Depois de termos saído do recinto sem grandes percalços, eis que nos deparámos com a situação caricata de sermos obrigados a fazer mais 20km do que era suposto, a circulação estava interdita para o Meco. Ou seja, a malta tentou encurtar a trajectória para o festival e ficar a pernoitar pertinho do recinto (7km), mas a organização decidiu trocar-nos as voltas. Assim, e a fim de não repetirmos a volta ridícula da noite anterior, decidimos não levar carro e utilizar os transportes gratuitos da organização. Apanhámos uma camioneta daquelas que faziam o circuito recinto/praia do Meco, em Alfarim. Viagem agradável (estávamos sentados) de cabelos ao vento e com festivaleiros quase ao nosso colo, a camioneta estava à pinha!
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Chegados ao recinto ainda tivemos tempo de deixar a mochila na sala de imprensa e apressarmo-nos para o Palco EDP onde iriam actuar os Caléxico and Iron & Wine. Este seria certamente um dia em que o pó, característico deste espaço, se iria acentuar com o rock n’roll escolhido para o cartaz. Não fossem os efusivos Shame a abrir o palco principal debaixo do sol ainda quente!
Os rapazes do sul de Londres mostraram que o rock se faz no palco e é para dançar, se não “aurevoir”! Com a pujança dos 20 anos, Charlie Steen (vocalista) e Josh Finerty (baixo) provocaram o público com simpatia e energia suficiente para o resto do dia. O sapo regressou aos concertos, e parece que tem escolhas cirúrgicas (quem se lembra do sapo no concerto dos Idles no LAV?) pois é no punk que se sente bem. Mesmo ainda com muitas clareiras no público, o moshe na frente fez saltar umas quantas cervejas e do palco também voaram outras tantas. Com uma lata de Super Bock na mão, o front man dos Shame pediu-nos para não sermos tímidos e sem “vergonha” desceu várias vezes para junto do público arriscando o crowd surfing característico desta performance. Rapidamente despiu a camisa clássica que trazia a condizer com as calças de pregas, e repetiu um “Obrifuckingado” em cada tema. Os Shame prometiam um grande dia de Rock.
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Para não arrefecermos e mesmo ali ao lado, no Palco LG, já estavam prontos os The Twist Connection. Raquel Ralha já soltava a voz em “Sweet little Diamond” e Kaló estava com aquela expressão de quem ia partir tudo. Sem interrupções seguiram temas dos seus dois álbuns, que por serem todos tão bons não nos deixaram descansar. Kaló agradeceu várias vezes a nossa presença, pois ao mesmo tempo estavam os Capitão Fausto a tocar no Palco EDP e levaram umas quantas pessoas com eles. O baixo de Sérgio Cardoso (Wray Gun) e a guitarra de Samuel Silva revelaram naqueles 60 minutos que o rock´n roll está vivo e recomenda-se! Aliás o próprio Kaló repetiu-o várias vezes, alegando que o “melhor vídeo” desta edição seria o deste concerto. O tema “Turn off the radio” prolongou-se já para o final com algumas interrupções de Kaló, incluindo a sua descida para junto do público, e deixando “a mulher mais bonita do mundo” encarregue das baquetas. Esta malta de Coimbra é assim, do caraças!
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O Rock deixou-nos quase de rastos e ainda tínhamos muito para ver. Por isso parámos para jantar e repor as baterias, a Christine and the Queens estaria por ali muito em breve e não queríamos perder nem por nada.
Freakpop, art-pop ou simplesmente Pop, pouco interessa qual o rótulo que lhe queiramos colocar, Christine and the Queens é todo um universo artístico que está muito para além de qualquer registo. Heloise Letissier é francesa, tem pouco mais de trinta anos e tem dois álbuns editados (como a própria orgulhosamente disse). Um corpo expressivamente elástico, que comunica com todas as fissuras e poros da pele. Um rosto forte que consegue transmitir todas as emoções, numa transparência de verdade. Um conjunto de bailarinos tão eclético quanto brilhante, que pertencem ao colectivo parisiense La.Horde. Heloise cria a sua performance em movimentos rítmicos corporais, onde cada tema transpira uma emoção forte, “a dor, a felicidade, a música”. A sexualidade ou melhor, a não sexualidade é o assunto que domina as suas preocupações e de uma forma artisticamente brilhante trabalha-o no palco quase como uma terapia e uma mensagem pedagógica. “E se de repente eu vos dissesse que agora era um homem?” Depois de nos fazer esta pergunta encenou uma performance com uma bailarina que fez corar as mentes mais conservadoras que por ali andavam. Queens em “Heroes” de David Bowie à capella, enquanto projectava o olhar e apontava para as estrelas (“ele ouvia-nos”). Momento que provocou um arrepio na espinha e fez uma lágrima cair… e não é isso que se quer de um concerto, emoções?!
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A sua conterrânea, a actriz e cantora Charlotte Gainsbourg estava mesmo a subir a outro palco e seguimos caminho para o EDP.
Este foi para muitos o melhor concerto do 2º dia do festival. Um registo diferente de tudo o que por ali tinha passado até ao momento. Um cenário visual com várias estruturas de luz branca a fazerem um efeito magnífico. Simplicidade na presença, com uma doçura na voz que conseguiu criar uma envolvência quase química com o público, Charlotte Gainsbourg deixou-nos boquiabertos. Acompanhada por músicos à altura, onde o baterista se destacou pelos movimentos sempre enérgicos, movimentou-se pelo palco como uma pluma tímida. Sentada ao piano ou em cima dele, Charlotte agradecia em português e dizia que a nossa língua é muito bonita mas a única palavra que sabia dizer era “obrigada”. O vento ajudou a tornar o cenário perfeito. Os cabeça de cartaz já estavam em palco, mas a maioria das pessoas ficou até ao final do concerto.
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Os franceses Phoenix já são bem conhecidos do público português e reincidentes em festivais. Esta foi uma noite especial para a banda, porque seria o último concerto da tour e isso percebeu-se no cansaço de Thomas Mars (vocalista). Mas os Phoenix são uns dinossauros de palco e não seria o cansaço que faria com que não fosse um grande concerto, mesmo o momento em que Thomas se deitou no chão e fechou os olhos. Os grandes do indie-rock são incansáveis, e por isso levam o público a mexer o esqueleto do início ao fim. Com um jogo de luzes intenso acompanhando os grandes temas que seguiam em catadupa, como aqueles dos álbuns “Bankrupt!” (2013) e “Ti amo” (2017). As constelações brilharam para os Phoenix.
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O cansaço já se acumulava nas costas, mas a noite ainda não tinha terminado. Um dos concertos mais aguardados deste dia estava preste a iniciar e percebemos que o Palco EDP iria encher rapidamente. FKJ (French Kiwi Juice), alter-ego de Vincent Fenton, um multi-instrumentista, cantor e compositor francês (este foi o dia francófono!) que se dedica às gravações de instrumentos em looping nos seus concertos. Uma panóplia de instrumentos, guitarras, baixos, saxofones, piano, que toca e grava enquanto introduz novos instrumentos em cima (looping). Considerado o pioneiro do novo house francês, FKJ foi notável na sua actuação que primou também pelas escolhas das imagens que ia projectando no écran. Temas mais conhecidos como “Tadow” (duo com Masego e por isso só tocou a parte instrumental) ou outros ritmos mais house music como “Waiting!” encheram as almas de todos aqueles que não arredaram pé. Foi um dia em cheio!
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Super Bock Super Rock’19 dia 20 – 3º Dia com organismos, divas e a salvação do hip hop
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