Uma noite chuvosa e aguada, tipicamente outonal, foi aquela que marcou a passada quinta-feira, dia 17. Perante tal cenário, o conforto do lar é por muitos o mais desejado. Mas quiseram os céus que três cometas britânicos rompessem por estas nuvens de Outubro e aterrassem no Lux Frágil: passados cinco anos, os The Comet Is Coming regressavam a Portugal.
Danalogue, Betamax e King Shabaka são os três tipos que dão a cara a este endiabrado projeto que tem o jazz bem enraizado na sua sonoridade. Mas dentro deste núcleo, e certamente um dos factores que mais nos puxa nesta banda, é a infusão dos variados géneros que se juntam ao barulho, nomeadamente influências electrónicas e de rock psicadélico. Tem tanto de estranho como de atrevido, e a junção é no mínimo viciante. E o Lux Frágil compôs-se (e bem!) de ‘agarrados’ a esse vício.
Na teoria esta fórmula tem de tudo para ser incendiária. E como é que se comporta na prática? Nada mais do que explosiva, com as primeiras notas cuspidas pelo saxofone de King Shabaka em “Super Zodiac”, acompanhadas pela galopante bateria de Betamax, a acenderem o rastilho desta dita dinamite. Não sendo senhores de cerimónia seguiu-se uma “Summon The Fire” que fez jus ao nome e invocou uma vibrante energia capaz de pegar fogo à sala e evaporar toda a pinga de chuva que caía nas redondezas. Duas canções e isto já cheirava, no meio da pólvora, a vitória.
Mesmo que as atenções se focassem (quase) todas no endiabrado saxofone de King Shabaka, muito por culpa dos improvisos soltos que estabeleciam o ponto de ligação entre músicas, a união entre os três músicos era a de uma simbiose perfeita, bem comprovada em “Blood Of The Past”.
Como acontece no universo do jazz, a melodia resulta na junção de todos os seus elementos num só; seja através da base nos teclados, a ordem ditada pela percussão ou a irreverência do saxofone, os The Comet is Coming são o cruzamento entre três distintos músicos cujo cunho pessoal resulta em canções destinadas a serem criadas em conjunto.
E assim se observou esta chuva de meteoros através de um saxofone capaz de disparar notas à velocidade de uma metralhadora, e de um par de teclados e bateria a soltar beats tipicamente Luxianos, como quem quisesse já dar como iniciado o matinée de dança da discoteca lisboeta, especialmente através de “Lifeforce Part II”. Afinal, há bons pretextos para se enfrentar as chuvadas de Outono.
