Pós-punk (do Inglês: post-punk), é um género musical surgido na Inglaterra após o auge do punk-rock em 1977, mantendo as raízes do movimento punk, porém de modo mais introspectivo, minimalista e experimental. Pode ler-se na Wikipédia.
Em 2019, o género está mais vivo que nunca no sentido em que desde 1977 essa orientação minimalista, por vezes bem ritmada com acordes a espaços e uma contenção na melodia, ou seja, um oposto talvez de bandas como os Yes ou Emerson, Lake & Palmer que povoavam as suas canções de melodias orelhudas, o post-punk vingou então mantendo a crueza a espaços de uns Sex Pistols, e mais tarde dos Pil por exemplo, e pululavam nessa definição estilística os nomes que todos conhecemos hoje e que também se podem ler na wikipedia, os eternos The Fall, Siouxsie and The banshees, Joy Division, etc.
No início do concerto dos Isolated Youth no RCA Club, com assistência ainda a deixar muito espaço na sala, mas com muita vontade de ver dois bons concertos, fazemos uma nostálgica viagem a esse minimalismo, a esse jeito de cantar ora semi-melodioso, por vezes quase gritado. Com “Oath”, música essencial do EP de estreia destes miúdos, pois, segundo ouvi dizer o vocalista Axel Mårdberg ainda não terá completado uma vintena de anos, vemos numa só canção a definição pura do post-punk, introspectivo, denso, minimal, sofrido e hipnotizante. Espero que a infância do cantor tenha sido minimamente feliz. Mas caso não tenha sido o caso, já valeu a pena à conta de uma canção como esta. O concerto dos Isolated Youth, decorreu com alguma estupefacção minha, de forma pouco comunicativa com o público, sentia-se algum excesso de timidez com a interacção com a audiência que não era tão reduzida quanto isso tendo em conta que ao mesmo tempo se desenrolava o último dia do Festival Extramuralhas em Leiria trazendo propostas a ouvintes de gostos post-punk e similares. Por isso ainda assim se conseguiu uma assistência que, se não esgotou a sala, longe disso, estava completamente sequiosa de ouvir as propostas ao vivo das duas bandas que compunham o cartaz de hoje. Esse abandono e essa timidez, algo que até poderia ser confundido com alguma displicência ou falta de satisfação por ali estar, quebrou um pouco essa conexão que o público esperava ter com os Isolated Youth, que deram um concerto ainda assim muito sui generis, ou seja, as canções são mesmo boas, sobrevivem a um som um pouco amassado (que saía) do PA em contraste com a mix perfeita que foi depois o som de Actors, sobrevivem mesmo a esse desligamento dos músicos para com o público presente. Músicos que aqui demonstraram competência e confirmaram um talento nato para escrever canções.
Axel Mårdberg, na sua tenra idade, canta mesmo com alma sofrida, tem um timbre muito peculiar e como frontman nesta noite, a única crítica que lhe faço é que poderia sorrir para a audiência, e aprender a dizer “obrigado”. Mais tarde a bem da verdade tirei a teima e até troquei seis palavras com eles para uma foto, e confirmei que são simpáticos, não transpareceram isso em palco, o que é pena. Sobraram as fantásticas canções, a interpretação emotiva de um fado quase gótico, e se a Amália Rodrigues tivesse nascido rapaz na Suécia (onde têm tão pouco sol), seria este cantor. “Safety”, talvez a penúltima canção, foi magistral. Com apenas um EP, espero que façam de seguida um álbum empolgante, mesmo com canções como as de “Seasons” e explorando esse jeito para canções minimais (mesmo que não repetitivas), há mais público para isto, e ouvimos alguns temas inéditos que também soaram bem, mas não há registo para a memória auditiva… Encerraram o concerto com um deles, que tem o título, penso eu, de “Ferris Wheel”.
Com os Actors depois a entrarem em palco a “conversa” foi diferente, uma banda que não aprecio tanto em disco, têm um som e uma reputação de serem super animados e exuberantes na suas actuações. Logo ao primeiro tema, o que o frontman Jason Corbett fez foi comunicar com o público que respondeu com enorme energia positiva, os Actors não pararam de dançar um momento, Jason não chegou ao ridículo de um performer ao nível do Festival Eurovisão (mas esteve quase), o que só lhe ficou bem. Com enorme sorriso rasgado, a boa disposição destes músicos, aliada a uma performance sem um único defeito a apontar, bem oleada, sem hesitações com a atitude “chegámos e conquistámos”, com nota dez para a sonoplastia que se fazia sentir na sala elevou o nível de performance a nota máxima.
Com efeito, o som mais rock e pujante que se faz sentir no concerto destes canadianos agrada-me mais do que em disco, esta é uma banda para se ouvir na sua melhor forma ao vivo. Quase a meio desta actuação foi impossível não dançar ao som da, para mim a melhor canção deles até à altura, “Face Meets Glass”, tão anos 80 que é, um tema fantástico, com as vocais e teclados de Shannon Hemmett a contribuírem para esse ambiente deliciosamente pop retro sem perder modernidade. Outro tema igualmente fantástico ainda antes, o inevitável “L´appel du Vide”, com o baixo demolidor de Jahmeel Russell, todos os outros como por exemplo “PTL”, ou “Slaves”, não baixam a fasquia com a guitarra de Colbertt muito bem modelada pelos seus pedais (escolhas interessantes a nível de efeitos que este guitarrista e cantor faz), a espaços a encher as canções. Não tenho muito para dizer do concerto desta banda canadiana, a não ser que foram mais do que competentes, deram um concerto empolgante para um público rendido desde a primeira canção. Vê-se claramente que adoram o que fazem. E isso passa para a audiência. Nota máxima também para o baterista Adam Fink, sempre a segurar a banda com um ritmo imparável.
Em resumo, o post-punk desde 1977 chegou à Suécia e ao Canadá há muito tempo e hoje esteve aqui connosco em Lisboa, em mais uma excelente organização da At The Rollercoaster, uma promotora que recebe os seus clientes em cada uma destas ocasiões como amigos que tal como eles partilham o amor pelos bons concertos. Venham mais noites assim.