Foi absolutamente memorável a noite no LAV, com os The Psychedelic Furs a figurar na lista como entrada, prato principal e sobremesa. Com efeito, estranhou-se a falta de banda na abertura do concerto, fosse em Espanha daqui a uns dias e teria sido David J (Bauhaus, Love And Rockets) a cumprir essa função. Acontece que nessa mesma noite o músico inglês estaria a tocar no Musicbox no Cais do Sodré e – se os Furs despacharem a coisa, ainda poderemos lá dar um pulo, pensei eu, afinal David J estava previsto começar às 22h30. – Nada de mais errado neste meu raciocínio, depois desta folgorosa e inspiradora performance destes veteranos que apesar de terem iniciado a sua prestação pelas 21h16 e às 22h40 o concerto estar já terminado com encore feito, já não valeu a pena ir ouvir mais, fosse lá mais o que fosse. Seria o equivalente a depois de uma deliciosa sobremesa, comer outra diferente. O palato não reage bem após esta explosão de sabores intensos quando misturados numa só noite. Dos The Psychedelic Furs, a partir de agora neste artigo referidos como os Furs, a bem da economia de texto, só posso dizer bem.
Quanto a mim, este concerto foi imensamente superior, ao que tenho registado na memória ter assistido nesta década, ao do Coliseu dos Recreios. De certeza que muitos teriam presenciado esta banda ainda nos anos noventa nessa mesma sala, mas para mim, foi a minha segunda vez, e esta sala, o LAV, foi o sítio ideal para uma performance que certamente me induzirá nas próximas semanas a cantarolar “Pretty in Pink”, “Heaven” e semelhantes melodias dos Furs. Mas para mim, e porque isto de ir ver concertos é para todos os gostos, o momento alto e penso que será consensual, foi mais ao menos a meio do show (porque foi disso que se tratou, de um show) o magnífico “Sister Europe” e de seguida “Heaven”, tocadas de forma ultra-competente, entusiasmante e a levarem a sala ao delírio com esses dois temas.
Mas para ilustrar o que se passou não se começa pelo meio, antes deste momento absolutamente brilhante – em especial “Sister Europe” com aquele baixo e aquela fantástica e emotiva parte de saxofone onde a energia transbordou a rodos nesta banda compenetrada e exemplar – os Furs, já tinham demonstrado ultra-competência, iniciando o set com ”Dumb Waiters” música com laivos punk onde Richard Butler se assemelha mais a um John Lydon fase PIL embora a canção seja de 1981 foi a abertura perfeita quanto a mim. A seguir a mais uma canção do disco Talk Talk Talk em que o guitarrista ritmo se queixa de problemas técnicos – talvez um pouco por isso a banda tenha de seguida entrado menos compenetrada e em menor sincronia do que se estava à espera em “Love My Way” (o que foi pena), mas ninguém se queixou tamanha a magia do tema e os sorrisos rasgados com que os músicos nos presenteavam e presentearam durante todo o concerto.
Daí para a frente foi rápida e eficaz a magia dos Furs, o concerto não foi longo, a set list foi bem escolhida, nem sentimos a falta de “Here Come Cowboys”, omisso do alinhamento, pois tivemos jóias como “President Gas”, “Heaven” e já depois no encore, “India”. Foram ao todo 16 canções e caros leitores, com sinceridade, não esperava que fosse tão bom. O nível de energia, em especial com as guitarras de Rich Good e os sopros de Mars Williams, a por vezes conseguirem roubar um pouco das atenções aos irmãos Butler, tamanho foi o empenho e o saber tocar. No geral, a banda toda muito bem oleada a transpor estas canções para o palco com uma frescura deliciosa. A sala e o som equilibrado que se fez ouvir terá porventura ajudado, a proximidade com os músicos levou a que fosse um concerto muito confortável de assistir, podendo o público apreciar e ver cada acorde tocado em palco. Para já e quanto mim, um dos concertos do ano.