Ainda sobre o efeito do primeiro dia retomámos à vida na aldeia. Os cem-soldenses são anfitriões despertinos e às 10h da manhã começaram as atividades. Quem quisesse podia ir logo até ao Armazém ouvir Música para toda a família ou ir até ao Curral ter uma Aula do Burro. Enquanto comíamos um pão quente da Mercearia e bebíamos um café para abrir a pestana deparámo-nos com um passeio de burros. O Burro de Miranda é uma raça muito dócil e a verdade é que os mais pequenos adoraram passear neles.
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Deambulando pelo recinto começámos a ouvir uma música ao longe e fomos até lá. Junto do posto de correios encontrava-se um grupo a cantar “O meu nome não é meu/ é de quem mo deu/ de quem pensa conhecer-me/ mais do que eu”. Rapidamente descobrimos que estava a decorrer o percurso artístico Cem Soldos, por detrás do Bons Sons orientado pela Ana Bento e Bruno Pinto. Estes dois artistas deram-nos a conhecer o lado menos visível do festival e da aldeia. Juntámo-nos a eles e seguimos viagem por entre ruelas, portas, garagem, tascas e absorvemos (literalmente uma vez que também houve comes e bebes) um pouco da historia, das estórias, das tradições, dos segredos de quem habitou e habita esta terra. O itinerário terminou com o poema do Ricardo Reis (heterónimo de Fernando Pessoa) “Segue o teu destino”. Assim fizemos. O percurso artístico foi tão bom, tão sensorialmente rico que ficou tatuado na memória.
Já passava das 15h quando assistimos a um concerto surpresa do Afonso Cabral. No terreno de uma casa, à sombra de um limoeiro interpretou dois temas do seu disco de estreia a solo “Morada”. Veio acompanhado do guitarrista Pedro Branco. Na plateia encontrava-se um pequeno espectador muito especial, o seu filho. Em passo trémulo, de quem começa a aprender a magia de andar, vagueou pelo espaço palreando, cantando e imitando o Pai a tocar guitarra. Admitimos que foi difícil desviar o olhar daquela criança, foi difícil não nos deixarmos comover com a intimidade daquele momento. Uma das músicas que cantou foi o tema “Anda estragar-me os planos” que compôs juntamente com a Francisca Cortesão para o Festival da Canção 2018. Quando terminou a atuação tinha lágrimas nos olhos. Nós também.
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A chuva não fez greve nestes dias e alguns chuviscos fizeram-se sentir. Ajudaram-nos a refrescar porque o calor apertava enquanto nos dirigíamos para o Palco Giacometti para ver Gator, The Alligator. Esta banda de Barcelos hipnotizou os festivaleiros que se encontravam no local. Soltaram enérgicas descargas elétricas psicadélicas e animaram a malta que ia aparecendo.
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Calmamente fomos até às traseiras do lagar de azeite. Este local, este ano foi o Palco da Música Portuguesa a Gostar Dela Própria (MPAGDP). O cheiro azeite estava presente lembrando-nos, sempre, onde nos encontrávamos. Sentámo-nos, para dar descanso às pernas, enquanto aguardávamos pelo começo do concerto da banda Adélia. Ana Correia e Tânia Pires compõem este projeto, que tem como objetivo homenagear Adélia Garcia, a cantadeira de Caçatrelhos (Vimioso), que encantou o país com a sua bela voz. Cantou até falecer em Dezembro de 2016. Cantava todos os dias porque “cantar alivia as penas ao coração”. A Ana e a Tânia, usando o repertório musical deixado pela Adélia, interpretaram os seus temas com a ajuda de inúmeros instrumentos como o violino, o acordeão, a guitarra, a flauta, o adufe, percussão entre outros. Fizeram um belíssimo tributo a ela e a todas as mulheres trabalhadoras que por vezes são personagens invisíveis na vida de uma aldeia. No final transmitiram uma gravação da Adélia. A sua voz juntou-se assim a elas.
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Regressámos ao Palco Giacometti para ouvir Sallim, ou Francisca Salema. A sua música, a sua voz cristalina trouxe leveza, jovialidade à tarde. Tocou, praticamente, só temas do seu último disco “A ver o que acontece”. Foi uma boa terapia para descontrair.
