Depois da viagem longa e de curvas no meio de um bosque encantado chega, finalmente, a hora de sentir a música em perfeita comunhão com os amigos, no melhor cenário de todos, o nosso inigualável anfiteatro do Vodafone Paredes de Coura.
Depois de 4 dias de música e festa durante o Festival Sobe À Vila é na quarta-feira, dia 14 que as portas do recinto abrem para dar início à 27ª edição de festival, uma das melhores da minha história com o festival e do próprio festival, segundo os seus criadores.
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O arranque não podia ser feito em melhor companhia com os bracarenses Bed Legs. A cumprir o sonho de tocar no palco principal deste que é dos maiores e melhores festivais que Portugal tem, sentiu-se tanto em palco como instrumentalmente. Em 45 minutos, com um novo elemento em palco, o Leandro, nas teclas, os Bed Legs provaram que estão melhores que nunca. Os anos e a estrada fazem-lhes bem e, a verdade é que estão cada vez mais sólidos sem nunca perder a magia do rock’n’roll. A primeira faixa a ser tocada, a primeira do álbum homónimo lançado em Maio do ano passado entrou de rojo e a elevar os ânimos do público que se mantiveram assim até ao final. As teclas dão o toque que faltava e a guitarra de Tiago voa cada vez mais alto demonstrando que estamos diante de um guitarrista brilhante. O baixo apresenta, de igual modo, uma solidez necessária e a bateria, competente e ritmada, mantém-nos o coração a saltar. Fernando já dispensa apresentações, a reencarnação portuguesa do Hendrix carrega em si uma presença abismal de carisma e talento que é incapaz de deixar qualquer pessoa indiferente. Uma mescla entre o Homónimo e Black Bottle espalhou boa energia, um ritmo contagiante e a concretização, mais que merecida e digna, do sonho de estar ali. O concerto termina com Fernando a fazer crowsurfing e a cantar no meio do público com um sorriso maior que a própria cara.
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Passamos de súbito de um baque de energia para dois momentos completamente mortiços e sem qualquer ponta de emoção ou conexão com o público.
Falo, primeiramente, de Julia Jacklin e da sua palidez física e sonora. Cativar pessoas em palco nunca foi tarefa fácil, dependendo isto de uma série de conjunturas que, algumas vezes, até são externas à própria banda. No entanto, Julia Jacklin falhou uma série delas. Inicialmente, este concerto tinha tudo para ser um concerto calmante de final de tarde, a sua indie folk com traços de pop é serena, suave e sensata, sendo dotada de uma composição lenta e ténue e de um grupo de bons músicos com quem partilha o palco. No entanto, a falta de reacção e interacção de Julia, fez com que tudo perdesse qualquer graça que pudesse ter, tornando o momento em algo aborrecido e chato, transparecendo a ideia de que pisava aquele palco por favor a nós e não porque lhe desse qualquer tipo de prazer. Apenas nas últimas 3 canções esboçou um sorriso, algumas palavras e colocou mais ritmo na sua música, um pouco tarde diria eu.
Na mesma linha aborrecida, contando para o segundo ponto mortiço da noite, viriam os Boogarins. Ao contrário de Julia, estes 4 rapazes estavam contentes por tocar naquele palco e demonstravam-no repetidamente. Interagiam com o público e partilhavam histórias e, apesar de existir alguma química na partilha, a mesma não existiu na recepção sonora. Os Boogarins não são uma banda de um palco deste tamanho, não porque não o mereçam mas porque a linha sem oscilações que seguem do princípio ao fim, torna esse momento, num palco grande, algo perdido no tempo e no espaço. O seu rock psicadélico perde-se em palco, transformando-se mais em indie rock que outra coisa, não existindo qualquer explosão ou emoção musical. Fazendo apetecer que se perca a atenção ao concerto e se inicie uma conversa com os amigos com uma música de fundo a passar. Um palco destes pede garra, força e fome! Nunca tendo assistido a nenhuma das contínuas vezes que tocam em Portugal, para primeiro concerto, foi algo com sabor a desilusão, não percebendo o crowdsurfing lento e amorfo que existiu no final do concerto.
