2019 Festivais NOS Alive Reportagens

NOS Alive’19, Dia 11 – Um pôr-do-sol Violeta

No que toca a festivais de Verão em Portugal, não há nenhum que equipare os números e mediatismo que o NOS Alive reúne – apelidá-lo como o maior em Portugal em nada seria descabido.

Detentor da patente “o melhor festival, sempre”, o cardápio que se ouve pelos lados do Passeio Marítimo de Algés tanto tem nomes consagrados como novas tendências, atraindo milhares de festivaleiros, cada vez mais heterogéneos, para uma celebração na companhia de mais de 150 artistas, espalhados por três entusiasmantes dias.

fotos na galeria NOS Alive 2019 Dia 11 Ambiente

O pontapé de saída para a 13.ª edição do NOS Alive tinha um onze galáctico, onde The Cure e Ornatos Violeta eram as grandes estrelas da equipa. Porém, antes do brilharete se dar, o Passeio Marítimo de Algés foi premiado com um dos melhores climas que há memória: sol incandescente e temperatura amena. Haverá melhor tempo para um festival de Verão?

Como é hábito, o botão ‘on’ da música emitida no Palco Sagres liga-se logo às 17h. Para a ocasião, y.azz x b-mywingz, as vencedoras nacionais do EDP Live Bands, estrearam o palco, sendo acolhidas por uma dispersa mas curiosa plateia.

Tal como a complexidade do seu nome artística, também a sonoridade experimental de Mariana Prista e Margarida Adão tem muito que se lhe diga, com uma curiosa electrónica que bebe de influências como Frank Ocean ou The Weeknd. A felicidade da dupla em pisar um dos palcos do NOS Alive era tão nítida que se saiu do Palco Sagres com o coração cheio de fazer parte de um momento tão especial na promissora carreira das y.azz x b-mywingz.

fotos na galeria NOS Alive 2019 Dia 11 Y.azz x B-mywingz

Pouco tempo depois, a honra de estrear o Palco NOS nesta edição de 2019 esteve a cabo de um dos mais consagrados nomes do atual panorama musical português: os Linda Martini.

Liderando a frota do rock alternativo português, com o seu quê de guerrilheiro e expansivo, os Linda Martini têm provas mais do que dadas de serem um caso sério de sucesso dentro da música portuguesa. Com o homónimo quinto disco de carreira ainda na calha, “Gravidade” ou “Boca de Sal” levavam o público ao delírio, especialmente um grupo nas primeiras filas que recebeu a aprovação do baterista Hélio Morais, mas seriam os êxitos do passado como “Amor Combate” ou “Panteão” que despertavam uma euforia precoce.

Para quem já acompanha os autores de “O Amor é Não Haver Polícia” há algum tempo, sabe que uma das garantias que existe num concerto de Linda Martini é a energia recíproca entre banda e público, bem evidenciado no sempre certeiro tiro “100 Metros Sereia”. Com cinco discos espalhados por uma carreira que já celebrou uma década de existência, ainda surpreende como a banda não passa do estatuto de banda de abertura. Quem sabe se numa próxima o futuro não será mais risonho.

fotos na galeria NOS Alive 2019 Dia 11 Linda Martini

De regresso ao Palco Sagres, e seguindo a onda de timeslots ingratos, deu dó ter Sharon Van Etten a subir a palco ainda em horário diurno.

Na falta de uma penumbra propícia para se emergir pelos emotivos temas da americana, houve a sua boa disposição que há muito lhe é característica; “obrigado por estares aqui comigo no meio desta sauna!”, gracejou, recebendo em trocas vastas gargalhadas.

Com disco novo para apresentar, Remind Me Tomorrow, que viu a luz do dia ainda este ano, Sharon Van Etten mostrou o porquê de ser uma das mais bonitas e singelas vozes que por aí andam, bem exemplificado ao som de “Comeback Kid”, “Jupiter 4” e “No One’s Easy To Love”. Destaque ainda para a excelente banda de apoio que a acompanhou, dando (ainda) mais vida aos seus apaixonantes temas nesta transição para os palcos, especialmente às canções “dedicadas aos meus fãs mais hardcore”, como “Tarifa” e a terminal “Serpents”.

fotos na galeria NOS Alive 2019 Dia 11 Sharon Van Etten

É incrível como a última passagem dos Weezer por Portugal data de 2002, especialmente quando se tem em consideração o quão marcante foram a geração dos anos 80 e 70.

Fazendo jus ao provérbio de que “velhos são os trapos”, foram uns Weezer cheias de genica e energia aqueles que se apresentaram no Palco NOS. Se ao início a plateia, ainda a meio gás, estava algo reticente, o arranque ao som de “My Name Is Jonas”, quiçá em referência ao mítico número 10 do Benfica que pendurara as botas no dia anterior, conquistou-a numa fração de segundos.

