O Vodafone Paredes de Coura é aquele festival que se crava no coração de quem vai a primeira vez. É aquele festival onde vamos pela música, pelo espaço, pelo rio, pelas pessoas, pela comida e, até, pelo ar. Ao olhar para o cartaz desta edição, a acontecer de 14 a 17 de Agosto, é difícil não sugerir aos leitores quase todos os concertos. A escolha não é fácil mas, como não há horários sobrepostos nem mais que dois palcos, podemos saborear cada oferta que nos é dada. Como de costume e para quem anseia por uma semana completa de concertos, o warm up arrancou já no passado sábado com O Festival Sobe À Vila. Neste dia, Dream People, Cuckoo Let Us e Wicked Youth iniciam o aquecimento; No!On, Filipe Sambado e os Acompanhantes de Luxo e Blasfémia ficaram encarregues da noite de Domingo, dia 11; Ângela Polícia, Salto e Alexandre Souto tratam da recta final hoje, dia 12; e amanhã para encerrar este warm up Flying Cages, The Parkinsons e Sum.
Começa então o formigueiro a instalar-se e o início desta saga de 4 dias que passa sempre demasiado rápido. No dia 14, Quarta-feira, o dia começa cedo no Palco Jazz na Relva com Yoga pelas 11h (a acontecer todos os dias de festival), seguindo-se de uma Tertúlia Ambiental e dos concertos de Mazarin e Plastic People. Já no recinto, que no primeiro dia só abre um palco, ainda de dia, os Bracarenses Bed Legs a injectarem-nos uma boa porção de rock’n’roll enérgico com pitadas de blues. Com o segundo álbum lançado no ano passado, vêm espalhar o encanto de quem tem o sangue quente e sedento de rock’n’roll, com um novo elemento em palco.
Julia Jacklin, australiana, com um gosto virado para a pop e a indie sonhadora, vem com um álbum cheio de melancolia e histórias de amor sem final feliz, traz-nos Crushing e momentos mais intimistas onde a alma se despe perante nós.
De seguida, uns amantes de Portugal, o quarteto brasileiro de rock psicadélico Boogarins. Com um especial gosto pelos anos 70, trazem na bagagem Sombrou Dúvida e vontade de nos contagiar com a sua aura quente e astral positivo.
Em jeito de transição, o electro funk com traços de pop e disco dos australianos Parcels para nos fazer abanar a anca ao de leve e com alguma satisfação.
A encerrar o primeiro dia de festival, os tão acarinhados The National regressam ao anfiteatro natural 14 anos depois. Nestes 14 anos, muitas histórias viveram, muitas músicas fizeram e, acima de tudo, muito amadureceram. Na mala, I’m Easy To Find, lançado em Maio do corrente ano e uma carga gigante de intensidade, harmonia e melancolia que nos vai fazer cantar em uníssono e ir de coração apertado e aconchegado dormir.
Na Quinta-feira, depois do Yoga, na margem do rio, há Vozes da Escrita com Inês Menezes e Rui Reininho, os concertos de Mathilda e Melquiades e, ainda, um debate sobre “Quem Paga a ‘Energia do Futuro’?”.
De regresso ao recinto, agora já com o palco secundário a funcionar (Vodafone.FM) é aí que começamos a jornada de um dos dias mais esperados com os Cave Story e o seu mais recente Punk Academics, lançado no ano passado. Das Caldas da Rainha e com o rock a transbordar, vão dar-nos um bom arranque de dia.
No palco ao lado, de seguida, os texanos Khruangbin. Num registo mais exótico, com umas pinceladas de rock, funk, disco e soul, este trio vai tornar o fim de tarde bem quente. Apresentam, também, o seu segundo álbum lançado no ano passado – Con Todo El Mundo.
De regresso ao palco Vodafone.FM, num registo mais indie pop, a australiana Stella Donelly que traz o seu fresquíssimo álbum de estreia Beware Of The Dogs.
Para não perdermos o ritmo, no mesmo registo, no palco Vodafone, os canadianos Alvvays vão proporcionar-nos um pôr do sol com vagas de sonhos coloridos e energia controlada.
Continuando no indie pop e, em jeito de curiosidade, recomenda-se a actuação de Boy Pablo, o miúdo de 19 anos cuidadoso nas melodias e com um gosto especial por boas composições.
De volta ao palco principal e de volta ao encontro com um rapaz extremamente talentoso de nome Will Toledo, estão os Car Seat Headrest à nossa espera para algo mais cru e mais rock.
Para encerrar o palco Vodafone.FM, o californiano Avi Buffalo, da Subpop, abre-nos o seu imaginário com acordes bonitos e ritmos contagiantes.
https://www.youtube.com/watch?v=evu_MqAZpC0
Daqui partimos para o mais aguardado concerto da noite e, quiçá, do festival. Depois de há 14 anos se estrearem em terras lusas, regressam agora sem Peter Hook, mas com álbum lançado em 2015. Os New Order são das principais bandas dos anos 80 na new wave e numa electrónica com introdução de sintetizadores mas com um baixo muito activo e forte. Vão, certamente, fazer-nos suar.
