Está disponível em todas as plataformas digitais “Sombrou Dúvida” o novo disco dos brasileiros Boogarins. Editado via OAR e lab 344, o quarto LP de originais da banda terá distribuição nacional pela ADA. Recorde-se que os Boogarins regressam a Portugal já em Agosto para actuarem no festival Paredes de Coura.
Desde os primeiros acordes que há uma constante de perguntas em “Sombrou Dúvida” e em nenhuma delas parece ser levantada a questão central: de que cor é a música dos Boogarins? Os brasileiros formados por Dinho Almeida, Benke Ferraz, Raphael Vaz e Ynaiã Benthroldo encontram novos trópicos no quarto álbum, tornando o psicadelismo do passado em instinto, e as canções em ar que se respira. Por isso, qual é a cor da música dos Boogarins? Essa é a pergunta que vale um milhão.
Gravado durante uma temporada no Texas, “Sombrou Dúvida” sucede a Lá Vem A Morte e continua a vontade da banda em explorar as várias potencialidades de estúdio. O psicadelismo dos Boogarins actuais bebe as suas origens ao rock, disso não há dúvida, e investe em convencer-nos de que não é psicadelismo. Daí a pergunta, de que cor é a sua música? Porque, pelo título, subentende-se que abordam zonas negras, quase sabotando o arco-íris permanente que as suas músicas contêm. A sabotagem entende-se como propositada.
Ouvir “Sombrou Dúvida“, prestar atenção aos suas letras é um desafio para o ouvinte sair da sua zona de conforto. É um retrato do mundo actual, instável e pessimista, que simultaneamente tenta reverter tudo isso com o positivismo da tecnologia. “Sombrou Dúvida” anda nessa corda bamba, questionando as relações e o lugar delas no mundo. O tom dormente da voz de Dinho e o encadeamento melódico das guitarras vão dizendo o contrário, como canções de embalar que oferecem uma porta de entrada para um maravilhoso mundo. São comprimidos de felicidade.
Pensado ao longo de dois anos, “Sombrou Dúvida” foi acontecendo entre digressões e sessões de estúdio, com a ajuda preciosa do engenheiro de som Tim Gerron e do produtor Gordon Zacharias. Em dez canções, os Boogarins esclarecem o que pensamos em 2019 quando ouvimos falar em psicadelismo tropical.
Apoderam-se com autoridade das suas referências (dos Byrds aos Galaxie 500) e descobrem que ainda é possível criar valsas dopadas de identidade. É uma estranha dança, a dos Boogarins, sussurra a incerteza dos tempos enquanto nos diz que está tudo bem. E está, ao som dos Boogarins tudo está bem. De que cor é a música dos Boogarins? Isso importa? Sem sim, chamemos-lhe Boogarins. É a única resposta que interessa.
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Fotografia (capa) – Markus Luigs