Na noite anterior acabámos por chamar um Bolt que se encontrava mesmo à saída do recinto e que nos levou ao nosso destino. Tudo foi mais rápido e tranquilo. Por volta das 21h30m do dia anterior, a página oficial do festival publicou um “aviso á navegação” em que a circulação se iria fazer em ambos os sentidos até às 00h00. Acreditámos no post e levámos o carro para os parques de estacionamento do festival. Pela primeira vez (e seria a última) a entrada e a saída foram tranquilas e chegámos a horas decentes, tanto ao recinto como mais tarde a Lisboa.
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Enquanto entrávamos no recinto já o brasileiro Rubel ia com o seu concerto adiantado. Ainda conseguimos partilhar “a vida boa com você” e mais um par de músicas que souberam bem àquela hora da tarde. Mas o nosso compromisso era um pouco mais tarde com os fofinhos Superorganism.
Existe um fenómeno musical no Japão que são as Idols. Estas são cantoras adolescentes que têm sucesso no Japão, fazem tours pelo país e o seu momento alto é concorrem ao concurso anual das Idols. Têm um número expressivo de fãs masculinos, que por sinal pertencem a uma estrutura etária muito diferente da delas, rondam os 40 e 50 anos. Os Superorganism não são Idols, mas são oriundos do Japão (e também Coreia do Sul, Austrália e Nova Zelândia), são pós-adolescentes (a vocalista Orono Noguchi tem 18 anos e começou a cantar com 16) e têm muito em comum com a cultura identitária de Tóquio. Sedeados em Londres, os Superorganism são novinhos, em idade e em formação, são simpáticos e gostam de dar concertos coloridos e divertidos. De capuz na cabeça com blusões com cores aguerridas e brilhantes, os seis elementos da banda entraram em palco com um ligeiro atraso. Relembramos que, apesar de terem começado em 2107, o ano passado (2018) já tinham pisado o palco de um outro festival mais a norte e esse espectáculo visual ficou na memória de quem assistiu.
Os Superorganism são definitivamente diferentes, quer no registo musical quer na performance em palco, onde a cor e o brilho são a sua imagem de marca. O à vontade em palco de Orono Noguchi e a conversa inicial com uma pessoa do público permitiu uma aproximação àqueles que não os conheciam e estavam meio desconfiados do figurino. Maçãs e bananas a fazerem de marácas e mais uns quantos acessórios aparentemente descontextualizados, mas que acabaram por tornar a fotografia perfeita. “When I grow up I wanna be a superorganism”!
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Entretidos com os miúdos coloridos, não conseguimos ver o início do Palco SBSR onde já estava a tocar Profjam. Mário Cotrim foi um dos músicos que cedo se destacou no hip hop tuga, tendo criado a sua própria editora, a Think Music, em 2016. Rapper, compositor e um homem de palco, pelo menos foi o que demonstrou no concerto de sábado à tarde.
Mikel El Note (Miguel Caixeiro) foi o DJ de Profjam e esta dupla puxou pelo público como só o hip hop sabe fazer (perdoem-me os inimigos deste registo). Na verdade os cartazes do Festival têm chamado a si os últimos anos, o rap e o hip hop, e têm contribuído para a divulgação das novas tendências deste registo em português (Slow J foi exemplo disso). E de facto este terceiro dia de festival esteve muito focado neste estilo musical, não foi por acaso que víamos muito mais grupos de adolescentes.
“Queremos matar o game, não?!” “Toda a gente com a mão no ar Super Bock! São da minha team!” Jovens corriam em direcção ao palco com as mãos no ar e uma nuvem de pó crescia a olhos vistos no meio da crowd. E eis que toda a rebeldia de Profjam se transformou de repente num momento de ir às lágrimas. Chamou a mãe para o palco, e abraçado a ela diz que é a mulher da sua vida e que “ela cuidou de mim quando era pequenino e eu vou cuidar dela quando ela for velhinha”! Escusado será dizer que as lágrimas caíram em vários rostos, incluindo no meu. A Fátima (mãe de Profjam) fez deste concerto um momento de emoções fortes e esta imagem ficará registada na história do hip hop tuga.
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Se há malta com sorte, somos nós. A noite anterior tivemos o privilégio de ver um dos mais talentosos moços da new house music, FKJ e, no mesmo palco com menos de 24 horas de diferença, o afro-jamaicano que anda a fazer as delícias da soul music, Masego (Micah Davis). Emotion é como designa o estilo de música que compõe profissionalmente desde os 20 anos, pois Micah Davis (nome próprio) é um autodidata por excelência. Masego dominou o palco e o público com um charme encantador. Distribuiu rosas às senhoras, elogiou uma super mummy e provocou o baterista para nos mostrar o que lhe tinha mostrado no dia anterior. O saxofone esteve na linha da frente, não estivesse Masego a percorrer os palcos dos festivais de jazz europeus como o Montreux Jazz Festival (Suíça) ou o North Sea Jazz (Holanda). Projecção de figuras geométricas que acompanhavam as batidas jazzísticas da guitarra e do sax, ao mesmo tempo que a voz feminina entrava com ligeireza nas estrofes. Ouvimos o tema “Tadow” pela segunda vez, mas agora na sua versão integral com a voz envolvente de Masego. Janelle Monaé já estava envolta na maior produção da noite e fomos testemunhar as mudas de roupa.