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Terminado o concerto acelerámos o passo e fomos até à escadaria da Igreja (Palco Amália) para ver Afonso Cabral. O vocalista dos You Can’t Win, Charlie Brown lançou-se este ano a solo e nós tivemos a sorte de o ouvir (mais uma vez) na sua estreia. Um certo nervosismo pairava no ar mas isso em nada comprometeu a sua interpretação. Pelo contrário deu, ainda, mais sentimento, veracidade aos temas que interpretou do seu primeiro disco“Morada”, editado no inicio de Julho. Pelo que vimos tanto da parte dele, como da parte do público que já conhecia alguns temas, este projeto tem tudo para dar certo. A esta “Morada” certamente voltaremos. Marcou o dia.
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Demos mais uma caminhada até ao Palco do Zeca, sentámo-nos perto de uma oliveira e ouvimos os Lodo (filhos da casa) e Peixe (membro fundador dos Ornato Violeta). Os riffs vibrantes, melódicos percorrem o espaço e o momento mais alto do concerto aconteceu com a interpretação do tema “Verdes Anos” do inigualável Carlos Paredes.
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O cansaço e a fome apertavam e aproveitámos para descansar um pouco, comer qualquer coisa e aumentar os níveis de cafeína. Fizemos tudo isto ao som do grande fadista Helder Moutinho que atuou às 21h no Palco Lopes-Graça. Na família Moutinho o peso do fado corre nas veias. Canta de olhos fechados e transborda emoção na voz. Voz essa que, por vezes, lembra a do seu irmão, Camané. Para além de fadista temos poeta e como poeta que é aproveitou para homenagear alguns poetas portugueses. O fado faz parte da nossa identidade. O Helder Moutinho interpreta-o, sente-o na perfeição.
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De energias, quase, carregadas espreitámos os Paraguaii. A dupla Giliano Boucinha e Zé Pedro Correia conseguiram arrancar os pés do chão dos festivaleiros que lá se encontravam e abanámos o esqueleto ao ritmo da sua música eletrónica. O frio começava a fazer-se sentir mas eles conseguiram aumentar a temperatura ambiente.
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Sem darmos por isso já passava das 23h e achámos que era melhor rumar até ao Palco Zeca Afonso. Às 23h30 começava o concerto dos First Breath After Coma (FBAC) e Noiserv e o número de espectadores começava a aumentar exponencialmente. Este era um dos momentos mais esperados da edição deste ano. Quando passámos em frente do ecrã instalado no Palco António Variações tropeçamos, praticamente, num grupo de crianças que sentadas no chão, em roda, faziam construções com legos. Momento digno de registo porque este festival é mesmo isto uma festa vivida em família. Há tantos momentos destes. Momentos esses que ficam colados na retina.
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Com esforço conseguimos ficar num lugar com bastante visibilidade mas, infelizmente, longe do palco porque o povo era muito e todos queriam arranjar o melhor sitio possível. A legião de fãs, de ambas as bandas, era enorme e estavam ávidas por ouvir o resultado deste projeto. Algumas pessoas até se aventuraram a subir às oliveiras e instalaram-se nos seus ramos. A colina estava completamente cheia, o frio amainou e a vista para o palco era soberba, quase asfixiante tal era a beleza do quadro que se formou. Silêncio e a música surgiu. Que simbiose tão bem conseguida. Os FBAC deram pujança, magnitude às músicas do David Santos e este deu delicadeza, candura às músicas da banda leiriense. Esta junção não poderia ter funcionado melhor. Esperemos que não fique por aqui. Limitado a uma hora, a 60 minutos que passaram depressa demais. Terminado o concerto respirámos fundo porque durante o concerto parece-nos que suspendemos a respiração na ânsia de não perdermos nada.
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“The Blues Experience” é o resultado da parceria inusitada entre, aquela que é considerada a melhor banda de Blues nacional, Budda Power Blues e a diva do Jazz, Maria João. Eram 00h45 quando começaram a tocar o tema, arrepiante, “Hole in my soul”. As palavras escasseiam quando tentamos descrever o que sentimos quando ouvimos a Maria João. Deram um concerto imponente, como era de prever, e tiveram direito a encore.