Mesmo com dois discos lançados este ano, um de originais e o outro de versões, foi à base dos êxitos de uma longa carreira que os Weezer iam construindo o seu final de tarde no NOS Alive. Apesar da relativa indiferença e desconhecimento por parte da forte maioria do público, versões de “Take on Me” (a-ha) e “Africa” (Toto) iam mantendo a conquista dos festivaleiros, com sing-along incluído e tudo.

Para o final, e em jeito de prenda para os fãs de vanguarda, “Say it Ain’t So” e “Buddy Holly”, tocadas de seguida, antecederam o ponto final que se fez em “Hash Pipe” neste regresso dos Weezer a Portugal, embora se tenha sentido que uma apresentação em nome próprio tivesse sido mais apropriada.

 

fotos na galeria NOS Alive 2019 Dia 11 Weezer

São concertos como os dos Ornatos Violeta que nos não dão gosto em ser megalómanos por música. Ao longo de uma hora e pouco, o NOS Alive sorriu e uniu-se para acolher um dos regressos mais aguardados na música portuguesa.

Em ano de celebração das duas décadas de O Monstro Precisa de Amigos, Manel Cruz, Kinorm, Nuno Prata, Peixe e Elísio Donas regressaram aos palcos para tocar na íntegra um dos mais acarinhados discos do cancioneiro da música portuguesa. E tudo soou tão imaculado como há 20 anos atrás.

Quando em 2012 se deu o regresso ao ativo para uma mão cheia de concertos, muitos achavam que o ponto final na carreira dos Ornatos Violeta se daria ali. Mas não. O rejúbilo de se ter novamente entre nós uma banda que marcou toda uma geração é difícil de colocar em palavras. E muitos foram aqueles que contribuíram para uma valente enchente em frente ao Palco NOS.

Se muitos foram aqueles que cresceram com os Ornatos Violeta, outros descobriram-nos mais tarde. Pouco importou quando se deu o primeiro contacto com a trupe de Manel Cruz a partir do momento em que todo um vasto público se junta a uma só voz em cantorias tipicamente futebolísticas a gritar pelo nome da banda.

Olá pessoal. Foda-se!”. Foi esta a primeira tirada de Manel Cruz no regressos dos Ornatos aos palcos, estupefacto com tal belo cenário dedicado. “Circo de Feras” (Xutos e Pontapés) foi primeiro tema que se ouviu. Uma escolha ousada, o verdadeiro de seguida à entrado do terreno dos Violeta: “Tanque” tens início d’O Monstro. Mas engane-se quem pense que foi tudo apresentado de seguida, saltando-se entre temas para apresentar um alinhamento coerente e nostálgico.

Num disco cujas letras há muito se entranharam no nosso dicionário, todas as canções foram acolhidas de braços abertos, com destaque para “Ouvi Dizer”. Para muitos, aquele era um momento pelo qual sempre se sonhou; para outros, soube tão bem como da primeira vez que se ouviu “Chaga” ou “Dia Mau” em palco.

Para o fim, a inevitável “Capitão Romance” abriu portas a um encore que não poderia ter outro tema se não “Fim da Canção”. “Foi-se”, remataria Manel Cruz no fim. Mas não. Eles nunca se foram, estiveram sempre connosco. E neste dia, o NOS Alive foi todo deles.

fotos na galeria NOS Alive 2019 Dia 11 Ornatos Violeta

Estávamos ciente que a presença de Jorja Smith no Palco Sagres seria sinónimo de enchente. Mesmo assim, a nossa ingenuidade levou-nos a ver Ornatos até ao fim e, como consequência, viu-se a artista por um canudo e já perto do final.

Tudo nos levava a deduzir que a estreia da britânica em palcos lusos estivesse a correr às mil maravilhas, fosse por uma multidão inquietante que sabia (quase) todas letras  na ponta da língua, como ficaria provado na cedência de microfone em “Blue Lights”, ou pela forma como os temas eram todos recebidos no mesmo nível de euforia. Porém, aquilo que nos deixou com certezas de uma estreia em grande foi a postura ora surpreendida, ora emocionada com que se deparou perante tal recepção. Terminando com “On My Mind”, música que a consagrou como um nome a ter em conta na cena R&B, o Palco Sagres foi ao rubro com agradecimentos disfarçados de uma promessa de regresso iminente. Ou assim esperamos.

fotos na galeria NOS Alive 2019 Dia 11 Jorja Smith

Era um um dos nossos maiores receios mal se soube da confirmação dos Mogwai no palco principal do NOS Alive: que as dimensões do palco fizessem com que a atmosfera do seu post rock se perdesse. E assim foi. Uma pena.

