Por vezes precisamos de nos perder para nos voltarmos a encontrar. Precisamos de um abanão, um terremoto emocional e uma pequena viagem por caminhos desconhecidos, ansiosos e intensos.
Os Black Bombaim conseguem transpor isso para a sua música e pegar-nos pelo braço com rumo ao desconhecido onde nos perdemos e não queremos voltar. Mas quando voltamos, a alma vem coberta de uma camada de magnetismo sonoro que nos faz sorrir e desfrutar da vida.
João Pais Filipe, um dos melhores percussionistas de Portugal, juntou-se a Black Bombaim para, juntos, musicarem o Filme Dragonflies with Birds and Snake do realizador alemão Wolfgang Lehmann e foi daí que nasceu este álbum brilhante que, ao vivo, se torna numa força da natureza extremamente atordoante.
A apresentação deste disco que saiu no passado dia 12 de Novembro, foi feita na Galeria Zé dos Bois no passado Sábado, dia 23 de Novembro.
Tinha ideia que este concerto me iria transportar por diversos caminhos, não só não defraudou como superou.
O loop começa com João Pais Filipe que durante alguns minutos nos agarra de imediato e faz de nós marionetas. Os restantes elementos sonoros entram em conjunto e o chão começa a tremer. A explosão musical é tão forte que o vidro ao qual estou encostada vibra e o chão também quase que rebentando com o nosso interior. A força é demasiado densa e a mescla de sons em loop tira-nos o ar de tal maneira que o transe já está instalado. As forças que vêm do chão e das colunas dão choques de uma intensidade esquizofrénica e demente que vicia e se prende à mente com uma espécie de cola super 3. As massas sonoras vêm contra nós com uma força e densidade ofuscantes. Durante esta faixa (“Dragonflies”), a primeira e mais longa do álbum, sentimos, a uma certa altura, que estamos a fazer parte de uma espécie de culto a uma natureza obscura e libertadora ao mesmo tempo. O experimentalismo funde-se sabiamente com o kraut e guia-nos a um espaço onde a loucura está a girar à nossa volta. O baixo é constante e estável, garantindo o pouco foco de sanidade que nos resta; a guitarra arrasta uns pedais de distorção e efeitos que nos implantam um ninho de formigas dentro do corpo; a percussão está em primeira linha e detém o poder sobre as faixas e sobre nós. A segunda faixa inicia com um arco de violino a acariciar um imponente gongo regressando o estado de hipnose.
Durante estes 50 minutos, a respiração aumentou a sua velocidade vezes sem conta e o calor subiu à cabeça. O peito apertou e mini ataques de ansiedade se apoderaram de mim. A viagem fora feita por diversos caminhos e o corpo levitou por momentos, subindo nas densas ondas sonoras que existiam. O prazer sentido foi potente e o regresso à sala não foi fácil.
Obrigada por este terremoto físico, mental e sensorial.