Viveu-se uma noite intimista no MusicBox, tal como o folk assim o exige. Não é nenhuma novidade por aí além, ou não fosse este o registo onde esta música de embalar melhor assenta. Infelizmente, para os não amantes do estilo, um concerto folk tanto pode ser o oito como pode ser o oitenta: ou comove ou aborrece. Raramente há um meio termo, mas houve-o com Jessica Pratt.
À boleia do seu terceiro disco de originais, Quiet Signs, Pratt não teve uma enchente à sua espera, e deduzimos que poucos eram os curiosos que por ali pernoitaram; quem lá estava era fã assumido da norte-americana e sabia bem para aquilo que ia. Só não imaginavam o abafado que se faria sentir na sala, ou não tivesse a artista pedido que se desligasse a ventilação. Um abafo sufocante, dito em palavras simpáticas.
Fazendo-se acompanhar por um teclista capaz de montar a base sombria e melancólica do seu mais recente disco, as atenções de Jessica repartem-se apenas por guitarra e voz, uma cuja rouquidão acusa logo a emoção reside em cada canção, com “Wrong Hand” e “Poly Blue” a provarem-no pelo meio dos primeiros acordes da noite.
“Opening Night” e “As The World Turns” foram tocadas de seguida, tal como acontece no novo disco, conseguindo, mais uma vez, soar como um só tema onde o primeiro serve de prelúdio à soltura do alcance da sua voz, ouvindo-se os primeiros rasgões num timbre que teima ser demasiado cristalino para o seu próprio gosto.
E são estes pequenos ‘erros’, que demonstram o seu lado mais humano, que ajudam a tarefa de Jessica Pratt em comunicar com um público que raramente foi mais do que meramente espectador. Aliás, são esses mesmos ‘erros’ que a fazem sair de um registo demasiado semelhante e sem grandes distinções entre temas.
E foram esses ditos ‘erros’ que não aborreceram a plateia e que levaram a mesma a comover-se quando o intenso abafo da sala não a sufocava. E assim, com a ajuda de “On Your Own Love Again”, alcançou-se o meio termo entre o bronze e ouro: uma medalha de prata para Jessica Pratt.