No passado sábado chegámos um pouco antes da hora por sugestão da organização, precisamente para assistirmos aos últimos preparativos daquela que iria ser a 15ª edição do Tiny Soul Concert, com o músico minhoto Valter Lobo. O concerto estava agendado para as 17h30m, mas a partir das 16h30m começaram a chegar convidados. Parte deles possivelmente estariam pela primeira vez, como nós, mas outros já seriam assíduos certamente. Quem vive a experiência do Tiny Soul uma vez, é muito provável que queira voltar a vivê-la.
Optaram por organizar este evento em espaços, públicos ou privados, na margem sul do Tejo. Esta foi a terceira edição a ter lugar em Lisboa. E porquê sair da capital? Porque já está saturada de acontecimentos, dizem os próprios organizadores. Mas afinal o que é isto do Tiny Soul Concert? A organização fez-nos o enquadramento : “Tiny Soul Concert é mais do que um concerto. É dar um abraço de alma num encontro íntimo entre a música, a amizade, os prazeres simples da vida e uma causa social. É este o propósito do projeto TSC, que se iniciou no final de 2017 durante um jantar de amigos. TSC significa juntar pessoas que partilhem a paixão por música, em locais privados ou públicos, num ambiente familiar, intimista, aconchegante, com degustação de vinhos, petiscos e um pequeno concerto. Os locais são inusitados que permitam momentos únicos num ambiente descontraído e acolhedor. Pelo TSC já passaram nomes como: Marta Hugon, Karyna Gomes, Diogo Picão, Emy Curl, Vasco Vilhena, Lena D’Água, Salvador Sobral, entre outros que ajudaram a completar 14 sessões muito bem conseguidas – as últimas 2 com lotação esgotada. Até à data já foram distribuídos por 13 associações diferentes cerca de 5mil euros em donativos.” O TSC tem uma particularidade, a organização pede donativos em dinheiro por cada evento, 15€ por pessoa revertendo 5€ para uma causa social. “A vertente solidária é também um alicerce central deste projeto sem fins lucrativos. Não há bilhetes à venda, há a recolha de donativos à entrada de cada concerto, que servem para apoiar uma causa social, retribuir o artista e cobrir os custos de produção.”, acrescenta ainda.
Nesta 15ª edição o local escolhido foi o Palácio Baldaya em Lisboa e parte dos donativos foram para a instituição de solidariedade social, Associação O Companheiro sediada em Benfica. A Sala do Desembargador, situada no 1º andar deste bonito palácio oitocentista, esgotou. Mas na verdade conseguíamos circular com relativa facilidade para irmos buscar um copo de vinho ou comer um bocado de bolo caseiro delicioso, se assim o quiséssemos. A decoração da sala, o espaço do catering, o local da entrada, tudo estava perfeito para receber o magnifico canta-autor Valter Lobo e a sua guitarra acústica. Sérgio Marques e Ivo Melim fizeram as honras da casa, dando as boas-vindas e agradecendo ao Baldaya o acolhimento do evento. A representante da Associação agradeceu os donativos e apresentou o trabalho realizado pela associação. O Valter iria terminar de dar um gole no vinho tinto para nos encher a alma com quase duas horas de um concerto intenso e intimista.
“Mediterrâneo” foi editado em 2016 e é o seu último e único longa duração. Este álbum veio juntar-se ao EP de 2013 “Inverno“, que integra o tema “Pensei que fosse fácil” e que esteve na compilação dos Novos Talentos Fnac de 2012. O Valter é um comunicador nato e como não é muito rígido na preparação das suas actuações, confessa mesmo que é nestes pequenos espaços que se sente bem e não nos grandes palcos. E essa descontracção, a de saborear cada momento, fazem-no comunicar com o público e perguntar-lhe frequentemente “o que querem ouvir?” E foi “Guarda-me esta noite”, numa interpretação sublime, que tocou depois de abertas as hostes com “Mediterrâneo” tema que dá nome ao álbum.
Contou um episódio bastante curioso que se passou numa sala em Amesterdão. Pediram-lhe para tocar uma das suas músicas para uma plateia de 5.000 pessoas, as quais aguardavam a actuação de Eddie Vedder. E o Valter lá tocou o último tema do álbum, “Quem me dera”, para nós e para a tal plateia de fãs do músico americano. Músicas novas que estão à espera de irem para estúdio, trabalhadas em trocadilhos de palavras e encadeadas em versos sentidos, “Vermelho preto eu me comprometo, mesmo sendo incerto / Na foz de um grande amor juntamos rio e mar / Agora só por nós, a corrente que nos leve / Agora só por nós”. Entre os aplausos calorosos do público, ouviu-se um grito: “Malhão!” de alguém que ali estava como todos nós, em comunhão com a verdade emotiva de todas as canções que o Valter escreveu. Cantou à capella e caminhou até ao final da sala e regressou, acompanhado por um sorriso e por toda uma plateia rendida à sua genuinidade.
Já a tarde entrava na noite e a chuva que caía no bucólico jardim do Baldaya fazia parte daquele cenário, tão quente de afectos. Confessou que não estudou música e por isso só sabia tocar alguns acordes na guitarra, “enquanto a malta estudava música estava eu a estudar Direito, e a ser infeliz (risos). Se calhar foi por isso que fiz canções tristes (risos).” Desde 2015 que Valter Lobo organiza o Ciclo de Cantautores de Fafe, com o apoio da Câmara Municipal. Neste Ciclo consegue levar 3 a 4 músicos, mas gostaria de poder levar muitos mais, e fez referência ao facto de ter ficado contente com a presença naquela sala, das promissoras canta-autoras Tainá e a A Garota Não. Para terminar e já a fazerem parte do encore, cantou “Oeste” depois de explicar que como não sabe dançar fica sempre encostado a olhar com ar entristecido. O público cantou em uníssono, “Só de te abraçar sinto que a música altera-me em tudo o mais / a música altera / O meu corpo altera / O mundo altera-se / Ai meu amor”. E no derradeiro final, a lindíssima “Supernós” que foi também ela acompanhada pelos seus leais e calorosos fãs. Esperamos voltar a ver Valter Lobo em Maio aqui em Lisboa e aguardamos pelo novo álbum de originais ainda durante este ano.