O terceiro dia de Festival era o mais completo de todos. Apresentava-se diante de nós um cartaz bem composto e dotado e bastante qualidade que louvava o facto de só existirem 2 palcos e podermos assistir a tudo. Dias de muitas surpresas também, das boas!
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O palco Vodafone.FM recebia os espanhóis Derby Motoreta’s Burrito Kachimba com êxtase e quase sem fôlego. A explosão é grande quando todos assumem os seus instrumentos e os riffs são alucinantes, as bandas espanholas costumam ter uma excelente performance em palco e esta não foi excepção. O público, maioritariamente espanhol, acompanha-os em cada música e faz com que o concerto aconteça com uma boa energia e descontracção. As ondas sonoras são quentes e com vagas de psych obrigando-nos ter uma grande viagem ondulada sentados nas cordas destes comandantes. As teclas, bem simpáticas e coloridas contornam a conjuntura instrumental que tão bem se faz em cima daquele palco, tendo sido um concerto cheio de tesão e adrenalina, com sabor a anos 70.
+ fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura’19 Dia 16 Derby Motoreta’s Burrito Kachimba
Com um grande impacto, também, mas com uma sonoridade diferente, os First Breath After Coma cumprem o sonho de regressar ao Festival mas, desta vez, no palco principal. É caso para dizer quem os viu e quem os vê! Ao longo dos anos a sua sonoridade tem vindo a ganhar novas formas e contornos e a presença em palco também. A entrega e sentimento depositados naquilo que fazem é cada vez maior e é impossível não sermos tocados por isso, cá fora. A comunhão que têm entre si é monstruosa e o facto de todos usarem a voz foi algo que sempre me cativou. A aposta nas distorções de voz e em composições ainda mais densas faz com que criem cenários de quase catarse enquanto tocam. NU está bem de saúde e recomenda-se e este leirienses também! Para encerrar com chave de ouro uma pequena mostra da Residência feita no Serra – Espaço Cultural com Noiserv a interpretar a “Blup” com eles e eles a interpretar “Don’t Say Hi If You Don’t Have Time For A Nice Goodbye” com ele que ficou ainda mais intensa e épica.
+ fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura’19 Dia 16 First Breath After Coma
Correria para o palco Vodafone.FM para entrar de cabeça no ritmo contagiante e fumegante dos Balthazar. A provar que a Bélgica tem primado em grooves quentes e em indies bem trabalhados a par dos Jaguar Jaguar, os Balthazar ofereceram-nos a sensualidade penetrante de composições a quatro vozes, sopros e beats simples e ténues mas fortes o suficiente para fecharmos os olhos e dançarmos alegremente numa ondulação sensual e viciante. Pela primeira vez em Portugal os belgas conquistaram ao primeiro acorde e o calor que emanam deu as mãos ao pôr do sol e resultou em mais uma excelente surpresa.
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Jonathan Wilson era mais uma estreia em Portugal e vinha, igualmente, carregado de magia sonora para espalhar entre nós. Num travo mais maduro com gosto a whisky velho e a deserto californiano, o country folk denso que nos entrou pelos ouvidos espalhou-se pelo corpo e pela alma e houve uma entrega mútua. A voz meio rouca foi o acompanhamento perfeito para as histórias que contava tranquilamente com o riffs acústico ou ao piano. O dom que traz nos dedos faz sonhar e passear por trilhos sonoros relaxantes e reconfortantes. Quase 1h20m de concerto sempre com uma intensidade de arrepiar que só os bons cantautores de folk sabem fazer. Para além de apresentar Rare Birds, trouxe “Desert Raven”, “Dear Friend”, “Moses Pain”, entre muitas outras.
