Nesta noite no Sabotage, não existem da nossa parte grandes expectativas de encontrar a uma terça-feira, a um segundo dia do início da semana o clube a abarrotar pelas costuras com fans dos The Blank Tapes. Assim, o escasso número de pessoas presente ao início, ou seja, quando as portas abriram, fazia pensar que a banda californiana teria de nos presentear com o seu rock psych recheado de guitarras e teclas e bom feeling a nós mesmos e ao staff do Sabotage e a poucos mais. Felizmente que ainda existe bom gosto e atenção a estes eventos, e quando o quarteto norte-americano subiu ao palco já havia quantidade suficiente ‘desses’ iluminados conhecedores das canções do grupo no clube para que a festa fosse minimamente condigna para ouvirmos este excelente rock com espírito ao estilo psychedelic garage à luz do sol da Califórnia sob o excelente timbre vocal de Matt Adams. As canções apresentadas em palco de forma descontraída, foram ganhando o concerto a um ritmo e qualidade cada vez mais envolventes à medida que a sala se ía tornando também ela mais composta de calor humano.
O motivo para a digressão europeia do grupo é o novo álbum Look Into The Light e as suas canções cheias desse sol da Califórnia, adornadas pelos acordes das teclas e das guitarras que foram ‘rolando’ no palco do Sabotage, ajudadas por uma excelente mistura de som que se fazia sentir neste espaço, como é habitual. O baixo macio e compenetrado dos ritmos de bateria e os sons de guitarra com solos que cheguem, sem chatear. – E existe aqui contenção, o saber como se faz uma boa canção com acordes de re, sol, mi, lá menor, e por aí adiante e já está: canções simples e bem executadas, um bom refrão de seguida e temos mais uma canção que se cola ao ouvido. Não são necessários grandes ‘fogos de artifício’. Canções como “LA Baby” ou “She’s your Baby”, esta última com os seus bonitos coros e teclados, fizeram estranhamente lembrar um pouco o que de melhor os The Lemonheads fizeram há muitos anos atrás, e quanto a mim na minha modesta opinião, uns bons furos acima. “Look Into The Light”, canção que dá o título ao novo disco é por exemplo, um single cheio de jive e psych, com as teclas e o solo de guitarra a proporcionar um momento de fruição entre a banda e o público, intenso e imerso. Ouvimos em “The One”, a mais ‘americana’ de todas estas canções, o baixo a dar ‘aquela’ sequência de notas quadrada, mas que previsivelmente dá a Matt Adams liberdade para ‘esgalhar’ a sua guitarra num regime mais de jam electrizante, mas sempre a guardar o registo da canção com excelentes resultados.
De destacar a nova “Pure Evil” do novo registo de estúdio que me ficou muito bem no ouvido, são canções bem produzidas e que resultam bem em palco. A carreira de Matt Adams como The Blank Tapes, que parece ser imparável e fazer o som que gosta, rodeado e rodando de músicos em palco conforme as necessidades já vai longa e frutifera e ninguém diria que já constam 13 discos no seu percurso tamanha a frescura demonstrada. No geral, foi um concerto bem divertido numa ‘ensolarada noite de terça-feira ao sol da Califórnia, feita de guitarras e de groove psych (sem exageros) num registo que variou entre o rock e o pop indie, pelo que é certo que existe amor pela melodia na voz de Adams. Saímos leves e bem dispostos. Voltem sempre.