Chegámos ao dia 31, último dia do “meu querido mês de Agosto”, último dia da décima edição do EXTRAMURALHAS. Ainda não eram 18h quando nos dirigimos para o Museu de Leiria para assistir à dupla francesa Meta Meat. Agora, relembrando aquele dia, pensamos no quanto não íamos preparados para o que íamos ver, para a qualidade do que íamos presenciar. Este é um daqueles casos em que as palavras escasseiam para verbalizar o que pretendemos tal foi a nossa estupefação, o nosso deslumbre com a atuação dos músicos Somekilos (Hugues Villette é o seu nome verdadeiro) e Phil Von (uma das figuras mais carismáticas da banda de música de teatro gaulês, criadores da corrente “electroflamenco”,Von Magnet). A sua sonoridade pode descrever-se (de uma forma redutora) como a fusão de música eletrónica, com percussões viscerais e alguns arranjos melodiosos, arrepiantes à mistura. Em palco o primeiro artista ocupou-se da percussão e o multitalentoso Phil Von da componente performativa bastante presente em todo o concerto. Dançou, cantou, tocou, sapateou e esbanjou sentimento, talento. A plateia abismou. Tal como as palavras rarearam para escrever os aplausos soaram a pouco naquela tarde.
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Um dos momentos mais esperados deste festival chegou às 21h no Teatro José Lúcio da Silva. A banda norte americana She Wants Revenge lotou completamente esta sala de espetáculos. Um sentimento generalizado de euforia (semi controlada) era palpável no ar. Ainda mal tinham começado e o público já estava rendido. À medida que o concerto foi avançando alguns “góticos” iam-se levantando e dançando nas laterais. O corpo já não conseguia estar confinado a uma cadeira, Tinha de se libertar. E aos poucos e poucos, ainda a medo, os espetadores foram assumindo o seu lugar, respeitosamente, de pé. Os músicos tocaram vários temas, soberbamente, conhecidos como “These Things”,“Written in Blood”,“Tear Your Appart” e num interregno entre músicas, face ao silêncio perturbante que se sentia no ar, o vocalista Justin Warfield afirmou “So quiet!” Atingimos o ponto de viragem. A partir daqui o público explodiu.“Are you not allowed to dance or what?” perguntou o baixista Adam Bravin. Não foi necessário perguntar mais nenhuma vez, massivamente, o público respondeu dançando e aplaudindo até ao final daquela hora e meia de concerto.
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Mais uma caminhada até ao Jardim Luís de Camões mais um espetáculo à nossa espera. Passava pouco das 23h quando subiram ao palco os Black Nail Cabaret (BNC). Regressaram a Leiria após a sua passagem por cá no Festival Monitor em 2018. Esta banda é composta por dois elementos Emese Arvai-Illes (voz) e Krisztian Arvai (teclas). “BNC is representing a fine balance between vintage and modern, building a bridge from new wave to contemporary pop.” Afirmam eles. Tudo isto em tons de preto. Dizemos nós. A voz segura, sensual, quente da vocalista ajudou a moderar o frio que começava a fazer-se sentir.
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O misterioso quarteto sueco Wulfband atuou de seguida e por razões diversas, de certeza, que ficará na memória de quem assistiu. Possivelmente será mais um estória na história deste festival. Esta banda, que mantém em absoluto anonimato as suas verdadeiras identidades, surgiu em palco com as suas características máscaras e com uma energia possante. Tal era o êxtase que o vocalista, que estava num estado tremelicante, tanto cantou sentado (apoiado noutro elemento da banda) como de pé porque o seu equilíbrio era frágil. Houve punk, eletrónica e muitos uivos explosivos que contagiaram o público. O ambiente que se criou foi muito peculiar e a verdade é que não conseguimos tirar os olhos do palco. Foi unanimemente épico? Possivelmente sim. Pelos mesmos motivos? Possivelmente não. Marcaram a noite? Indubitavelmente sim.
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A digerir os Wulfband fizemos pela última vez o percurso até à Stereogun. O dia, a noite, o Extramuralhas disse adeus ao som de, outra estreia nacional, Traitrs. Mais uma dupla composta por dois amigos Sean-Patrick Nolan e Shawn Tucker. Post-punk, cold wave e uma voz obscura que nos fez lembrar o inconfundível Robert Smith dos Cure. Seduziram-nos até ao fim.
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Já podemos despir o vestuário preto. A cor deste festival fica, agora, guardada em nós.
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