Era previsível que um concerto dos The Danse Society em Lisboa gerasse algum interesse. A banda foi objecto de algum culto nos anos oitenta, fruto de canções, algumas que de certeza foram presença obrigatória nas matinés ou noites da Jukebox lisboeta. Enfim, depois do vocalista original aquando das primeiras sementes de reformulação se ter mostrado indisponível para o regresso, surgiram as primeiras altercações entre membros do grupo, uns com os outros, sendo que nestes The Danse Society somente o guitarrista Paul Nash fez parte da formação original.
Quem esperava um absoluto regresso ao passado com os mesmos rostos que popularam o seu imaginário juvenil no que diz respeito a esta banda, estava prestes a ficar surpreendido… Contudo, antes, ainda tivemos os Wildnorthe com uma prestação ainda mais operática do que da última vez que os vimos nesta sala. Agora apresentam-se em trio com a entrada de João Vairinhos para a bateria, músico talentoso que como seria de esperar a julgar pela última vez que o vi a tocar nesta sala com Ricardo Remédios, traria uma forte dinâmica à musica dos Wildnorthe em palco. O projecto de Sara Inglês e Pedro Ferreira é uma banda interessante e em especial pela razão apresentada gostei mais deste concerto pois um bom baterista em contraposição com ritmos pré-programados ou o que seja eleva sempre a fasquia. Quanto a mim confesso que achei exagerada a atitude estática e teatral que apresentaram na interpretação das primeiras canções por detrás dos teclados enquanto olhavam fixamente para a audiência. Achei que os dois vocalistas e multi-instrumentistas, uma espécie de ‘kraftwerks’ mecânicos e sinceramente, essa pose não lhes ganha sobremaneira favores com a audiência. Independente disso, eu que não fiz o trabalho de casa ainda não tomando conhecimento com o novo disco deste grupo, ou seja, um primeiro álbum de originais, teria ficado indiferente às intricadas mudanças de ritmos e acordes com alguma propositada dissonância que imprimem por vezes a estas canções e que estão lá para quem quiser tomar atenção não tivessem esses pormenores de composição um je ne sais quoi de elegante. No final, fiquei mais agradado com as duas últimas canções pois achei que terminavam como deveriam ter começado, mais descontraídos, menos teatrais e imprimindo uma forte descarga sonora onde o goth, e até de alguma estranha forma de metal subliminar (sem o barulho desnecessário de guitarras a rasgar), andam lá combinados. Boa prestação vocal da vocalista em especial nesses dois últimos temas que me entraram muito bem. No geral, agrada-me a ideia de um duo vocal com estes arranjos. Trazem variedade e são realmente bons trabalhadores a julgar pela quantidade de opções sonoras que trazem para palco. Vou verificar mais atentamente o álbum Murmur deste grupo nacional.
Depois, The Danse Society, ao trocar impressões com alguns dos restantes convivas cá fora no intervalo, apercebo-me que alguns nem sabiam que agora é uma voz feminina a tomar conta do microfone nesta nova formação. A banda surge assim em palco renovada com novos rostos e não deve ser fácil em especial para a vocalista Maethelyiah que teve de substituir Steve Rawlings, o vocalista original que nada mais fez do que gravar uma canção nova e depois ficar incontactável até hoje desde que esta ideia de reunião da banda tomou fôlego. Não é, convenhamos, fácil ou um trabalho invejável e assim, esta banda com entradas e saídas de músicos com alguma frequência, tem seguido em frente com esta parceria entre a cantora e o guitarrista/ teclista Paul Nash, um dos membros fundadores dos The Danse Society e assim baluarte desta designação.
O concerto a que assistimos foi pouco convencional. Pois é com efeito e quanto a mim, uma nova banda que ali está a interpretar temas clássicos, digamos assim, canções essas muito ligadas a um período para muitos especial dos anos oitenta onde, me pasma constatar que afinal essas canções nem sequer foram as que soaram melhor aos meus ouvidos neste concerto. Com efeito, foi uma canção nova ou inédita segundo os próprios com um interessante uso de e-bow na guitarra de Paul Nash cujo título me escapou, que antecedeu o clássico “Heaven is Waiting” ou outra canção nova “Valerius Theme” e muito bem, claro, a versão dos The Rolling Stones que tanto os popularizou, “2000 Light Years From Home”, aqui a soar bem com a cantora a apresentar uma prestação convincente. Tivemos “Danse/Move” outra clássica canção, talvez a que levou os corpos a dançarem e até a um certo clima de festa mais generalizada na sala. Não compreendo a escolha de terminarem o concerto com a versão de ”White Rabbit” dos Jefferson Airplane incluída no disco Scary Tales de 2013, achei completamente despropositado, tinham ainda outras escolhas possíveis, eu bem sugeri da audiência “We’ re So Happy”, para mim a melhor canção dos The Danse Society… mas não me ligaram nenhuma, é pena, porque sou um poço de sabedoria, decerto teriam terminado de forma mais clássica. Mas esta foi sem dúvida uma noite singular também pela nostalgia e pelo bom ambiente que se viveu no Sabotage. Este grupo de músicos foi competente, não ultra entusiasmante para ser um concerto que me enchesse as medidas decerto, mas diverti-me e escutei temas que provavelmente em nenhuma outra ocasião tão cedo ouviria em palco. Espalharam good vibes e assumiram corajosamente o legado The Danse Society. Pouco mais há a dizer.