A pianista e compositora polaca Hania Rani, estreou-se em Lisboa e no Porto a semana passada. Na verdade é a sua segunda actuação por cá, tendo estado em Portalegre e em Vila Real em Janeiro passado. Com uns joviais 30 anos, quase comemorados no palco do MusicBox em Lisboa a 5 de setembro, a brilhante Hania é definitivamente um prodígio do piano. Vive entre a bonita Varsóvia e a explosiva Berlim e há 6 anos que tem subido aos vários palcos da Europa encantando o público. Depois de ter colaborado em vários trabalhos colectivos e composto para outros músicos, compôs o seu primeiro álbum a solo durante uma estada profissional em Reiquiavique, “Esja”. “Esja” é o nome de uma montanha na Islândia e que é possível visualizá-la em qualquer parte da cidade de Reiquiavique. “Esja” é uma compilação de músicas quase que independentes ou singularmente construídas. Como se cada uma fosse uma estória única vivida pela delicada Hania.
A delicadeza nas mãos, a voz angelical e docemente frágil hipnotizaram a sala do MusicBox, onde apenas se ouvia o aparelho do ar condicionado ou um copo ou outro a tilintar com cuidado. “Glass”, a representar a sua própria fragilidade e luminosidade, ou um “Eden” que enchia o piano de preciosismos harmoniosos. Um toque de raiva, preciso e contínuo na mão direita que interpretou em “Esja”. A mão esquerda, aquela mão esquerda que descansava numa dança suave ao longo dos temas, mas que em “Esja” se espraiava ao longo do piano como imersa numa liberdade de reconciliação da raiva que ali continuava.
Cada tema é único, sem repetições de acordes, sem refrões cansativos e intermináveis. De olhos fechados, Hania deixava cair a cabeça para trás abanando-a ligeiramente enquanto enxotava as falanges, que serpenteavam com um controlo exímio na intensidade sobre as teclas. Loops de voz, timidamente sobrepostos nos poucos temas que cantou. Mas apesar da voz afinada no refúgio dos anjos, foi definitivamente a sua desenvoltura visceral com o piano que nos maravilhou. Rematou as belas composições com os sons sobrepostos da natureza, onde o vento, a água e as folhas secas se encaixaram na perfeição no preto e branco daquelas teclas. A beleza das montanhas islandesas, o cinzento nostálgico e profundo de Varsóvia, ou a vivacidade da cosmopolita Berlim estiveram ali, estão ali naquele piano e naquela alma de menina grande. Um encore que na sua humildade tímida, ainda duvidou se nós o queríamos…Claro que queríamos, uma e mais outra, assim, de olhos fechados a levitar na beleza hipnótica de Hania.