Depois de nos terem brindado recentemente com Beach House, Kurt Vile e Marlon Williams, a promotora Ritmos deu novamente um tiro certeiro no que toca a concertos em nome próprio: Dead Can Dance.
Desde 2013 que a mítica banda australiana, chefiada por Lisa Gerrard e Brendan Perry, não subia a palcos. Porém, o lançamento do mais recente Dionysus (2018) levou ao regresso da vida de estrada, com Lisboa, mais propriamente a Aula Magna, a ser ponto turístico por duas noites – ambas esgotadas.
Enquanto a sala ainda de compunha, David Kuckhermann ficou encarregue de assegurar a primeira parte. Multi-instrumentista, o alemão premiou a Aula Magna com a percussão enfeitiçante de um handpan – tambor semelhante à carapaça de uma tartaruga. Pelo meio de mil e umas notas apaziguantes, Kuckhermann soltou o mote para uma noite que se adivinhava como mágica.
Nesta primeira noite dos Dead Can Dance pela Aula Magna, a expectativa para com o concerto era palpável por toda a sala: não só era o regresso da banda a Portugal passados seis anos, mas como também seria a celebração da vida e do trabalho dos Dead Can Dance, entre 1980 e 2019, ou pelo menos era assim divulgação.
E assim foi: duas horas de celebração a Dead Can Dance, um rejúbilo para qualquer fã da banda.
Dionysus, nono e mais recente disco de originais da banda, praticamente não teve direito a entrada pela Aula Magna – “Dance of the Bacchantes” foi a única exceção. Mas lá está: a noite era destinada a reminiscências do passado, uma noite de best of em que praticamente nenhum trabalho foi esquecido.
Para a ocasião, que contou com a indumentária de Lisa Gerrard e Brendan Perry a servir como polos um do outro – túnica branca para Gerrard e fato preto para Perry – a Aula Magna mergulhou por um oceano de ritmos encantadores e percussões hipnóticas, numa linha de beleza que poderia ser rasgada a qualquer momento por instâncias de sintetizadores, como sempre nos habituaram.
A sonoridade dos Dead Can Dance sempre viveu numa encruzilhada entre diferentes estilos, como o post-punk, dark wave ou o gothic rock. Esta ‘obessesão’ em restringir a música dos australianos a um único estilo leva a que não lhes seja dado o devido mérito: o que os Dead Can Dance fazem é e sempre será único.
Entre a ponte que une a antiguidade com a modernidade, o folclore dos Dead Can Dance é uma viagem intemporal por tempos que já lá vão, mas sempre com toques de coerência e equilíbrio para com o que se assina pelos dias de hoje. “Anywhere Out of This World”, “Mesmerism”, “In Power We Entrust the Love Advocated”, “Tha Carnival is Over” ou “Amnesia”; toda a história dos Dead Can Dance pela Aula Magna se fez de bonita, embora o momento acappella de Lisa Gerrard em “The Wind That Shakes the Barley” tenha, possivelmente, ganho o prémio para o momento mais bonito da noite.
Repescados para não um, mas dois encores, com “Song to The Siren” (Tim Buckley), “Cantara”, “The Promised Womb” e “Severance” repartidos de igual modo, a noite terminaria com uma merecida ovação de pé a todo este canto dos anjos, tanto em jeito de agradecimento por uma noite inesquecível como por uma carreira repleta de vitórias.