Os dias passam a correr e com eles os momentos fortes a colocar marcos em cada um. Como o tempo não espera por nós, num ápice já estávamos no último dia de festival que, apesar de ter ameaçado chuva, foi mais um ano de concertos secos.
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Como não podia deixar de ser o dia começara com a Conferência de imprensa com João Carvalho, Catarina Soares (Ritmos, Lda.) e Leonor Dias (Vodafone) no Monte do Irijó.
Supostamente esta foi a melhor edição de sempre, com o melhor cartaz de sempre, com mais vendas de bilhetes, merchandising e comida, etc. Mais pessoas satisfeitas e um balanço bastante positivo, não descurando notas com alterações para o próximo ano que irá acontecer de 19 a 22 de Agosto.
Depois da Conferência, a Music Session de Time For T.. A folk tranquila deste quarteto veio aconchegar o início de tarde, juntamente com os raios quentes de sol que se faziam sentir. Trazem na mala um álbum novo a apresentar em Outubro deste ano – Galavanting – e dele tocaram “Screenshot”, “Practicality” e “Eyes”, trata-se de um folk translúcido e sereno que combinou com o cenário que tinham ao seu redor.
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Já no recinto do festival, uma certa tristeza por estar quase a chegar o fim misturava-se com a profunda ansiedade de mais uns quantos concertos, entre os quais, outro inesquecível.
Começo por falar da simplicidade bela e harmoniosa da delicada Alice Phoebe Lou que, estando com a garganta doente, nos brindou com um vozeirão de fazer arrepiar. É engraçado ver corpos tão pequenos e delicados com vozes fortes, monstruosas e cheias de garra. Não só de voz é composta esta menina, os seus dotes de guitarra também são de louvar e a simpatia de que é dona fez com que em poucos minutos tivesse o público todo com ela. Apesar de estar doente, não parou de saltar, de dançar e de se envolver por entre a música. Num registo melodioso e quase intimista, despiu a sua alma com o encanto genuíno de quem tem uma alma pura que gosta de se alimentar de música.
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Outra alma forte nos esperava no palco principal, mas desta feita, sem tanto jeito para lidar com público. Falo de Mitski, aquela por quem os fãs aguardavam para entrar no recinto às 17h, uma espécie de Björk sem emoção e com uma fixação visual quase lunática. A sua indie pop é constante e sem grandes explosões, algo que se possa dançar ao de leve mas que a meio do concerto já se torna cansativo. O que pode ser cativante no espectáculo em si é a performance dela com a cadeira e uma mesa onde faz acrobacias várias de modo repetido, lento e sem qualquer expressão facial. Em momento algum esboçou um sorriso e a sua voz acompanhou o momento pois nunca saiu do registo ténue sem dar mais nem menos. Algo engraçado de ver, mas três músicas são mesmo suficientes!
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De seguida, algo para arrebitar e voltar a ganhar um pouco de ritmo. Os Sensible Soccers estão de regresso e que belo regresso! Apesar de trio, o palco estava composto por mais elementos e, todos submersos por camadas de fumo, faziam-nos renascer aos bocadinhos como se nos injectassem gotas de guaraná a cada minuto que passava. Aurora está muito bem e recomenda-se. Estes rapazes continuam com a capacidade de construir texturas electrónicas com paisagens compostas de acordes intrometidos e alegres. Com eles, conseguimos percorrer caminhos diversos com várias cores e sabores, acabando por refrescar a alma a cada passagem. De olhos fechados, a viagem mental e o movimento corporal souberam maravilhosamente bem.
A hora estava a chegar e o formigueiro vinha com ela. No palco ao lado estávamos prestes a assistir a outro daqueles que foram os momentos mais marcantes do festival. Patti Smith já passou por tanto que podia ser uma pessoa fria e arrogante. No entanto, aquela alma livre e cansada continua abraçada á sua humildade, gentileza e genialidade como se estivesse agora a dar os primeiros passos no mundo artístico. Revolucionária de sangue, poeta de alma e amante de coração despiu-se diante de nós da forma mais simples, épica e especial que só ela consegue fazer. A boa noite foi logo dada com “People Have The Power” e com ela uma força a crescer dentro do peito que quase nos fazia explodir e ir flutuando no ar. Com ela, invocações, apelos e uma força da natureza que nos ajuda sempre a repensar coisas que vivemos e vamos viver. “Are You Experienced?” de Jimi Hendrix veio reforçar que tudo o precisamos é unidade e nada mais que isso. Lá atrás, a banda acompanha-a com os melhores solos e acrobacias instrumentais. Não há muito a descrever sobre este rock poético nascido da revolução, da rebeldia e do coração. É preciso paz e amor! Oh Patti, se é! E quanto nos deste tu neste momento. “Beds Are Burning” de Midnight Oil para surpresa e antes de ir buscar mais um chá, mais uma dedicatória em braços com a guitarra acústica a todos os que morreram num momento arrepiante com “Beneath The Southern Cross”. Em jeito de comemoração dos 50 anos do Woodstock e da celebração da liberdade, a sua banda dá início à versão de “I’m Free” dos The Rolling Stones que se mistura com “Take a Walk On The Wilde Side” de Lou Reed. Momentos mais intensos e de cortar a respiração com nós no peito vinham com “After The God Rush” de Neil Young tocada ao piano e com as lágrimas da Rainha a acompanhar. “Because The Night” começou a acelerar o coração que quase saiu pela boca em “Gloria”, última música.
O que aconteceu naquele palco não foi apenas um concerto de música. Foi uma partilha de amor, energia, pensamentos e força que nos deixaram atordoados. Liberdade acima de tudo e muitos anos de vida para esta alma bela que tanto nos faz bem. Obrigada Rainha do rock!
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O festival terminaria em beleza com mais uma surpresa. A banda de britpop dos anos 90 chegou e arrasou! Os Suede deram um concerto extremamente enérgico e alucinante. Vinte anos depois a banda regressa ao anfiteatro natural mais explosiva que nunca. A banda de rock alternativo que fez parte da adolescência de muitos que ali estavam contagiou o público com uma construção musical de louvar, uma voz incrível e uma performance ainda melhor. Brett estava possuído por uma força qualquer o fazia correr de um lado para o outro, ir para o meio do público, dançar, saltar sem nunca perder o tom, revelando ser um verdadeiro animal de palco algo transcendente até. Do álbum lançado no ano passado só apresentaram “As One” e “Life Is Golden”, sendo todo o concerto composto por uma viagem ao repertório da banda e ao nosso também. Para a recta final, “Trash” e “The Beautiful Ones” tendo o encore começado com a “She’s in Fashion” em acústico. Uma aura de felicidade e nostalgia pairava por cima das nossas cabeças tendo-se feito uma viagem ao passado a bordo de um jacto de adrenalina bastante intenso e viciante. Brilhante encerramento de noite e de mais uma edição deste paraíso à beira rio que tanto nos aquece a alma.
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Resta-me fazer o balanço desta 27ª edição que ultrapassou todas as expectativas e me vai marcar para o resto da vida, garantidamente. Falo principalmente do cartaz e dos grandiosos concertos a que assistimos. A melhoria na distribuição do lineup foi aprimorada relativamente ao ano passado e o gosto também. O problema do excesso de pessoas, apesar de a organização não ver como problema, é algo que dificulta a boa circulação e o aproveitamento dos espaços comuns tanto à hora da refeição como na hora das necessidades básicas, algo que aconselharia a melhorar de futuro.
De resto, só tenho a agradecer tudo o que me é ofertado naquele sítio, principalmente a nível emotivo.
Até já Vodafone Paredes de Coura!
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