Já há algum tempo que os finais de Outubro se tornaram sinónimo do primeiro grande festival (Outono) Inverno: o Jameson Urban Routes. E como manda a tradição, o arranque do dito evento começou em grande e em bom som, desta feita para receber os Battles.
À primeira vista, os Battles que se iriam apresentar num MusicBox (esgotado) seriam uma banda fragmentada, uma sombra de um outrora trio na companhia de Dave Konopka; hoje, as duas facetas da banda são as de Ian Williams e John Stanier. Apesar da perda, as ambições experimentais da (agora) dupla curiosamente viram um aumento, com o mais recente Juicy B Crypts a ser prova disso, usando samples e sintetizadores como nunca antes, quiçá numa tentativa de dar ar fresco a um projeto já com quase duas décadas.
Porém, e para bem dos seus pecados, essa onda experimental que leva a banda a perder o seu lado mais atrevido, não quis acompanhar as andanças noturnas da Rua Cor-de-Rosa. O resultado? Uns Battles nus e crus, rapidamente comprovados pelas introdutórias “Fort Green” “Loops So Nice”. E era isso que o MusicBox pedia.
Comecemos já pelo óbvio: Stanier é monstruoso. O que este homem faz com os seus pratos e bombos tanto surpreende como intimida, tocando bateria com uma mestria irrepreensível, mas sempre com cara quem está a soltar as suas frustrações. E apesar de toda a importância da percussão na base dos Battles, as melodias electrónicas de Ian Williams são a cereja no topo deste saboroso bolo, fazendo jus às harmonias salivantes de “Sugar Foot”, levando a que este misto de agressividade electrizante seja uma experiência capaz de ser rotulada como sendo gourmet.
Neste serão de pura adrenalina, onde a precisão de cada baqueta e rodopio entre teclas eram escaldantes, sobressaía a forma de como era possível ter apenas dois homens a criar uma verdadeira orquestra; se há banda que dá veracidade à expressão de que o pouco consegue ser muito, são os Battles.
Ao longo de pouco mais de que uma hora, onze foram as musculadas sinfonias que constaram no reportório, com os corpos de meia plateia a não se conseguirem conter perante ritmos tão alucinantes. Curiosamente, a exigência de se tocar bateria de forma tão feroz era notória na cara de Stanier, visivelmente de rastos com o decorrer da noite. Porém, a noite seria como de um crescendo para os lados da percussão, agiganto-se tema após tema; quem diria que mesmo com meia hora de tanta exigência física, Stanier ainda conseguiria arrasar em “The Yabba”? Ou que a função repartida entre teclas e cordas de Williams o conseguiriam levar-nos a outras dimensões em “Atlas”?
Para o final, e já em serão de obrigados e elogios, “Ambulance” ouviu-se em tom de despedida e como ponto final numa alucinante maratona de ritmos e melodias. O Jameson Urban Routes não poderia pedir por melhor arranque.