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Seguiu-se o Scúru Fitchádu, Marcus Veiga, que entrou em palco de uma forma fulminante. Não deu oportunidade para que a preguiça se pudesse instalar. Que funaná explosivo, libertador. Sentíamos que podíamos dançar, berrar e exorcizar tudo aquilo que nos consumia. Foi um final de noite ideal para os mais resistentes e para os menos resistentes, mas curiosos, que não resistiram em aparecer. Quem sabe se no final de estranharem não entranharam.
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Todos os artigos estão disponíveis em:
DIA 8
Festival Bons Sons’19, dia 8 – “Cem Soldos, a nossa casa, o nosso sentido.”
+ Bons Sons 2019 Dia 8 Ambiente
+ Bons Sons 2019 Dia 8 X-Wife
+ Bons Sons 2019 Dia 8 Venus Matinal
+ Bons Sons 2019 Dia 8 Senza
+ Bons Sons 2019 Dia 8 Raquel Ralha & Pedro Renato
+ Bons Sons 2019 Dia 8 Orquestra Filarmónica Gafanhense
+ Bons Sons 2019 Dia 8 Fogo Fogo
+ Bons Sons 2019 Dia 8 Diabo na Cruz
+ Bons Sons 2019 Dia 8 Concerto Surpresa de Francisco Sales
+ Bons Sons 2019 Dia 8 Benjamim + Joana Espadinha
DIA 9
Festival Bons Sons´19, dia 9 – O Poder de Fazer Acontecer
+ Bons Sons 2019 Dia 9 Ambiente
+ Bons Sons 2019 Dia 9 Concerto Surpresa de Afonso Cabral
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+ Bons Sons 2019 Dia 9 Adélia
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+ Bons Sons 2019 Dia 9 Afonso Cabral
+ Bons Sons 2019 Dia 9 Lodo + Peixe
+ Bons Sons 2019 Dia 9 Helder Moutinho
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+ Bons Sons 2019 Dia 9 First Breath After Coma + Noiserv
+ Bons Sons 2019 Dia 9 Budda Power Blues & Maria João
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DIA 10
Festival Bons Sons´19, dia 10 – “A Cultura sem dono.”
+ Bons Sons 2019 Dia 10 Ambiente
+ Bons Sons 2019 Dia 10 Ensaio das Pequenas Espigas
+ Bons Sons 2019 Dia 10 Pequenas Espigas
+ Bons Sons 2019 Dia 10 Valente Maio
+ Bons Sons 2019 Dia 10 Concerto Surpresa de Três Tristes Tigres
+ Bons Sons 2019 Dia 10 Tiago Francisquinho
+ Bons Sons 2019 Dia 10 Baleia Baleia Baleia
+ Bons Sons 2019 Dia 10 Miramar
+ Bons Sons 2019 Dia 10 Três Tristes Tigres
+ Bons Sons 2019 Dia 10 Stereossauro
+ Bons Sons 2019 Dia 10 Pop Dell’Arte
+ Bons Sons 2019 Dia 10 Tiago Bettencourt
+ Bons Sons 2019 Dia 10 Glockenwise + JP Simões
DIA 11
Festival Bons Sons´19, dia 11 – “Crescemos com a Aldeia”
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+ Bons Sons 2019 Dia 11 Telma
+ Bons Sons 2019 Dia 11 Ricardo Leitão Pedro
+ Bons Sons 2019 Dia 11 Vozes Tradicionais Femininas
+ Bons Sons 2019 Dia 11 Concerto Surpresa de Júlio Pereira
+ Bons Sons 2019 Dia 11 Galo Cant´Às Duas
+ Bons Sons 2019 Dia 11 Pedro Mafama
+ Bons Sons 2019 Dia 11 Joana Gama + Sopa de Pedra
+ Bons Sons 2019 Dia 11 Concerto Surpresa de Luísa Sobral
+ Bons Sons 2019 Dia 11 Ricardo Toscano e João Paulo Esteves da Silva