20191005 - Concerto - Wayne Hussey (The Mission) + Ashton Nyte @ RCA Club
Concertos Reportagens

Wayne Hussey e Ashton Nyte no RCA Clube: A noite dos Mariachis góticos em Lisboa

Logo de imediato ao entrar no RCA Club, somos abraçados pela dark-folk do sul-africano Ashton Nyte e se, de dark-folk estamos aqui a falar, fora deste registo acústico prometido para esta noite, a carreira deste intérprete divide-se entre os The Awakening, projecto de dark rock e uma carreira a solo que paralelamente vai dando novo fulgor à sua voz de barítono que nesta noite, assim como se presume nas restantes datas desta Salad Daze Tour, recebeu muito bem os convidados, leia-se: o público que acorreu a esta sala para ouvir dois concertos que se previam acústicos, sem grandes surpresas, e que prometiam versões intimistas e despidas das canções dos intérpretes que pisaram o palco. Com efeito, Nyte entregou isso mesmo ao público e tal como ele mesmo o disse a certa altura: como um Johnny Cash muito deprimido.

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Gostei particularmente do andamento das canções, a competência nas guitarras, que segundo disse, não estavam habituadas ao calor de Lisboa, prejudicando a afinação das mesmas em palco. Desenrolou sem percalços canções dos The Awakening, assim como as dos seus álbuns a solo e de outras colaborações. Tivemos direito à versão que o celebrizou na sua terra natal e um pouco pela Europa com os The Awakening, “The Sounds Of Silence” de Simon & Garfunkel, numa noite despida de guitarras hard n´heavy, e ainda bem que assim foi, essa canção juntamente  com a bonita “Storm”, do projecto do outro lado do Atlântico Beauty In Chaos de Michael Ciravolo, foram para mim as mais memoráveis. Na minha opinião, a voz de Ashton Nyte não precisa de grandes orquestrações e nesta noite em regime acústico pudemos constatar isso mesmo. Embora não muito conhecido por cá, tinha sem dúvida alguma alguns fans presentes e interessados na sua música. A presença simpática, e a honestidade também ajudou, Ashton Nyte é um artista que se mostrou competente e bem preparado, e nesta noite deu um muito forte contributo para esse ambiente intimista e um tanto negro que se esperava que estivesse presente  na sala.

  • 20191005 - Ashton Nyte @ RCA Club
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Com Wayne Hussey, tudo ao contrário. Nem se pode dizer que tenha sido muito intimista, pois o cantor (porque o é verdadeiramente, embora também um excelente guitarrista – é  com efeito a sua voz e as suas canções que levam vezes sem conta o mesmo público a encher salas), trouxe para além de guitarras acústicas, backing tracks, e piano também uma guitarra eléctrica. A certa altura neste interminável set, pensei que ía colocar um backing track de “Tower of Strengh” e dançar como se um concerto dos The Mission se tratasse, tal não chegou a acontecer com efeito mas esteve quase, tive essa sensação. O emblemático ex-Sisters Of Mercy nem se coibiu de fazer uma versão de “Marian”, o que apesar  dos ritmos escolhidos e o estranho efeito na guitarra eléctrica ter soado isso mesmo, estranho, certamente estará uns furos acima do que Eldritch e companhia fazem hoje em dia em palco. Também houve um longo medley com “Wasteland” a incluir pelo meio algumas das versões que a sua voz popularizou: “Like Hurricaine” de Neil Young ou, “Dancing Barefoot” de Patti Smith e, mais algumas numa desgarrada de improvisação e pujança vocal só à guitarra acústica.

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Isto, e para nosso pasmo, estando Hussey visivelmente abatido com gripe e com alguma tosse inclusive, a sua voz, por algum milagre não perdeu a força e já íamos nessa altura com mais e duas horas de concerto. Tudo isto foi maravilhosamente bizarro e embora alguns tivessem mesmo que abandonar a sala por força da ditadura dos transportes públicos que escasseiam nesta zona de Lisboa a esta hora, Hussey estava ali para cantar e tocar trazendo um concerto longo, como se contasse de uma história que não se conta em hora e meia, (um pouco como o seu livro “Salad Daze”que dá o nome a esta digressão), este é um artista que nos conta e retrata o seu enorme percurso ali em palco o melhor que pode.

Para mim embora tenha sido porventura longo demais, foi sem dúvida também muito bom a partir do momento em que temos canções como “Naked and Savage” arrepiante ao piano, ou “ Dragonfly” belíssimas – nem a clássica  “Butterfly on The Wheel” chegou perto dessas duas a nível de beleza interpretativa. Só essas canções já valiam o preço do ingresso. Mas tivemos “Belief” ou “Bird  Of Passage” por exemplo também pérolas do imaginário romântico dos The Mission. Hussey deu tudo e embora a certa altura tenha esticado as regras do acústico bem-comportado, até uma versão de “Hurt” dos Nine Inch Nails conseguiu a incluir nesta extensa selecção de temas. Depois, no final, foi como se  que tivesse trazido consigo a sua banda de sempre os The Mission, tamanha foi a explosão de solos eléctricos que fez soar em palco. Hussey arriscou e como sempre sai-lhe bem o tiro, até porque pode. Pode-se dar ao luxo de tocar visivelmente constipado um concerto de duas horas e meia sozinho em palco porque tem público e mestria para isso. Nós agradecemos e vamos exaustos, contentes e satisfeitos para casa.

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