20191123 - Festival - Super Bock Em Stock'19 @ Avenida da Liberdade
2019 Festivais Reportagens Super Bock Em Stock

Super Bock em Stock’19 dia 23, o dia das grandes performances e Orville Peck

O dia amanheceu com sol e as nuvens dissiparam-se. O segundo dia de Super Bock em Stock seria certamente mais longo, mais intenso e mais seco. Os artistas mais consolidados estavam alinhados e prontos para subirem aos palcos da Avenida. Chegámos mais cedo e passar nos espaços que não conseguimos ir no dia anterior.

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A romper a noite, os lisboetas Ditch Days encheram a belíssima Sala Boundi localizada no primeiro andar do Palácio da Independência. Um indie-rock de abanar os ombros, “Liquid Springs” é o seu primeiro álbum e foi também por ele que passou o alinhamento desta actuação.

Um pouco mais acima do Coliseu, passámos pela Sala Santa Casa (garagem da EPAL) que neste dia teve a curadoria dos Capitão Fausto. Nesta altura actuavam os Zarco que com o seu ritmo eclético (musica popular, samba, indie) animavam a sala que estava bem composta.

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A edição deste Super Bock em Stock teve uma vasta programação de hip-hop e um local exclusivo para receber artistas da música urbana. O Cineteatro Capitólio transformou-se, nestes destes, num género de catedral do hip-hop – o Bloco Moche (dividido em três salas: o cine-teatro, os bastidores e o terraço).  Era o  trio rapper Orteum que estava no palco do cine-teatro, o Mass, o Tilt e o Nero. “O Rap Tuga é uma merda” ficou-nos a soar nos ouvidos até chegarmos ao Tivoli.

Ady Suleiman, Teatro Tivoli BBVA

Com um estilo elegantemente descontraído, o jovem britânico-tanzaniano do R&B provou que está à altura dos melhores e que sabe muito bem o que quer fazer com todo o seu talento. Sem ser pretensioso mas também sem cair num júnior humilde, Ady Suleiman encantou-nos com toda a musicalidade que o seu corpo transpira. Um repetir de falsetes incríveis e arrojados, que desafiaram constantemente o timbre vocal que, ora mais para o jazz ora mais para o soul. Enquanto que o saxofone se alinhava mais no funk, o guitarrista (R&B, definitivamente) dedilhava um soul quase em improviso puxando pelas palmas do público. Apesar da aparente descontração demonstrada por Suleiman, o seu último álbum foi todo um exercício terapêutico contra a ansiedade e a depressão, o próprio confessou-nos que era tímido.  Depois do que vimos aqui, pareceu-nos que Ady Suleiman tem tudo para continuar a crescer e poder vir a ser um dos grandes nomes da história do R&B. Uma música tão confortável quanto bem disposta, lúcida e limpinha.

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Curtis Harding

O músico norte-americano que acompanhou Lenny Kravitz na sua digressão do ano passado, subiu ao palco do Coliseu dos Recreios para uma hora de Soul Power. Com o gospel a correr-lhe nas veias (da mãe), Harding é um músico de fusão em que o blues, o R&B e o gospel se fundem em canções cheias de alma. Depois de ter surpreendido no Festival Vodafone Paredes de Coura no ano passado, Harding regressou para definitivamente nos conquistar. Uma voz tão melosa quanto potente, capaz de flutuar nas notas mais altas sem pestanejar. Se assim foi, “não estando a voz no seu melhor”, fará quando a voz está a 100%! Um estilo muito a lembrar os anos 1970, acentuado ainda mais no baterista que, desde o cabelo ao restante figurino, poderia ter saído de uma capa dos discos dos Jackson’s Brothers. Cover de “To Love Somebody” que fez com que o público o acompanhasse no refrão e se deixasse ficar para o resto do concerto. Nós é que já estávamos a contar os minutos para ir para a sala ao lado, não fosse esta esgotar.

