O dia amanhecera quente como todos os dias seguintes de Festival e com ele a forte ansiedade de se estar a aproximar a hora de ver um sonho realizado. Mas antes disso ainda havia muito a ver, sentir e ouvir e começo pela Music Session que aconteceu nessa tarde no Centro de Educação e Interpretação Ambiental, em Vascões. O cenário era aquele a que a organização já nos habituou, com o verde da natureza ao redor e uma ambiência quase idílica com a música morna e ternurenta de Avi Buffalo como banda sonora. Com uma banda composta de excelentes músicos, Avi traz uma indie pop solarenga e bem trabalhada, num registo ténue e descontraído de quem está a partilhar música e um bom momento. Em pouco mais de meia hora fez as delícias dos presentes que seguiram leves e aconchegados para o recinto.
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Sem conseguirmos apanhar Cave Story, a abertura deste dia coube aos texanos Khruangbin que nos tocaram tal como os raios de sol de fim de tarde. O trio de aparência peculiar e chamativa, entrelaça muito bem as cordas existentes criando um ritmo ténue e constante maioritariamente instrumental. A boa energia da soul e funk que trazem do concerto algo relaxante e até hipnotizante. A voz, usada como instrumento, aparece poucas vezes e em loop, tendo aumentando o ritmo e a intensidade na recta final do concerto que ficou mais dançável e quente.
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No palco ao lado, uma fã de Khruangbin, que afirma estar muito feliz por estar no mesmo festival que eles. Falo da enérgica e encantadora Stella Donnely e da sua indie pop delicada e harmoniosa. A voz é estridente, bem colocada e com umas linhas de sensibilidade que nos abraçam. O ritmo tem energia e, mesmo as baladas são dotadas de uma harmonia bela e dançável. Dedicou uma música ao seu antigo patrão, aos seus pais e ao desporto. Uma performance cativante, humilde, vigorosa e até sensual e brincalhona prendeu as pessoas que cada vez eram em maior número. Sozinha ou acompanhada, Stella soube o que estava a fazer e fazia-o bem, revelando ser uma agradável surpresa.
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De seguida, para não perdermos o ritmo, mas sem a mesma capacidade de prender pessoas, os canadianos Alvvays quiseram fazer-nos sonhar enquanto dançávamos de modo suave. A indie pop sonhadora foi competente e cumpriu o seu propósito, tendo aumentado o ritmo à medida que o concerto ia avançando, deixando em falta, o que havia sido conquistado no outro palco, a ligação com o público.
Will Toledo está crescido e provou-nos isso com o concertão que deu no regresso, 2 anos depois, ao palco principal deste festival com Car Seat Headrest. Tarefa difícil saber que se está a anteceder um concerto muito aguardado, mas este rapaz provou estar à altura do que estava para vir. Mal encosta os lábios ao microfone abana-nos logo com a voz densa e poderosa de que é dono. Sem parar e de modo a mostrar que amadurou, “Can’t Cool Me Down”, “Bodies” e “Fill In The Blank” cobriram-nos de uma intensidade poderosa e acelerada que quase nos tirou o fôlego. Para além de toda a construção musical que lhe sai do corpo e da mente de pequeno génio, a banda que traz consigo ajuda à demonstração e transmissão de força. A densidade mal cabia naquele palco e quase explodia com as colunas sendo que a recta final com “Drunk Drivers/Killer Whales”, “Destroyed By Hippie Powers” e “Beach Life-In-Death” fizeram ecoar pelo anfiteatro vozes com certezas de que este estava a ser um grandioso momento.
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No fundo tenho algum receio de escrever sobre aquele que foi um dos melhores concertos que já vivi em Paredes de Coura. New Order era aquele concerto que ansiei durante anos ver naquele local mágico e podia correr tão bem como mal! Felizmente o que aconteceu ali não foi só a concretização de um sonho, foi a partilha de uma história de vida, a conversa sobre estórias e o elevar de almas, vozes e corpos em perfeita comunhão. Olhando para trás, os olhos humedecem e os pêlos levantam. Foi demasiado. Tudo! Com uma intro de Wagner e saltos olímpicos o palco vai-se enchendo de pessoas e de intensidade. O baixo de “Singularity” que já não é o de Peter Hook mas faz efeito semelhante, entra de rompante e como se o chão não existisse os corpos começam a mexer-se para terminar apenas 1h20m depois. Music Complete teve voz logo no início com “Restless”, também, de seguida, voltando a ser recordado com “Tutti Frutti” mais à frente. Na terceira faixa, o baixo, embora teoricamente fosse o mesmo, ganhava outra cor e intensidade dando voz a “She Lost Control” e “Transmission” tendo Bernard questionado quantos fãs de Joy Division existiam na plateia. Momento arrepiante e único que se voltaria a repetir um largo tempo depois. A mão saía do peito para se juntar ao ar e ao corpo e viver o sonho adolescente de uma pista de dança gigante com momentos nostálgicos de quem guarda de modo reservado segredos de vida. Bernard, dotado de uma simpatia nata e uma cumplicidade gritante com o público que estava rendido a seus pés, emociona-se também e está feliz de nos ver felizes. No fundo, o que estes sexagenários nos trazem é a dance music como ela tem de ser, orgânica e sentida a dedos, pés e coração. Não fosse o ar puro ao nosso redor e quase nos vimos numa noite da Factory com Tony Wilson a gritar ao nosso lado. “Bizarre Love Triangle”, “”Waiting For The Siren’s Call”, “Plastic”, “True Faith”, “Temptation”, “Blue Monday” e tantas outras que foram entoadas de pulmão cheio, olhos húmidos e sorriso rasgado sem possibilidade de melhor descrição. O encore fez-se numa sentida homenagem ao jamais esquecido Ian Curtis com “Atmosphere” e “Love Will Tear Us Apart”, dizem os mais cépticos que Joy Division nenhuma falta faria neste concerto. Eu digo que o tornou mais especial e único, não deixando de fazer sentido contar histórias que não pudemos e jamais poderemos viver com ele, mas que podemos receber d’Eles! A idade pouco lhes pesa e a maturidade instrumental muito se sente. Só me resta agradecer à organização por este momento e aos New Order por terem concretizado sonhos da maneira mais feliz possível.
Depois de New Order, o mundo podia acabar, sendo que nada do que viria a seguir poderia fazer sentido.
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