O dia 16 começa no palco Jazz na Relva com o Yoga para depois dar lugar às Vozes da Escrita com Márcia e Valter Hugo Mãe, os concertos de The Ride Of Trio e Madrepaz e termina com uma entrevista ao Ministro da Educação (Tiago Brandão Rodrigues).
No recinto, espera-nos aquele que vai ser o dia mais longo de concertos, começando com os espanhóis Derby Motoreta’s Burrito Kachimba no palco Vodafone.FM que nos trazem um hard rock a cheirar a anos 70 com traços de psicadelismo e muita energia.
No palco principal, espera-nos uma viagem com os First Breath After Coma ao comando, com atmosferas ambient, composições extremamente bem trabalhadas e um cheiro a post rock, trazem NU, o mais recente trabalho.
Numa corrida para o palco ao lado, os belgas Balthazar estão prontos para nos fazer dançar com o seu indie rock em tons de electro pop.
Num registo mais tranquilo e ténue, o palco Vodafone recebe a country folk de Jonathan Wilson com influências da música americana da década de 70. Rare Birds é o seu mais recente trabalho e contou com a participação de Father John Misty e Lana Del Rey.
De regresso ao palco secundário, espera-nos uma explosão de sonoridades e ritmos com os londrinos Black Midi que trazem algum experimentalismo e sonoridades cruas directamente das caves de Londres.
De seguida, um dos concertos mais aguardados da noite. Os Deerhunter e os seus tons camaleónicos regressam a Portugal. Com álbum novo na bagagem, Why Hasn’t Everything Already Disappeard? e uma melodia constante e apaixonante, não deixam de lado os diversos caminhos já percorridos pela banda, assentando-lhes todos muito bem.
O último concerto do palco secundário será, possivelmente, aquele que vai demorar mais tempo a sair da cabeça. Connan Mockasin é conhecido pela sua irreverência e extravagância ao vivo. Com sonoridades que passam pelo neo psicadélico, o dream e o avant pop, vai ser, certamente um bom concerto de se degustar.
De regresso ao palco Vodafone, desta vez com a viagem dos Spiritualized à espera. Com álbum lançado no ano passado – And Nothing Hurt, os sons space rock, shoegazze farão com que os pés se levantem e pairemos sobre o recinto.
Mantemo-nos na mesma posição para ser embalados pelo encanto melancólico de Father John Misty. De regresso ao mesmo palco, passados 4 anos, o cantautor e compositor de indie folk penetrante, traz agora God’s Favorite Customer e promete manter a intensidade que tão bem o caracteriza.
Se o cansaço não falar mais alto, aconselho vivamente o live act de Peaking Lights no palco After Hours (Vodafone.FM). O casal californiano mistura a música electrónica com a pop psicadélica, criando uma excelente composição de ritmo e calor.
Dia 17, último dia de festival e o coração começa a apertar. Como nos outros dias, há Yoga e depois os concertos de West Coast Man e Palankalama.
No recinto, vamos ter uma tarde e noite de emoções distintas. A abrir o palco Vodafone.FM, o folk rock com traços de indie pop dos Time For T para nos aconchegar e balouçar lentamente, enquanto aproveitamos a última brisa quente.
No mesmo palco, a voz deslumbrante da sul africana Alice Phoebe Lou, num concerto mais intimista, dotado de extrema sensibilidade e com traços de soul. Alice vem apresentar Paper Castles.
https://www.youtube.com/watch?v=fFNofGHHozg
No palco principal, pronta para nos fazer sonhar está a japonesa Mitski com a sua indie pop solarenga e sonhadora. Traz Be The Cowboy, albúm lançado em 2018.
De regresso ao palco Vodafone.FM, o agora trio Sensible Soccers vai-nos obrigar a cerrar os olhos e a entregar-nos a eles. Aurora, lançado este ano, é o terceiro trabalho e mantém a estética electrónica com composições bem delineadas e atmosferas apetecíveis.
De volta ao palco principal para vermos os dois maiores destaques do dia. O primeiro e maior deles, a grande rainha do rock Patti Smith. Inspiração de muitos músicos e não só, Patti Smith regressa a Portugal 4 anos depois para nos dar mais um concerto grandioso na sua essência. A idade só passa por ela no aspecto, porque de resto mantém o poder e a sua natureza revolucionária e profunda sempre envolta numa bela poética.
A noite e o festival terminam com a pop britânica dos Suede. Banda dos anos 90 que fez parte da adolescência ou infância de muitos, influenciados por Bowie e The Smiths, trazem um álbum novo depois de uma pausa, The Blue Hour. Preparem-se para algum revivalismo e para o despertar de memórias adormecidas.
Serão, sem a menor dúvida, quatro dias e noites bastante movimentados e compostos. Nunca podendo faltar o mergulho nas águas gélidas do Rio Coura na praia Fluvial do Taboão.
Os passes gerais já estão esgotados e os bilhetes diários de dia 14 também.
Apresse-se quem ainda quer ir!
Mais info aqui.
Fotografia (capa) – Jorge Buco | Música em DX