Mais um dia, mais uma voltinha. E tal como no dia anterior, São Pedro foi bem generoso pelos lados do Passeio Marítimo de Algés, presenteando o NOS Alive com mais um soalheiro dia típico de Verão, levando a que bermudas, macacões, camisas com padrões florais e alpercatas fossem a indumentária predileta de muitos festivaleiros.
Entre a caça por brindes, pinturas ou as constantes selfies, o público do NOS Alive ia aproveitando os inícios deste segundo dia para viver toda a outra faceta do festival de Algés, onde os concertos ameaçavam passar para segundo plano. Porém, essa ameaça nunca se chegaria a concretizar, ou não houvesse música ao som de Vampire Weekend, Grace Jones, Johnny Marr, Gossip ou Tash Sultana.
Em dia de afluência consideravelmente baixa em comparação com dias anteriores, o que tornava a tarefa de circular pelo recinto uma maravilha, seriam as mulheres que seriam donas e senhoras deste segundo dia do NOS Alive. Mas já lá vamos.
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Apesar de questões ligadas ao mundo universitário terem-nos impedido de chegar a boas horas ao recinto, foi com satisfação que se teve Ry X como nosso anfitrião. E que surpresa agradável que se revelou.
À primeira instância, este australiano poderia ser como mil e um outros que mete uma música na rádio e viva às custas desse one hit wonder até à exaustão. “Berlin” encaixava que nem uma luva nessa descrição, mas o australiano até tem o talento de ter outros temas que despertam curiosidade e nos fazem perder pelo seu folk intimista, mesmo quando o barulho dos sucessivos comboios manche um pouco a pintura.
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Foi há uns anos atrás que os Primal Scream apresentaram Screamadelica, pérola de ‘91, no festival de Algés. Ontem, o regresso deu-se pela porta grande e num serão exclusivo a êxitos.
A receita tinha tudo para ser sucesso, mas muitos foram os entraves no processo de cozedura: pouca afluência, relativo desinteresse e canções que se perdiam na imensidão do Palco NOS. Se calhar, o Palco Sagres tivesse sido mais propício. Todavia, perante as más odds, houve a energia de Bobby Gillepsie para virar o cenário a favor dos Primal Scream, e foi graças ao senhor de vistoso fato cor-de-rosa que a coisa se ia dando, mas com a proximidade de Johnny Marr o público ia-se dispersando. E nós também.
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Os The Smiths até que eram um quarteto, mas todos sabem que a sua existência era fruto da genialidade partilhada entre Morrissey e Johnny Marr. E foi este último que subiu ao Palco Sagres para uma vistosa plateia.
Atire a primeira pedra quem nunca dançou no quarto ao som de “This Charming Man”, ou tentou curar as insónias com “Asleep”. A memória dos The Smiths ainda está bem entranhada nos corações de muitos, e depois do adeus, há o desejo de a revisitar ao som de Johnny Marr. Mas esses tempos já lá vão: Marr quer afirmar-se como artista independente e deixar para trás um passado que já lá vai. Obviamente que vislumbres de The Smiths ainda se servem em jeito de miminho, como “Bigmouth Strikes Again” ou “How Soon is Now”, mas o alinhamento do NOS Alive muito bebeu do mais recente disco do músico Call The Comet.
Com pinta do rock e atitude à britânico, Marr foi escasso em palavras, mas o que lhe faltou na língua foi compensado na genica dos seus dedos, lançando-se por solos chorudos e capazes de impor respeito. Mas lá está, o fator The Smiths ainda joga em casa, e como tal “There is a Light That Never Goes Out” foi a última luz a ser apagada, provocando a já esperada cantoria absoluta. Um concerto cheio de classe.
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É inquestionável que os Led Zeppelin foram uma das bandas a moldar o universo musical; são únicos, lendários. Mas quem fechar os Greta Van Fleet, consegue ouvir ecos dos heróis dos anos 70. Ou pelo menos, versões dos mesmos.
É de se tirar o chapéu aos Greta Van Fleet, em que numa altura em que o meio está em constante evolução, os irmãos Kiszka resgatam o passado. E é aí que reside o problema da banda: ficarem demasiado colados num tempo que já lá vai. Pior, à sua principal referência.
Falta inovação, falta risco, falta identidade aos Greta Van Fleet. Há talento, é verdade, mas isso não basta. É esperar pelo próximo disco para ver se lá encontram.
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Em pólo completamente oposto do Palco NOS, estava o Sagres. Apesar de uma idêntica aposta na guitarra como principal instrumento, as novas tendências electrónicas também jogam em casa: chama-se Tash Sultana e veio conquistar Portugal.
Quiçá eclipsada por outra jovem talento com idade semelhante – Billie Eilish – o mediatismo à volta da australiana ficou a anos de luz do da norte americana. E é uma pena, ou não fosse Tash Sultana um diamante bruto de talento, mesmo com umas quantas arestas por limar. Mas a enchente pelo Palco Sagres e relativa sabedoria pelos temas de Flow State eram de louvar.
Após a entrada ao som de um snippet de “Is This Love” (Bob Marley), isto numa altura em que nuvens de incenso alteravam as fragrâncias do Palco Sagres, o estaminé de Tash Sultana abriu portas a um rock psicadélico para dar e vender. Esta one woman show faz tudo: guitarras, baterias, teclados e até trompetes, mas é nítido que é no primeiro instrumento que se sente mais em casa.
Tal como Ed Sheeran, Sultana controla todas as suas canções através de uma loop station, o que leva com que seja senhora e dona do seu espectáculo. E que frontwoman que ela é! Não sendo senhora de cerimónias, e depois de ter o ameaçado em “Gemini”, atira-se sem receios para o fosso, pavoneando-se de guitarra em punho pelas grades, isto para delírio das primeiras filas.
