No passado dia 18 de Fevereiro, com alguns minutos de atraso face às 21h30 anunciadas, com o público atento, ordeiramente sentado nos lugares marcados, na Aula Magna de Lisboa os Tindersticks entraram em palco para «um espectáculo distante» tal como Stuart Staples haveria até de referir lá mais para o final deste concerto, distante do que eram nos anos 90 de quando cá estiveram pela primeira vez em 1994, ou seja, mais sóbrios, segundo ele, suspeito eu que o disse no verdadeiro sentido literal da palavra o disse.
Ora a recordação que tenho dos Tindersticks dessa época é a de um frontman que fumava um cigarro a cada canção que cantava, dos violinos arrepiantes e de um som que me avassalava a alma. Recordo que foi isso que senti nos dois concertos que vi, salvo erro novamente porque a memória por vezes prega-nos partidas, o último que vi foi no Coliseu dos Recreios de Lisboa.
Na Aula Magna, saí deste concerto com a ideia de que tivemos um vislumbre disso, desse passado e mesmo em músicas como o magnífico e intemporal “Another Night In”, palmas pela inclusão do magnifico “Jism” que quanto a mim, foram já de caras os dois temas da noite por esse mesmo vislumbre do passado, aqui tocados sem violino, o que convenhamos, não é a mesma coisa mas foi um valioso esforço para com o que poderei chamar de uma solução mais “económica” terem incluído ambos os temas no set list. Foi corajoso este arranjo mais despido nas duas canções embora tenha sentido a assinalável falta desse instrumento tão singular que mereceu tanto destaque na primeira fase da carreira da banda.
E isto é começar, eu sei, pelo fim, mas perdoem-me por isso. Não será a ultima vez certamente que reencontrarei a banda, afinal, com a fantástica voz de Stuart Staples, sentida e “intocada” pelos anos, os músicos competentes, compenetrados agora num registo mais intimista como é apanágio das mais recentes canções nesta segunda fase, vá lá, “sóbria” da carreira dos Tindersticks, agora sem violino, ainda assim é motivo suficiente, e aliás não estou sozinho nisso, para abandonar qualquer conforto mais mundano e enfrentar as ruas da capital para nesta noite francamente fria de Fevereiro, ir então assistir a um despretensioso e eficaz desfile de canções, de onde devo destacar do mais recente disco No Treasure But Hope, o excelente “See My Girls” como o momento em que verdadeiramente me deu o primeiro arrepio, simplesmente porque esta canção tem uma guitarra com delay a fazer lembrar especialmente aqui ao vivo os Durutti Column e simultaneamente uma voz carregada como a de Stuart Staples no registo que prefiro num tom desesperado.
No que respeita ao resto do concerto, confesso que a dose de arrepios não foi tão grande como esperava, talvez por já os ter sentido pelas baixas temperaturas lá fora, ou simplesmente porque este comensal do festim melancólico Tindersticks estivesse a pensar numa distribuição diferente da ementa de hoje, achei pouco acertada a set list a nível de ritmo, com uma toada sempre lenta. Estados de espírito que se compensam então pela espera de momentos mais intensos que sabemos que a banda consegue facilmente proporcionar. Mas esses momentos foram surgindo a espaços e não de uma forma tão contínua como esperava.
Em resumo, se ainda conseguem fazer canções bonitas como “The Amputes”, que tocaram pouco depois do início, então que voltem e que continuem a esgotar salas pelo país fora como foi o caso desta mini-digressão que percorreu o país de Norte a Sul, ou se preferirem de Sul a Norte, para ser mais exacto. E novamente em resumo, foi bonito. Aliás, foi esse o tom com que nos presentearam na despedida já no encore com a singela canção “Take Care In Your Dreams”, nos meus sonhos onde iria eu encontrar uns Tindersticks tão pesarosos como no antigamente, mas não. Agora existe mais luz, o que não é uma coisa má, vem com a idade e com o passar dos anos.