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Orville Peck

A grande revelação da noite iria estar na Sala EDP (Casa do Alentejo), depois da actuação de Tainá. Ainda nos cruzámos com algum público que saia do concerto da artista brasileira, e podemos dizer que estavam com aquele ar de quem tinha passado uma hora feliz e, em menos de nada, a sala ficou completamente a abarrotar! O cowboy de cara tapada e com voz de Johny Cash era sem dúvida uma das grandes expectativas deste segundo dia de festival. À hora marcada, Orville Peck subiu ao palco com mais 4 cowboys e uma lindíssima cowgirl no domínio das teclas e com estilo na guitarra. Vestidos a rigor, aprimorados com veludos e brilho nos contornos dos adereços, os canadianos fizeram as delícias dos fotógrafos e dos aficionados do country-rock americano dos anos 1960. Orville Peck não revela a sua identidade mas há rumores de que é o baterista de uma banda punk de Vancouver, os Nu Sensae. Mas isso pouco ou nada interessou para este contexto, a música de Orville Peck é melosa, cheia de glamour e de guitarras a transbordarem de sonoridades românticas. Orville tem uma voz perigosamente envolvente que nos projeta rapidamente para cenários de Tarantino. De uma enorme simpatia e um comunicador nato, falou sobre amores e desamores, drag queens e romances,” Roses are Falling” (for you). O cenário foi perfeito, uma sala magnifica com jogos de luzes perfeitos sobre as cores das roupas e dos chapéus. Um ambiente cinematográfico que nos fez regressar a meados do Sec. XX e àquele tempo em que tudo nos parecia perfeito.

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Slow J

Josh Rouse já estava quase a entrar no Tivoli e o músico (rapper e outras coisas mais) mais cobiçado de Lisboa estava a encher o Coliseu. Não poderíamos deixar de presenciar o momento de consolidação da carreira ascendente do extraordinário João Batista Coelho. You are Forgiven, o seu mais recente álbum, surpreendeu tudo e todos e conquistou os corações e ouvidos daqueles que ainda duvidavam do seu notável talento. Quando entrámos no Coliseu fomos ao encontro da voz de Sara Tavares no bonito tema “Também sonhar”. Pouco tempo passava do inicio do concerto, e a sala já estava totalmente rendida à intensidade emotiva das palavras que saiam daquela voz compassadamente afinada com os sentimentos. Sozinho num palco minimalista, onde apenas sobressaía a capa do álbum (a sua impressão digital) e o instrumento que tão manuseia, a voz.  O seu companheiro de sempre, Papillon, entrou em palco e juntos produziram um momento que ficará gravado nas centenas de câmaras do público, que neste momento já estava em êxtase. Não fossem as marcas que Josh Rouse deixara em mim,  e ficaríamos aqui a receber aquela energia indescritível ou melhor aquela vibe incrível!

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Josh Rouse

O norte-americano Josh Rouse já estava a actuar no palco Tivoli, e logo que entrámos que nos apercebemos que alguma coisa se passava com o som, estava demasiado alto. O próprio fez várias vezes referência a esta situação, porque estava com interferência no seu microfone e isso por vezes pode ser motivo para um concerto não correr tão bem como expectável.

Partilhou que há 10 anos que não vinha a Portugal e tinha receio que o esquecesse-mos, como o Tom Hanks na ilha deserta (risos). Ao longo da última década Josh Rouse mudou ligeiramente o registo, e deixou um pouco de lado aquele funk saboroso com o qual nos fora apresentado no inicio dos anos 2000. Mas felizmente escolheu para o alinhamento os temas mais antigos (e os melhores!) dos álbuns  Subtítulo (2006) e 1972 (2003). A plateia composta por nascidos dos anos 1970, pelo menos nas primeiras filas onde nos encontrávamos, estava radiante com esta escolha e rapidamente o demonstrou na agitação de ombros e cabeça. Até um fã que estava na primeira fila se levantar e começar a dançar, contagiando todos aqueles que já estavam com essa vontade desde o inicio do concerto.  A alegria e animação do público foi impressionante, apesar do som continuar mau e Josh Rouse e os seus músicos não demonstrarem a mesma agitação. Fica para a próxima.

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Viagra Boys

Os moços de Estocolmo que andam a fazer as honras do pós-punk europeu da actualidade, fecharam com chave d’ouro esta edição do Super Bock em Stock. Sebastian Murphy é um músico que já se vê poucos. Murphy (ainda por cima com este apelido!) está no palco como se estivesse na sala de estar da sua casa. Não é só por ficar em tronco nú e mostrar a pele tatuada, nem por deslizar ligeiramente as calças para baixo, nem por fumar charros, nem sequer por beber latas de cerveja e se encharcar nelas. Não, é um deboche genuíno que nos faz gostar dele logo na primeira música. Para além da atitude debochada, há uma tentativa constante de manter a voz rouca desafinada, o que a torna ainda mais singular. O tema “Sports“, do recente e único álbum Street Worms, foi dos momentos mais marcantes do concerto quando Murphy começa a fazer flexões no palco. “Bacalhau” foi uma das palavras que pronunciou e claro, foi logo aproveitada para ser repetida pelo publico ao longo da actuação. Os Viagra Boys são aquela banda que toda a gente quer ver, pela boa disposição, pelo ritmo que não se ouve muito por aí e pelo seu front man que é um colosso em palco. Pena foi o som estar tão baixo, ao contrário do Josh Rouse.

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