Quarta-Feira, e estes horários quase marciais do Musicbox caem bem a quem como eu, deseja o conforto da cama e ao mesmo tempo não quer perder a estreia neste formato do músico neozelandês por terras portuguesas. Jonathan Bree (para os mais distraídos), já por mais do que uma vez nos visitou integrado no projecto da sua companheira Chelsea Nikkel, conhecida por Princess Chelsea, produziu o disco Lil’ Golden Book que deu a conhecer a canção que se tornou num clássico, “The Cigarette Duet”, de cujo video se tornou viral e que de certa forma trouxe a banda até nós. Por essa altura, tive a oportunidade de privar com eles no Porto, num dia de imensa azáfama com o par menos fumador do rock’n’roll actual -, a personagem misteriosa de Jonathan Bree que hoje em dia é, não se fazia adivinhar, embora nessa altura me parecesse já dotado de uma certa urgência em se focar constantemente em todos os pormenores do concerto que iam dar, urgência própria de músicos ambiciosos que não têm medo de se reinventar.
Com efeito, e após nestes últimos tempos eu próprio ter sido seduzido pela inteligente e macia orquestração de “You´re So Cool”, com a voz em registo sedoso e crooner (uma das características das canções do seu terceiro disco a solo “Sleepwalking”), estava eu já preparado para um concerto curto, teatral e incisivo na demonstração dos poderes de Jonathan Bree enquanto personagem enigmática que veste spandex no rosto (fibra sintética à base de elastano e lycra, ora portanto, de elevada elasticidade), tal como todos os músicos que o acompanham (não são muitos) -, há duas bailarinas cantoras, uma delas toca baixo numa das canções, um baixista que arranha uma guitarra na mesma canção, e um baterista. O resto, bem, o resto, são as orquestrações pré-gravadas e é só Bree ser um personagem teatral, e tudo está no seu lugar.
Com tanto spandex, ainda me lembrei dos Kiss e daquelas pinturas faciais com que aparecia em todas as actuações… Será que o rock é uma profissão assim tão ingrata para se sobreviver? – Não basta meter laca no cabelo e eyeliner nos olhos como Robert Smith faz há anos, e deixar-se engordar? Já David Bowie de quem me lembrei constantemente pelo amor que tinha por Elvis Presley que Jonathan Bree também compartilha, reinventava-se constantemente. Espero que Bree um dia também o vá fazer certamente, não o estou a ver no resto da sua carreira de spandex e… a deixar-se engordar. Não há muito para dizer, o concerto foi por um lado brilhante e por outro, exactamente o que eu estava à espera de ver e ouvir. Só não estava à espera de ser tudo tão exactamente como imaginava, a internet tem destas coisas, até gostava de não ter tido conhecimento do trabalho deste artista e de ter entrado nesta sala acidentalmente, como por acaso, e conhecer Bree e a sua banda nessa mesma noite. Assim, e já com a lição estudada não me surpreendeu assim tanto o lado visual e cénico brilhante da “coisa”. As canções, essas, são boas, são mesmo objectos invulgares e certeiros na sua composição: nas palavras que o cantor sussurra, nas melodias aqui recriadas artificialmente num pano de fundo que é de base pré-gravada mas que tem na sua execução simples e certeira poucos músicos em palco que o acompanham no baixo, na bateria, numa ocasional guitarra e vozes, uma mais valia de simplicidade. O som estava bastante bom, mas com efeito esta foi uma daquelas raras prestações que apesar de excelente… não me encheu as medidas. Primeiro, porque foi muito curta. – Gosto da cara destapada nos artistas, do sorriso de um interprete ao ouvir os aplausos da sua audiência. – Do suor de um encore. – E embora este não seja propriamente um concerto de rock… A música de Bree puxa-me por vezes para esse território pois consegue ter mais significado do que certos registos mais rock/indie em que simultaneamente lhes falta esta elegância. No entanto rendo-me por tudo o que disse antes, pelas canções das quais o já clássico “You´re So Cool”, nem foi a que mais me entusiasmou… Para mim “Say You Love me Too”, “Valentine” ou “Roller Disco” foram as mais interessantes.
Em resumo, uma oportunidade não desperdiçada de ver um artista em excelente forma a defender ao vivo com todos os recursos que tem um excelente disco, transportando-nos para o seu imaginário conceptual em palco. No fundo, fazendo a audiência sonhar com um mundo paralelo onde não há rostos e as raparigas andam de patins.