Houve tréguas entre São Pedro e o NOS Primavera Sound. Se no primeiro dia houve chuva e vento, este dia 7 ficou marcado por sol forte e céu limpo, o ambiente idealístico para nos perdemos de encantos pelo Parque da Cidade. Mas esta não foi apenas a grande diferença entre os dois dias: a afluência aumentou substancialmente, já não se sentindo o mesmo à vontade em circular pelo recinto.
Bem composto desde a sua abertura de portas, este segundo dia do festival contou com muitos festivaleiros a passear pelo recinto, caçar os típicos brindes que perdem a utilidade no caminho para casa e em sessões fotográficas de influencers que certamente vão sofrer com o frio quando o sol se puser. Sol, cervejas, bom tempo e concerto? Agora sim se pode dizer: cheira a festival de Verão.
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Este segundo dia arrancou com uma das tradições mais marcantes do festival: sobreposição de concertos. De um lado havia ProfJam, e na outra ponta tinha-se Surma. A tarefa de nos dividirmos em dois para assistir a ambos foi difícil, mas lá que nós arranjamos.
Era um palco Super Bock bem composto aquele com que nos deparamos à chegada para ProfJam, um dos mais promissores talentos nacionais a emergir no panorama musical português .
De seu nome Mário Cotrim, Prof une o melhor que o hip-hop português tem para oferecer com a nova tendência do trap. O resultado é um armamento de palavras cuspidas à velocidade de balas presas a beats que ficam no ouvido logo à primeira escuta.
Com uma mão cheia de êxitos, com destaque para “Mortalhas”, “Tou Bem”, “Malibu”, “À Vontade” e a terminal “Água de Côco”, o concerto de ProfJam fez-se em festa, com o público mais fiel a juntar-se em plenos pulmões às rimas do rapper. Perto do final, cantou-se os parabéns a Mário, que tinha celebrado o seu 28.º aniversário no dia anterior. Haveria melhor prenda de aniversário?
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Chegou-se tarde a Surma, já no final aliás, mas um rápido vislumbre ao genuíno e sentido sorriso de Débora Umbelino transmitia a imagem que a coisa tinha corrido bem. E ainda bem que assim foi, ou não houvesse uma artista portuguesa que merecesse tanto carinho como Surma.
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Novo palco, nova correria. Desta vez, o palco principal era o destino, e o motivo dava pelo nome de Aldous Harding, um dos mais empolgantes nomes a surgir no panorama folk.
Munida de um repertório interessante e de fácil apresso, o folk relaxante de Harding era a banda sonora ideal para todos aqueles que se deitavam pelo anfiteatro do Palco NOS a aproveitar um sol que viria a ser de pouca dura. De realçar que os sucessivos afinanços de guitarra iam provocando momentos com o seu quê de morto, puxando para baixo um concerto que tudo tinha para voar bem alto.
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Na continuação de um serão quase todo ele feminino, deparamo-nos com uma senhora que não tem qualquer dificuldade em demonstrar que o rock ainda é uma arma. Chama-se Courtney Barnett, tem 31 anos e é australiana. E quando a música fala mais alto, não é preciso saber mais nada.
De Fender Mustang, tingida de vermelho berrante, em punho e com a atitude irreverente que ao rock é exigida, Courtney Barnett não perde tempo em acertar em cheio no alvo de malhas certeiras que transbordam bom rock por todos os lados. Entre riffs chorudos e solos vibrantes, os quais despertam tímidos headbangings ou air guitars, a australiana frisa cedo que o rock’n’roll é leve e solto, não há regras ou barreiras e que a única constante é a de passar um bom momento. E neste último aspecto, Barnett passa com distinção.
Entre temas do estreante Sometimes I Sit and Think and Sometimes I Just Sit e do mais recente Tell Me How You Really Feel, ouviu-se um repertório bem equilibrado e em crescendo constante, terminando com a enérgica “Pedestrian at Best”. Sabe tão bem quando um concerto nos enche as medidas ainda no final da tarde, não sabe?
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Quando incluímos os Sons of Kemet no nosso roteiro do NOS Primavera Sound, já se sabia que estes britânicos tinham tudo para criar uma festa sem procedentes. Mesmo assim, não é que quando se viu a teoria posta em prática estes tipos conseguiram novamente surpreender-nos?
Eram 4 bateristas, um saxofone e uma trompete que alternava com uma tuba, disso já sabíamos. Também estávamos informados que aquilo que nos esperava era um jazz livre com influências africanas. Sabíamos isso tudo, sim, e mesmo assim, ficou-se de queixo caído ao ver-se as maravilhas que os Sons of Kemet produzem, sendo praticamente impossível não nos deixarmos contagiar por todos estes ritmos que só se consegue imaginar por aqueles que os vivem.