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A norte-americana da soul e R&B escalou no mundo artístico de uma forma impressionante. Um sorriso meio tímido num rosto fotogénico ainda de menina, Janelle Monaé Robinson entrou na música em 2008 e desde então já teve umas quantas nomeações nos prémios Grammys e um número impressionante de vendas nos Estados Unidos. Em Portugal já actou umas quantas vezes em festivais de verão, tendo sido a sua última actuação no festival minhoto em 2014 (andámos por lá). Já nessa altura a voz afro-americana R&B se posicionou como uma artista completa, onde a produção coreográfica e os efeitos cenográficos se distinguiram dos demais. Mas passado seis anos Janelle Monaé assumiu-se claramente uma artista enorme, complexificando a sua performance e fazendo do palco um espaço musicalmente mágico. A escadaria branca posicionada a meio do palco revelou o posicionamento da senhora da soul e o patamar onde já se encontra. A mega produção do seu espectáculo é digna de se ver sentado e com a devida distância, para que nenhum pormenor nos falhe. Sucessiva troca de figurinos, dela e dos bailarinos que a acompanham, que contextualizavam cada música como uma história única.
“Put the lights in the sky” pediu ao público, enquanto o guitarrista se colocava na frente do palco e tocava o eterno solo de Purple Rain de Prince, numa homenagem sentida ao rei da Pop (II). Contestatária e activista dos direitos da Mulher, Janelle Monaé pediu ao público que lutasse pelos seus direitos, os das Mulheres, LGBT, os dos imigrantes, os da raça. Que lutemos contra a corrupção e o abuso de poder, e por fim “o amor luta contra o ódio”. Um final apoteótico como seria de esperar de uma diva que transpira soul e funk por todos os poros.
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Entre a diva e os cabeça de cartaz, Migos, espreitamos os portugueses Estraca que subiram ao Palco LG. Mais uma vez o hip hop em altas com o público a acompanhar o rapper lisboeta e o grafitter que estava a grafitar as letras da banda num painel em cima do palco.
E com alguns minutos depois da hora, os rappers norte-americanos Migos entraram em palco e rebentaram literalmente com tudo! Muito provavelmente foi o concerto desta 25ª edição onde esteve uma maior concentração de público. Quavo, Offset e Takeoff dominaram tudo o que estava à sua volta, o público rendeu-se ao trap estridente de Migos e ao yessir. Caras de meninas bonitas apareciam nos ecrãs a chorarem de emoção, enquanto tentavam respirar entre os saltos dos milhares que se acotovelavam. “Culture” o segundo álbum de Migos aparecia no ecrã e qualquer frase que um deles balbuciasse era motivo de ovação ou de idolatração. O fogo, o fumo, as luzes, a indumentária colorida e estilosa dos rappers (fios compridos ao pescoço, óculos escuros e dedos recheados de anéis) poderiam ser meros pretextos visuais, pois a veneração foi mesmo ao próprio trio que ali estava em cima do palco. O Hip Hop é um fenómeno de massas, o Trap é uma religião e os Migos são a salvação!
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A 25ª edição do Festival Super Bock Super Rock correu, na generalidade, de uma forma tranquila e harmoniosa. Falamos na generalidade porque algumas questões de organização necessitam de ser melhoradas, como é o caso dos acessos (mais transportes) e a situação do dinheiro (aceitarem cartões multibanco e/ou colocarem mais caixas multibanco). A tranquilidade sentiu-se em todos os espaços do recinto, sem grandes excentricidades provocadas pelos excessos de consumos (álcool e estupefacientes) ou pela irritabilidade que é comum na espera das filas. Harmonia na escolha do cartaz (três dias homogéneos) e na diversidade das bandas que foram bem encaixadas em cada dia. Em termos de som, destaque para o Palco LG que estava francamente bom e uns pequenos apontamentos menos positivos no Palco EDP. Foram 25 anos muito bem passados, se fizermos uma retrospectiva da qualidade e diversidade dos cartazes. Para o ano esperamos voltar à Herdade do Cabeço da Flauta nos dias 16, 17 e 18 de Julho. É bom crescer com o SBSR!
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DIA 18
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Super Bock Super Rock’19 dia 19 – E ao 2º Dia o Rock regressou!
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DIA 20
Super Bock Super Rock’19 dia 20 – 3º Dia com organismos, divas e a salvação do hip hop
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