Na teoria, até batia certo: ter uma banda de sonoridade emersiva e sombria a abrir para The Cure. Mas depois de os enérgicos e eletrizantes concertos de Ornatos Violeta e Jorja Smith, o público queria dar continuidade a esse ímpeto, mas acabaria esbarrado nas profundas sonoridades dos Mogwai.

Alienando-se a um público desinteressado e uma forte aposta do mais recente disco no alinhamento, os próprios escoceses começaram a vacilar. Sim, a dedicação e a atenção meticulosa ao detalhe estavam presentes em temas como “I Am Jim Morrison, I’m Dead”, mas faltou o gozo e o proveito.

fotos na galeria NOS Alive 2019 Dia 11 Mogwai

Variações, filme biográfico de António Variações, tem estreia prevista para o próximo dia 22 de Agosto. Em jeito de preview, o Palco EDP Fado Café acolheu a residência da banda ‘oficial’ do filme – os Variações Sérgio Praia, Duarte Cabaça, David Santos, Vasco Duarte e Armando Teixeira – para interpretar alguns dos temas mais emblemáticos do icónico artista.

A curiosidade em conhecer em antemão a banda sonora do filme era tanto ao ponto da pequena sala transbordar de gente por todos os lados. Ao furar pela multidão, fica-se incrédulo com o show de Sérgio Praia ao interpretar António Variações: a voz falha um pouco, é certo, mas a postura, maneirismos e energia do autor de “Canção de Engate” estavam no ponto. Se as expectativas para a película de João Maia eram elevadas, agora passaram a ser ainda mais. Venha ele.

fotos na galeria NOS Alive 2019 Dia 11 Variações

Depois de tingido por tons de violeta, o Palco NOS virou camaleão e tornou-se preto, tão negro e sombrio como o rock que é gótico dos The Cure. Concerto mais esperado da noite, acabaria mesmo por se revelar como um dos grandes acontecimentos deste dia 11, mas também, não seria esperar menos de uma banda que já conta com 40 anos de carreira.

Em falta de novo disco, os The Cure apresentaram-se no jeito que o público gosta: serão de êxitos espalhados por duas horas de concerto. E claro, nenhum dos emblemáticos clássicos ficou de fora, mas seriam, sem surpresas, bem estimados para a reta final. Mas já lá vamos.

“Burn” e “Fascination Street” servidas logo à entrada, avisam que a noite será sombria e aterrorizadora. Logo nos instantes iniciais, onde os fotógrafos ainda correm pelas suas vidas à procura de tiros certeiros, ficam logo hipnotizados neste mundo de Robert Smith, e é por dentro do excelente jogo de luzes de “Never Enough” que o acto se consuma.

Hipnotizado, o público não tem outra solução se não ver aquilo que os The Cure querem que se veja (ou ouçam, neste caso). E aí o Palco NOS, que não se importou em nada de ter o seu poder de decisão retirado, embarca numa extensa viagem pelo melhor que os The Cure já alguma produziram vez produzir. Ah, de reforçar que isso engloba treze discos diferentes.

Apesar de um certo foco em Desintegration, The Head on the Door e Wish, discos onde os The Cure atravessavam a sua ‘era de ouro’, nenhum canto da sua carreira ficaria por revistar. Celebraram canções cuja idade tanto têm de miúdas como adultas por banda que aparenta ter ficado parada no tempo, ou não fossem estes britânicos detentores de uma intensidade e frescura que só se encontra com tão bons níveis na juventude.

Grandiosos como sempre, os The Cure assinalaram um dos melhores concertos que há memória pelo Passeio Marítimo de Algés, terminando com um extenso encore com “Boy’s Dont Cry” e “Friday, I’m in Love”, das mais celebradas, a carimbarem selo nesse estatuto.

fotos na galeria NOS Alive 2019 Dia 11 The Cure

Depois do abalo dos The Cure, o primeiro dia do NOS Alive poderia terminar já ali que ninguém ficaria desiludido. Mas não: encerrar o festival em chave de ouro ficou encarregue aos Hot Chip e os britânicos usaram e abusaram da mesma.

Tal como se sucedera em 2016, o palco secundário do Alive virou discoteca e naquela improvisada pista de dança, todos os que pernoitaram não pararam um segundo de tirar o pé do chão e abanar as ancas. E Hot Chip é isso mesmo: canções frenéticas e vibrantes que não precisam de um convite para instaurar clima de festa.

Apresentando-se em registo de best of, “Huarache Lights”, “Hungry Child”, “Flutes” e “Ready For The Floor” foram alguns dos temas que prolongaram as festividades do último dia do NOS Alive pela noite fora.

© José Fernandes | NOS Alive’19

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