Uma experiência que todos os que gostam de música deviam ter uma vez na vida. Assistir a Tim Bernardes ao vivo é uma experiência arrebatadora, capaz de emocionar e conquistar auditórios, como foi o caso do Grande Auditório do CCB, na passada quinta-feira, 19. O Recomeçar ainda tem muito sumo para dar, e ainda bem.
Portugal e Tim Bernardes já são palavras que aparecem com naturalidade numa frase nos últimos tempos. São várias as vezes que o paulistano vem a Portugal actuar a solo ou então com a sua banda, O Terno, do qual é o frontman.
A poesia encontrada nas suas letras, aliada com a sua delicadeza sonora, seja no piano ou na guitarra, fazem com tenha crescido um carinho enorme da parte do público português, e que seja necessário encurtar distâncias e fronteiras. A fórmula ter crescido e ainda mais este carinho? Assisti-lo ao vivo. As vezes que forem precisas.
Desta vez, o Grande Auditório do CCB foi o palco encontrado para receber o jovem de 27 anos. Para ele, foi o maior palco onde já tocou (tirando o Maracanã, quando abriu para Los Hermanos, no final do mês de abril deste ano). Com uma atuação intimista, com presenças mínimas de luz (e por momentos, com o auditório às escuras), viajamos para um imaginário semelhante ao seu quarto. Um quarto com espaço para todos.
O Recomeçar já data de 2017, mas ainda assim, cada audição é um recomeço para nós, que faz tanto sentido como da primeira vez. As letras que sensibilizam qualquer um e de levar quase à lágrima no canto do olho, como o Não ou o Ela. Mas como ele dizia no final de cada música, “Tá tudo bem. Seguimos?”.
E é assim sempre com as emoções à flor da pele que seguimos viagem com os temas do Recomeçar, como o Tanto Faz, o Quiz Mudar, o Talvez, mas também coisas d’O Terno, como o Pra Sempre Talvez ou ainda o Volta (tocado já no encore). Mas não é só com as letras escritas por Tim que há emoção.
Ao longo do concerto não perdeu a oportunidade de viajar no passado e no presente, tocando músicas de bandas e artistas que lhe dizem muito. Como por exemplo, Black Sabbath com o Changes (em que a sua interpretação fica a par da genialidade de Charles Bradley, o malogrado cantor norte-americano, e que também guarda muita saudade cá em Portugal), ou então Jorge Ben Jor, com o Que Nega é Essa, ou ainda o Soluços, do pouco conhecido cá em Portugal, Jards Macalé.
O público foi mais contemplativo do que interventivo nas músicas, tirando na hora dos aplausos, com gritos e assobios à discrição, o que é totalmente justificável – ele merece. Nós só queríamos que fosse possível ver um concerto do Tim todos os dias. Para a despedida, chegou a hora de ouvir o Recomeçar. Tema que faz abertura, meio e fim do disco.
Se chegou a hora de deixarmos o Tim seguir viagem ao longo da sua tour por Portugal, a verdade é que não chegou a hora de deixá-lo. Ele pode ficar e trazer os seus amigos d’o Terno de volta, que não nos importamos. E foi algo que deixou implicitamente no ar. Aguardemos, ainda com a pele arrepiada, no estado que nos deixou.