Com a afluência do Palco Pull and Bear a aumentar a cada instante, decorando-se de sorrisos pelo processo, os Sons of Kemet não só foram um dos pontos altos deste dia 7, como um de todo o festival. Ao relembrar-nos desta edição do NOS Primavera Sound, este será um dos concertos que tão cedo não nos sairá da memória.
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Num pólo completamente oposto do reggaeton de J Balvin que se vivia no Palco NOS, cuja confirmação tanta tinta fez correr, o Palco Seat viveu momentos guerrilheiros com o frenético punk dos Fucked Up.
Descargas de energia servidas numa bandeja de canções rápidas e eficientes fazem metade do trabalho dos Fucked Up. A outra metade vive na irreverência e o particular gosto em semear o gosto que é personificado em Damian Abraham, um monstro de palco que passa mais tempo junto às grades do que no próprio palco, para desespero da equipa de segurança.
Mosh foi uma constante no concerto dos canadianos do início ao fim. Apesar de não primar na afluência, ninguém que estava pelo Palco Seat arredou pé até ao final do concerto dos Fucked Up, que terminaria com o próprio Damian a saltar as grades para agradecer a todos aqueles que provocaram a barafunda fora do palco.
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Não se arrendando pé do Palco Seat, lá que se assegurou um bom lugar para receber uma das bandas mais esperadas do cartaz: o regresso dos Interpol.
A última passagem do trio americano em palcos portugueses tinha-se feito, pela última vez, neste mesmo festival, isto numa altura em que encabeçaram o primeiro dia do NOS Primavera Sound. Desta feita, coube à banda de Manhattan dar a música como terminado no Championship dos palcos do festival do Porto, algo que viria a mesma a jogar a favor dos próprios, ou não fossem as dimensões do Palco Seat mais propícias ao post punk dos Interpol.
Em ambiente de festival, uma das maiores dificuldades com que uma banda se deparara será sempre a entusiasmar um público que não faça a mínima ideia quem esteja por ali a tocar. Perante este cenário, a trupe de Paul Banks apostou em forte num alinhamento repleto de êxitos de uma triunfante carreira, com “C’mere”, “PDA”, “Say Hello to The Angels” e “Evil” a serem postas em jogo logo no início.
Visto que em equipa ganhadora não se mexe, Marauder, a nova estrela da equipa, acabaria por quase nem constar no boletim clínico da noite, onde apenas “The Rover” e “If You Really Love Nothing” deram um cheirinho de sua graça. E, tal como todas as restantes, estas duas novas inclusões no repertório de Interpol mantêm o toque meticuloso e de requinte que a banda tem em transpor as suas canções dos estúdios para os palcos.
Quando se joga com um sistema best of é praticamente certo que o jogo está ganho, algo que ficou bem explícito com o culminar em “Leif Erikson”, “Obstacle 1” e “Roland”. Porém, e mesmo com um impressionante jogo de luzes – bolas de espelhos incluídas – ficou no ar a sensação que os Interpol não ganharam com goleada. Mas pronto, o que importa são os três pontos.
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São por concertos como os de James Blake que dá gosto ir-se a festivais de Verão. O britânico não é uma escolha consensual no que toca a tê-lo em palcos ao grandes e ao ar livre, com os espaços fechados a serem mais propícios à sua melancolia. Mas é disto que se gosta em festivais de Verão: ser surpreendido.
Em breve síntese, James Blake chegou, encantou e triunfou. Todo o receio inicial de que o intimismo que lhe é adjacente se poderia perder no palco principal dissipou-se bem rápido logo ao som de “Assume Form”, “Life Round Here” e “Timeless”, três canções que não só demonstram o quão versáteis conseguem ser as canções do londrino, mas como também usa e abusa da componente electrónica para dar novas dimensões aos temas. Aposta ganha, confesse-se desde já.
Já aqui tinha sido antes que o mais recente disco de Blake, Assume Form, é o trabalho de mais fácil apreço e alcance na sua carreira, ou não fosse ele uma carta de amor a Jameela Jamil. Como tal, os nuances de melancolia do passado dão lugar a rasgões de experimentalismo e temas mais upbeat do que eram habituais. Não é então surpresa que praticamente todo o alinhamento tenha andado em prol deste quarta longa duração, onde nem os duetos “Where’s the Catch” (André 3000), “Barefoot In The Park” (Rosalía) e “Mile High” (Travis Scott) ficaram de fora.
Cantando sobre dores e sonhos, como em “Are You in Love?” e na sua versão de “Limit to Your Love” (Feist), ou assinando um serão de batidas electrónicas a puxar ao house em “Voyeur” e “CMYK”, James Blake apresentou o melhor de dois mundos: melancolia introspectiva e o ímpeto de dança made in Lux. Dois mundos diferentes que Blake funde num só, naquela que foi a melhor prestação num festival de Verão que já lhe ouvimos.
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Evento – NOS Primavera Sound’19
Promotor – Pic-nic Produções, S.A.