Fosse através de solos eletrizantes ou de instâncias electrónicas com o seu q.b. de drum’n’bass, Tash Sultana foi a primeira rainha da noite, num reinado onde “Jungle” acabaria por ser o seu hino oficial. Quem diria que Portugal voltaria a ter monarquia.
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Em dia onde as mulheres seriam donas do NOS Alive, houve também tempo para criaturas mitológicas espalharam o seu charme: falamos de vampiros, mas aqueles dóceis da cidade que dão pelo nome de Vampire Weekend.
Foi há precisamente seis anos, e no mesmo dia, que a banda de Nova Iorque teve a sua passagem por Portugal. Dado ainda mais curioso quando a mesma se deu pelo festival de Algés. Desde então, muita coisa aconteceu no mundo de Ezra Koenig e amigos: Rostam Batmanglij deixou a banda e projetos paralelos meteram-se pelo meio, levando a uma incerteza perante o futuro. Mas 2019 apareceu e com ele veio Father of The Bride.
Não foi este último disco que marcou a noite de Algés; todos foram repartidos de igual forma, quiçá como jogada estratégica perante a imposição de se verem como cabeça de cartaz do dia, isto quando claramente ainda faltam uns quantos degraus para atingirem essa etapa.
“White Sky”, “Unbelievers”, “Cape Cod Kwassa” e “Bambina”, uma para cada disco, foram servidas de início, e revelaram que grande parte do público até que as tem bem sabidas. Mesmo não sendo canções capazes de juntar multidões numa só voz, despertam sorrisos e alegria, o que por vezes só por si basta. O mundo até lhes podia cair em cima – irónico, face o globo gigante que paira no palco – que não faria diferença aos Vampire Weekend: mantém-se fiéis a si próprios e fazem a sua cena, é isso que nos conquista.
O agora trio, que soma mais quatro em palco, fez as delícias dos fãs, especialmente quando “Diane Young”, “A-Punk”, “Cousins” e “Oxford Comma” foram servidas de forma seguida. Também os curiosos lá que acabariam por se render a Vampire Weekend, cedendo aos ritmos de dança de “New Dorp. New York”.
“Isto pode soar convivente de ser dito agora, mas alguns dos nossos melhores concertos foram em Portugal. Prometemos não demorar seis anos até voltar”, confessou Ezra Koening antes de “Ya Hey” ditar o fim. Dito e feito: Vampire Weekend regressem ao Coliseu dos Recreios no dia 26 de Novembro. Temos encontrado marcado?
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Cantora, atriz ou modelo. Grace Jones tem numerosas facetas que a tornaram numa inconfundível diva, e todo esse charme tomou o palco secundário do NOS Alive de assalto para uma experiência de cortar a respiração.
Falsos rótulos dão o Palco Sagres como um espaço destinado a novos artistas e alguns já consagrados, mas que ainda lhes falta algo para atrair as massas dos 55 mil. No dia 12, tais foram rasgados por uma diva de outro mundo, por uma mulher que vive num universo paralelo ao nosso: Grace Jones.
Custa a crer que aquele furacão de artista é já uma septuagenária, isto tendo em conta as danças no varão e os hulha-hoops pela cintura. Seria apenas através da sua potente voz, pesada e intensa, milhas a lés de todas as outras que seriam ouvidas pelo NOS Alive, que se entenderia que ali jaz alguém que já se consagrou no mundo para estar acima de nós pobre mortais.
Ao longo de uma hora, Grace Jones mostrou-nos a faceta de um mundo onde quem reina é freak, mas que sabe tão bem em sê-lo, de fugir ao status quo na demanda de nos encontrar-mos realmente. E nessa descoberta, a jamaicana é um camaleão que adota diferentes personalidades; não por ser uma artista que tanto tem de reggae, funk, pop ou new wave, mas sim pela forma como mudava de cor nas constantes trocas de indumentária no serão de Algés, cada uma mais deslumbrante e carismática que a anterior.
Ao longo de um alinhamento que contou com temas de The Pretenders (“Private Life”), Roxy Music (“Love is The Drug”) ou John Newton (“Amazing Grace”), Grace Jones apresentou um espectáculo monstruoso, que foi muito para além de um mero desfile de canções.
Depois de uma pausa de sete anos, os Gossip regressaram ao ativo e o NOS Alive foi uma das paragens nesta tournée especial de celebração dos dez anos de Music For Men.
Com um Palco NOS praticamente disperso, quase a relembrar o vazio de The Libertines em 2014, era claro que os Gossip já não têm a relevância que tinham na década passada, e nem existia claros sinais de fãs acérrimos pelo recinto. Mesmo assim, a energia contagiante e postura de frontwoman nata de Beth Ditto, mantém-se imaculada, levando a que muitos ainda ficassem presos por arames em frente ao palco principal de Algés.
Quem ficou, não se arrependeu. Pode não ter sido um concerto berrante, daqueles que deixa meio mundo ao rubro, mas nesta repescagem ao simplista dance rock dos anos 2000, temas como “Standing in The Way of Control” e “Love Long Distance” ainda conseguem incentivar-nos a saltar e a desfrutar da boa companhia dos Gossip. Os americanos também usariam outros trunfos como dedicações de temas à comunidade LGBT ou mensagens de protesto ao fascismo e a Donald Trump para cair nas boas graças do público.
Para o final, “Heavy Cross”, o tema forte dos Gossip, seria recebido em êxtase pelos sobreviventes do Palco NOS, levando Ditto a descer ao fosso para fazer a festa junto às primeiras filas, como quem dissesse que depois daquilo, já se podia ir recarregar energias para casa. E nós lá fomos.
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