O título pode parecer um pouco sensacionalista, mas reclama-se aqui um pouco a atenção às letras que compõem o excelente portfólio de Weyes Blood, que passou de novo por Portugal, nomeadamente no B.leza, casa emprestada à ZdB, numa celebração que marcou o fim do aniversário da nobre instituição da música, situado no Bairro Alto. Uma noite quente, com uma plateia esgotada e que nos aqueceu de uma forma especial.
A noite era de frio, com a chuva sempre à espreita. Mas não foi motivo para afastar a já esgotada plateia do B.leza. Com vista privilegiada para o rio, nevoeiro e uma certa mística, o cenário era pintado de quente dentro do B.leza. Ainda assim, foi em tons mornos que tivemos a primeira parte, por Ana Roxanne. A artista que está a acompanhar a Weyes Blood, apresentou-se em palco com uma performance algo nervosa, em que por vezes tocava temas new wave, ou então poetry slams. Embora acusasse o nervosismo – afinal de contas, ela própria afirmou que era a primeira tour dela na Europa, e apesar do apoio do público – a verdade é que deixou muito a desejar. Quer dizer, o desejo pelo concerto da Weyes Blood.
Desejo esse que ainda demorou um bocadinho, mas lá aconteceu. Pela 7ª vez em solo luso, e depois do concerto na véspera em Braga, no Theatro Circo, Natalie Mering, sob o nome artístico Weyes Blood, entrou em palco acompanhada pela sua banda. “O Titanic ficou lá fora“, alguém gritava na plateia, numa referência ao tempo mas também ao álbum mais recente da californiana, Titanic Rising. A Lot’s Gonna Change, Used to Be e Everyday foram os três temas inaugurais do concerto que teve uma longa ligação e interações com o público.
A voz de Natalie é um abraço na alma. Aquece, conforta e por breves momentos tira o peso dos problemas do quotidiano. Embora os temas tenham sempre uma carga dramática de nível elevado, somos acolhidos e consequentemente abstraídos de quaisquer problemas. Seven Words, Something to Believe, Mirror Forever foram temas que se seguiram no compêndio da noite, temas também são reflexão para situações mais pesadas da vida. A morte por exemplo é retratada no Picture Me Better.
Num concerto em que pareceu uma elipse temporal, já que rapidamente caminhou para o fim, já que Wild Time, Andromeda e Movies, foram temas que serviram para apreciar a voz cheia, acolhedora e com outros mil adjectivos que se podiam indicar para a sua voz. Ainda assim, concerto que se preze, não termina sem encore, com o Do You Need My Love, Bad Magic e In The Beginning a constar na fase final do concerto.
À saída, mais uma vinda, quase a chegar às 10 mágicas. A cada vinda, Weyes Blood vai-se aproximando de um patamar mediático merecidíssimo. Um reconhecimento natural pelo talento tem e que a coloca no mesmo patamar de outras artistas também acarinhadas pelo público português como Angel Olsen ou Julia Holter. Fiquemos a aguardar pelo regresso rápido.