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No seguimento de algo intenso, algo hipnótico e não menos intenso. Os Deerhunter regressam a Portugal e com eles a solidez de Why Hasn’t Everything Already Disappeared? digno de uma composição e produção de génio mas com um registo mais calmo e mais indie. A banda que se caracteriza por diversas facetas camaleónicas, trouxe-nos a calmaria alegre que precisávamos de sentir. Numa composição de distorções subtis e loops instrumentais que faziam as músicas não ter um fim e nos prendiam numa linha hipnótica da qual também não queríamos sair. “Death in Midsummer”, “No One’s Sleeping”, “What Happens To People?”, “Futurism” e “Plains” mostraram que este seu regresso ao estúdio fora feito sabiamente. Bradford Cox, desajeitado por natureza, mas dono de um enorme talento, afirma ter andado a ouvir música portuguesa e ter gostado bastante de nomes como Rafael Toral e Nuno Canavarro dos antigos Street Kids.
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Em paralelo, Connan Mockasin, de quem esperava algo inesquecível, revelou-se um contraste meio amorfo. Num registo instrumental ténue, subtil e tranquilo, revelou mestria na composição mas não me conseguiu prender mais de 10 minutos diante dele.
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O concerto que estaria para vir era, sem ninguém esperar ou saber, O concerto da noite! Costumo dizer que o único “sítio” onde podemos aplicar a palavra perfeição é na música e, na verdade, Spiritualized, só não chegaram à perfeição pela falta de comunicação e ligação ao público que tanto os estava a amar naquele momento. Não fosse isso e aquele momento tinha tocado a perfeição em todo o seu esplendor. Épico, grandioso, majestoso e magnífico são alguns adjectivos que podem descrever aquilo que aconteceu em pouco mais de hora e vinte naquele palco. Começam logo por nos deixar de olhos esbugalhados quando vemos que no palco estão coros femininos e que esses coros estão envoltos em magia gospel. Em formato U, Jason toca sentado sem dispensar os seus óculos de sol. Em momento algum olhou para o público focando-se, apenas, em fazer malabarismo na guitarra e na voz. Como introdução, “Hold On” e de seguida “Come Together”, “Shine A Light” e “Soul On Fire” para reviver o passado. A composição era tão grandiosa que nos fazia quase levantar os pés do chão não acreditando no que estávamos a presenciar. Por momentos, quase ficávamos sem ar e tínhamos de agarrar o coração para este não sair do peito. Registos orquestrais de rock com country, space rock e algum shoegaze levaram-nos a passear por entre longas montanhas verdes cobertas de ar puro. And Nothing Hurt saiu no ano passado e foi apresentado quase na íntegra e de seguida começando a meio do concerto, até ao final começando na “A Perfect Miracle” e terminado na “Sail On Through” na mesma ordem que compõem o álbum. Fora tudo um baque de sabedoria com que nos deparamos e que nos abalou quase nos cortando a palavra. Depois de um thank you quase obrigado o concerto termina com a “Oh! Happy Days” de Edwin Hawking fazendo-nos estremecer dos pés à cabeça! Foi, efectivamente, uma noite feliz!
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Depois de Spiritualized, a sensualidade romântica de Father John Misty perdera-se ligeiramente entre a sua intensidade e o seu ego. Entre uma aparência ligeiramente diferente e uma postura em palco um pouco menos movediça, Josh Tilman, apresentou uma banda composta por 9 pessoas sendo 3 delas dedicadas aos sopros. Digno de um bom rendilhado instrumental, esta inovação trouxe uma nova cor às músicas, aumentado toda a produção. As faixas são curtinhas e cantadas em uníssono pela plateia que se agarra emocionalmente ao peito. Father John, por sua vez, deixou algumas danças sensuais de lado, perdendo aquele lado de playboy romântico que o caracterizava concentrando-se, quiçá, mais nos seus dotes musicais. A sua indie folk romântica e elegante continua a derreter corações com melancolia e melodias que facilmente ficam no ouvido. No entanto, como já referi, apesar de ter sido um concerto categórico e eficaz na sua plenitude, o romantismo melancólico perdeu-se entre as árvores deste belo anfiteatro natural pois a intensidade tinha sido ganha pelos seus antecessores.
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Algum encantamento dançável e apetecível veio a seguir com Peaking Lights no After Hours e, depois, a alma completa para nos acompanhar até casa.
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