O Ossos D’Ouvido são um trio de músicos de formação, têm o pedigree da escola do Hot Club e são de Benavente. O Diogo Lourenço (guitarra), o Pedro Almeida (bateria) e o João Massano (baixo) lançaram o seu primeiro longa-duração na 6ª feira passada no MusicBox em Lisboa. Passado um ano da Musica em DX ter estado à conversa com eles, a propósito da sua participação no Festival Emergente, eis que apresentam ao mundo a sua aventura em formato de disco pelo cunho da Watermelon Records.
São oito temas editados numa compilação de sons eclécticos, indefinidos no registo mas apurados na complexidade rítmica. ASA NISI MASA é o nome do álbum e a wikipedia diz que “é uma frase absurda icónica usada durante uma cena-chave no filme de Federico Fellini, 1963 (…)”. Portanto a opção do icónico repete-se nos OD’O, recordo o tema longo e surpreendente do EP de 2017 “Amanita Muscaria” o qual escolheram para o encore desta noite.
Os Mazarin são de Beja e subiram ao palco na primeira parte dos OD’O, aquecendo a sala com um jazz descomprometido mas alinhado no timbre. Surpresa nas teclas, em que Léo Vrillaud tocou em modo de levitação numa energia que envolveu o público, principalmente nas últimas duas músicas. Vicente Booth é o guitarrista e o front man deste quarteto, em que se junta o João Spencer no baixo (e que baixo!) e na bateria o João Romão. Tal como OD’O, os Mazarin têm referências muito diversas e não gostam de rotular o seu estilo musical. Apesar das mudanças na composição da banda (2019) os Mazarin seguem o seu percurso desde 2016 e vão construindo um caminho único, onde jogar “Pokémones” para eles é uma uma fonte de inspiração na composição musical.
O Pedro Almeida é o baterista dos OD’O e é um moço tão alto que, quando se senta na bateria, parece que lhe colocaram um banco raso. Dança em permanência com as baquetas e mexe nos pratos como se fossem de porcelana, tal é a delicadeza com que os manuseia! Fez a honras da banda ao segundo tema, “Jam II” e apresentou os dois músicos convidados, na percussão o Pedro Antunes e no trompete o Francisco Matos. “Os Lobos Também Dançam” é o single do álbum e é uma composição musical totalmente cinematográfica. Uma estória de várias intensidades, com o ritmo do trompete a levar a melodia a bom porto, para depois dar espaço à guitarra que mantém um delicioso diálogo com o baixo praticamente até ao final.
O alinhamento foi o do álbum para que não houvesse dúvidas, nem para eles nem para nós. Rapidamente fomos contagiados pela magnifica energia do Pedro Antunes, que pulava a cada toque que soltava na percussão e pelo preciosismo arrebatador da guitarra do Diogo Lourenço, qual Jimi Hendrix lusitano! O trompete esteve na frente de palco ao lado do baixista João Massano que, apesar de uma postura mais isolada, fez sobressair a guitarra-baixo com a devida alma que é esperada pelo som das suas cordas. O Pedro fez os respectivos agradecimentos, a todos e todas que participaram na edição do álbum, cujas gravações passaram pelo Reino Unido, aos que produziram este concerto e a quem tem estado com eles nesta viagem supersónica. Ainda soltou um grito de “vamos lá ao Rock n’ Roll!”.
Uma sala muito composta, cheia de amigos, de familiares e de curiosos que depois da sua actuação se tornaram certamente fãs! Em ovação retiraram-se do palco, depois de esgotarem o reportório de ASA NISI MASA, para arrasarem com o tema mais longo da sua discografia, “Amanita Muscaria“, que tem somente a duração de 13 minutos e mais uns quantos segundos! Os Ossos D’Ouvido são definitivamente uma (das) banda emergente altamente profissional e que anda a dar cartas pelos palcos alfacinhas. Conseguem prender-nos e surpreender-nos nas viragens constantes dos ritmos, sem serem demasiado inesperados e a conseguirem ganhar complexidade melódica em cada música.