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A surpresa viria a seguir e o despertar da dormência também. Assim que pisaram o palco os australianos Parcels foram recebidos por um público em êxtase. Sem ter noção deste fenómeno e depois de os mirar um a um e em conjunto, cerrei os olhos e deixei-me levar. Uma figura a roçar os anos 60, um sorriso no rosto e um bigode à George Harrison rapidamente fizeram com que um Paredes de Coura esgotado se rendesse a seus pés. A química fora imediata e tudo o que nos era dado era retribuído e vice-versa. A disco meio Daftpunk com a funk soul meio Jungle, às vezes demasiado coladas, compunham-se de riffs interessantes e algumas composições a cheirar a anos 70. Os beats que saiam dos sintetizadores eram alegres e criavam uma harmonia perfeita entre todos, fazendo com que parar fosse impossível. A alegria que demonstravam transferia-se para nós e em perfeita união vivemos um momento bastante bonito e de pura satisfação. Depois de uns 15 minutos em palco fora-nos indicado que iríamos fazer uma viagem naquela noite e que iríamos fazê-la juntos. A verdade é que, conseguiram cumprir com a sua palavra proporcionando-se aquilo que fora uma viagem à amizade, à pista de dança e à partilha. Para além de todo o momento estar já envolvo num espectro de brilhantismo, iniciaram uma música com a captação de estações de rádio, parando uma das vezes na música “Encosta-te A Mim” de Jorge Palma. O ruído estático da rádio misturou-se depois com distorções interessantes e delays algo experimentais que nos tocavam ao de leve durante todo o concerto. Depois de uma dança sincronizada em palco, o público cantou com eles o mais alto que podia aquela que seria a última música “Tieduprighnow”, com o sentimento de que aquela havia sido a hora mais bem passada daquela noite.
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O momento seguinte seria aquele em que nos abraçávamos a nós próprios e, de olhos fechados, nos balouçávamos numa melancolia bela durante quase 1h e 45 min. Instrumentalmente, posso dizer que assisti ao melhor e mais emocionante concerto de The National. É indiscutível que não são uma banda de festival mas, apesar disso, o palco estava astutamente composto por 9 pessoas para nos criar uma ambiência quase idílica onde os contos têm sempre um final triste, mas sempre dotado de beleza. Matt trazia uma das vozes femininas, Mina Tindle, que compõem I’m Easy To Find para com ele cantar. Assim, inicia o concerto com a primeira música do álbum, “You Had Your Soul With You” juntamente com ela. O que traz de novo este álbum é, talvez, a introdução de vários instrumentos e a criação de uma composição mais grandiosa que Matt trouxe para o palco. Duas baterias, instrumentos de sopro, teclados, piano, cordas e mais percurssão foram a aposta para uma bela noite tranquila e com o seu toque de poder necessário para existirem rostos humedecidos pelo público. A poética sempre foi o forte dos The National e com esta banda digna de orquestra, mantiveram a emotividade e todo o aconchego do indie rock alternativo a puxar para o folk e o art rock. As músicas mais cantadas seriam as mais antigas e o público rendia parte da sua alma a esta noite sob uma lua que Matt afirmava que podia influenciar alguns comportamentos. Para além disso revivera momentos em que assistira a Nick Cave e Arcade Fire no anfiteatro natural e foi ao público diversas vezes cumprimentar, cantar e, até, autografar discos. Não é de desconhecimento de um fã de The National que Matt não é uma pessoa de trato fácil. Nesta noite foi igual a ele próprio, não deixando de depositar a sua carga de intensidade melancólica em cada faixa cantada. De I’m Easy To Find Ouvimos mais 5 faixas (“Hey Rosey”, “Oblivions”, “Where Is Her Head”, “Rylan” e “Right Years”), havendo espaço para os clássicos e para, na recta final, levarmos com “Mr. November”, “Terrible Love” e “About Today” de rojo, terminando com a quase épica “Vanderlyle Crybaby Geeks” cantada em uníssono por mais de 26 mil almas debaixo de uma lua fria e bonita.
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Depois de um suspiro profundo e de uns segundos de regresso à realidade, o caminho para casa seguia-se. O dia seguinte era um grande dia!
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