Musicbox. 22h30. É um ambiente acolhedor aquele que encontrámos com a indicação à porta de que o concerto deveria começar à hora certa, e antes mesmo de chegar ao balcão do bar, ía eu ainda no corredor da entrada, cruzo-me com Leonard Kaage, o guitarrista da banda. Banda que agora (pelo menos nos últimos anos) tem funcionado como tal, uma four piece band, e que neste disco mais recente de estúdio, Montage Images Of Lust & Fear gravou precisamente em regime mais live como uma «banda» fruto da química que faz um ano talvez, já senti quando os vi e ouvi também em Lisboa.
O concerto começou uns minutos depois da hora marcada com um som de certo modo «embrulhado», pelo menos foi o que me pareceu do local onde me encontrava junto ao balcão do bar, e foi essa a sensação que tive tornando deste modo o primeiro tema que parecia ser “Sins” do mais recente disco, quase irreconhecível.
Visualmente neste palco do Musicbox, a banda pareceu-me excelente, com todos eles aprumados, de visual cuidado, a tocarem energicamente e com uma enorme segurança, fruto da já longa tour pela Europa por onde já tocaram em salas de todas as dimensões quase todos os dias sem parar, todos eles com um certo ar cansado mas de extremo arrojo rock n´roll, com excepção de Olya Dyer que parece ser possivelmente a única que tentou manter o sono em dia. Craig Dyer está agora transformado numa figura de frontman carismático em palco, embora de comunicações tímidas com a audiência, que pela terceira canção já ocupava o espaço disponível no Musicbox, nunca deixou de agradecer respeitosamente os fortes aplausos da mesma. Max James ocupa o seu lugar mais à direita com sua presença imponente (o homem é alto, e passeia a sua guitarra baixo ora na direcção de todas as cabeças, rasando os músicos e a audiência, e, dêem-lhe espaço! a bem da saúde de todos), tocou notas certeiras em riffs descomplicados de guitarra baixo sempre a garantir o swing da música da banda.
“Morning Sun”, foi o primeiro clássico do set tocado, e não existiram muitos só os suficientes. “Hope & Pray”, com os acordes de sabor a Lou Reed foi outro desses clássicos, a mistura eclética de inspiração The Velvet Underground e o post punk com rockabilly a la The Cramps, dos The Underground Youth que faz com que não desiludam ao vivo. Deram até nesta quinta-feira um concerto mais acolhedor e atmosférico, e mais gentil na escolha das canções que o anterior embora quanto a mim, faltassem algumas canções. Não se pode andar a tocar sempre o mesmo, mas! onde estava “Rules Of Atraction”, no final da noite com a voz e riffs viciantes? – Em lado nenhum. Perfeito teria sido acabarem o concerto assim.
Mas já me estou a adiantar, já no início tínhamos ouvido “This is but a Dream”, com uma secção rítmica a fazer lembrar uns The Cure, por exemplo, da fase Pornography com vocais que não destoariam de um Lux Interior dark-wave, uma mistificação exagerada eu sei, mas não tenho melhor maneira de o descrever e ilustra bem o som ao vivo que é reproduzido em palco com as canções deste novo disco. Tudo isso intercalado com canções tais como “Morning Sun”, ou mais tarde o essencial “I Need You”. Pelo meio disso “Fill The Void”, com uma tarola em palco a ser metralhada por Leonard Kaage e a loucura sónica dos pedais de Craig Dyer a levarem a audiência ao rubro. Canções que até me passariam despercebidas noutros dias como “Half Poison Half God”, ganharam hoje nova pujança e teimam agora em ficar-me na cabeça.
Nesta altura estamos pelo final, penso que acabaram com “Death of The Author” do novo disco, com o vocalista a trazer o seu microfone para o centro da sala, no meio do público, a injectar doses de rebeldia e proximidade com a audiência, com o resto da banda “a partir tudo” em ritmos espásmicos que esta canção tem. Adivinho que este novo disco traga muitos e mais concertos a esta banda. Gosto bastante deles, parecem rotos e cansados mas cheios de energia, penso que até tremiam chegados a Lisboa. Tocaram quase todos os dias durante um mês e meio. E realmente, o novo disco é muito bom. Um trabalho bem conseguido que irá espero eu, trazer novos fiéis a esta banda que bem merece. Gosto dos The Underground Youth, podiam dar um concerto por ano por cá. Eu, no único encore que fizeram dessintonizei, tocaram um qualquer tema ao que parece para agradar a uma fan na primeira fila, assim um pouco em regime de improvisação, mais uma outra canção em que recuperaram o ritmo, e a minha cabeça já estava a pensar na hora de acordar no dia seguinte. Concertos de «quinta-feira» no entanto vividos com grande conforto. Sobre a «Depressão Miguel» anunciada, afinal não deprimiu ninguém. Estivemos todos a salvo no calor da boa música e rapidamente tudo acabou tão depressa como começou. Uma noite bem passada na companhia de uma boa banda que se espera não cesse de surpreender e que volte sempre aos palcos nacionais.