No preciso momento em que os RIDE subiram ao palco do Lisboa ao Vivo, naquela que seria a mui aguardada estreia da banda pela capital, o letreiro na t-shirt de Steve Queralt, baixista, saltou à vista: “post punk”, lia-se. Indumentária curiosa, de facto, ou não fosse a assinatura da sonoridade Ride escrita numa caligrafia completamente oposta apelidada de shoegaze.
O shoegaze foi o estilo pérola dos anos 90, caracterizado pela distorção, pelo ruído, pelo feedback e a obscuridade vocal e, a par de Ride, os My Bloody Valentine e Slowdive eram as estrelas de uma ribalta cujas luzes se foram fundindo com o tempo. 2014 seria o ano de um curto circuito nas mesmas, marcando o regresso da banda ao ativo e aos trabalhos, desta feita mais vocacionado para o rock alternativo.
This is Not a Safa Place, disco que data do ano passado, foi o argumento do regresso da banda a Portugal e, apesar de longe de estar esgotado, o Lisboa ao Vivo fez-se sentir cheio e em êxtase. Apesar do peso que Nowhere e Going Blank Again ainda acatam, a noite de Ride não foi um mero revisitar de memórias, mas sim uma demonstração do poderio do material dos britânicos, oscilando-se um pouco por toda a carreira e sempre de forma certeira entre coabitar o passado com o presente.
Ora fosse por “Future Love”, “Leave Them All Behind” ou “Taste”, a estática do público foi constante, apenas rompida por intensas palmas de felicitação no final de cada tema. E não se esperava menos de um concerto de Ride, ou não se estivesse perante uma banda que se sente, interioriza-se e respeita-se, padrão de comportamento registado previamente na banda de abertura, os britânicos Crushed Beaks, mas cuja pujança abanou os corpos e despertou o interesse dos poucos madrugadores que já circulavam pelo Lisboa ao Vivo.
Pouco comunicativos, tirando as saudações a Lisboa típicas da praxe, mas com a pujança intacta e jovialidade renascida, os Ride proporcionaram uma viagem à boleia de dezanove temas que circularam num instante; o soar dos bombos de “Dreams Burn Down” levou mãos à boca perante a rapidez com que hora e meia de concerto tinham voado, mãos essas que aplaudiriam de bom grado dois dos maiores picos de Nowhere: “Polar Bear” e “Vapour Trail”, com esta última a arrepiar ao longo do seu solo terminal e a demonstrar toda a genialidade de Andy Bell.
Rompidos os estados de transe instaurados pelo Lisboa ao Vivo, “Seagull”, tema título de Nowhere, começa um merecido encore e cuja entrada fulminante finalmente quebra a persistente estática do público, matando-se por uma última vez saudades de uma banda que marcou uma década, mas que demonstrou belos argumentos capazes de provar que ainda há muita vida nesta ressurreição dos Ride.