significativamente à medida que os minutos passavam, verifico ao entrar na sala o som envolvente das duas vozes. João Rui munido de uma guitarra, sentado a debitar vocais profundas em modo grave (impressionante as notas “baixas” que este cantor português consegue atingir com o seu registo como se a sua voz tivesse nascido de muitos copos de aguardente sem perder a nitidez) e uma cantora que adivinho ser Tracy Vandal a entregar num bom contraponto as restantes linhas vocais, tudo muito bem acompanhado pelo violino de Maria Côrte e e pelas teclas de João Silva.
Os A Jigsaw são um colectivo que goza da reputação de dar bonitos concertos e já com caminho seguro trilhado no meio indie em Portugal. Foi hoje a primeira vez que assisti a um concerto deles e gostei. Penso que a música de A Jigsaw ganha uma nova dimensão em palco pois as canções são feitas cada uma para contar uma história à audiência, umas são boémias outras menos ligeiras mas sempre com um certo drama que me agrada. Embora pessoalmente eu também tenha madrugado, a ausência de percussão não foi um factor que me tenha chegado a desanimar. Foram quanto a mim uma escolha acertada para abrir para os Madrugada. O som transformou perfeitamente o ambiente que se quer novamente grave mas boémio. Embora as paredes frias do LAV não sejam um acolhedor teatro ou café concerto, transformaram o ambiente da sala com as sua canções que confesso não ser grande conhecedor, mas prometo uma revisitação pelo concerto que deram hoje e pelos anos de carreira que têm. Foi um caloroso concerto que deram com uma recepção calorosa do público.
Curta saída para vir cá fora fumar um cigarro. Passaram apenas uns minutos mas ouvimos já os acordes de “Vocal” dirigimos-mos novamente para o interior do LAV, por entre muitas camisolas azuis usadas por um grupo extenso de fans noruegueses dos Madrugada – a quem a cerveja Portuguesa cairá certamente com demasiada intensidade. Está instalado um clima de festa. São três canções a abrir. Depois de “Vocal”, as canções “Belladona” e “ Higher” instalaram um clima rock desejável. Com efeito, o extenso concerto que a seguir os Madrugada iriam apresentar para uma audiência completamente rendida intercalou perfeitamente os momento mais rock e sim porque este foi um concerto de rock na sua essência, com os momentos mais calmos como a bonita “Shine” que viria pouco depois, ou com as canções temperadas pelos acordes da guitarra acústica de Høyem como “This Old House”.
Momento perfeito para mim foi a interpretação de “Strange Colour Blue” com a cenografia ao fundo do palco e o uso da luz azul ao princípio depois substituída pela ausência de luz com o cantor a encadear a audiência com um foco de luz branca ao longo da canção dirigida pela sua voz e pelo baixo de Frode Jacobsen. Outro momento muito bom seria mais tarde, já perto do fim antes do encore a bonita “Quite Emotional”.
Após encerrarem o concerto com “Electric” voltam rapidamente para um extenso encore, com “Black Mambo” “Hands Up I Love You” a fantástica “Only When You´re Gone” “What´s On Your Mind” “Majesty” a quanto a mim dispensável “The Kids are on High Street” e acabaram com “Valley of Deception”. Logo de seguida os músicos todos juntos com o nome da banda projectado no backdrop do palco, despediram-se da audiência com um tema qualquer a ser tocado através do PA, ofuscando qualquer pedido de encore mas transformando esse momento também num perfeito momento de comunhão e despedida do seu público.
Cá fora depois entre amigos comentava-se o quanto foi mágico, emocional e em suma muito bom o concerto. Para uns e para outros. Que só faltou “Honey Bee” pois é, faltou com efeito essa canção, teria sido um best-of completo, assim fica aberta a porta para mais? Isso só ao futuro pertence. Para já está de parabéns a organização por trazer a Portugal uma banda que se encontra numa segunda vida, num reencontrar da sua música com os seus fans – e o público português teve, a oportunidade de estar em perfeita comunhão com estes músicos com um nível de carinho e felicidade raramente vistos.