Quão grande pode ser o espaço? Qual a nossa capacidade para nos maravilharmos com tudo o que existe para além de nós? A Nebulosa de Hélix encontra-se numa constelação de nome Aquarius e tem um tom verde esmeralda que envolve uma espécie de olho vermelho. De acordo com a sua posição, transparece a ideia de que vigia a terra.
Apesar de ser algo extremamente belo, Helix Nebula não se pode tocar com o corpo humano, mas podemos facilmente alcançá-la se cerrarmos os olhos e deixarmos a mente ser comandada pelos Earth Drive.
Foi numa sexta-feira 13, em Março que as galáxias se alinharam e abriram portas e passagens escondidas, convidando-nos a ver e sentir mais além. Helix Nebula é o segundo trabalho deste quarteto (Hermano Marques – voz e guitarra, Sara Antunes – voz, Luís Silva – baixo e Sebastião Santos – bateria) e segue a linha da força energética e de viagem espacial do anterior adicionando um conceito mais forte, uma produção mais elaborada e um sabor ainda mais intenso.
Se Stellar Drone nos deixou sem fôlego, este novo disco abraçou-nos, apertou-nos contra si e levou-nos corpo a corpo numa viagem ainda mais densa e profunda. A maturidade que transborda dele, sente-se não só pela produção do The Pentagon Audio Manufacturers, como pela consolidação de uma força e união únicas. Helix Nebula apesar de extremamente denso e forte é um álbum que respira, faz-nos respirar e contém uma carga de beleza genuína.
A história deste disco constrói-se em 12 faixas que se ligam entre si. É uma história de consolidação de sonhos, de ambições, arte, sabedoria e, principalmente, da viagem. Os pontos fortes passam pelo stoner, o space rock e o drone, colocando-nos no incentro do triângulo a absorver cada raio magnético. A bateria sente-se consolidada e a presença de Sebastião ganha cada vez mais força e identidade. Uma monstruosa ligação que se sente e arrepia. O baixo, com supremacia em bastantes passagens, vai controlando a intensidade e deixa espaço para a guitarra nos abrir caminhos desconhecidos, brilhantes e extremamente apetecíveis. De relevar que a ligação entre as faixas se faz, muitas vezes, com interlúdios e, apesar de dividido em 12, e um álbum que não se pode individualizar, formando um todo em toda a sua plenitude. Na introdução encontramos logo uma força que nos suga e inquieta, revelando que, a viagem que estamos prestes a fazer vai ser especial. Apesar de ser, para mim, a faixa mais fraca do álbum, “Helix Nebula”, traz rendilhados de cordas brilhantes, antecedendo, um interlúdio que nos deixa respirar por breves minutos antes de irmos para aquela que é uma das melhores faixas do álbum. “Spectra” começa com uma percussão atordoante e revela-se uma faixa com vários momentos explosivos e camadas sonoras distintas. A intensidade aumenta com as distorções e as palavras ganham um poder quase transcendente capaz de se entranhar em nós. “Axial View” entra em nós com o ritmo de uma corrida de cavalos, sendo uma faixa de stoner com vários níveis e pistas. Em “Dharma Throne”, primeiro single apresentado, o baixo envolve-nos com todas as suas cordas. Ouvimos vozes interplanetárias e caminhamos pela estrada da mente ao som de um denso e vasto capricho sonoro coberto de drones e poderes ancestrais.
A sonoridade mais drone continua em “Nagarjuna”, um interlúdio que vem chamar a atenção uma mente adormecida e transtornada. É tempo de acordar! “Science of Pranayama” é outra bomba de stoner que nos volta a colocar no caminho e nos faz renascer usando para isso uma complexidade e monstruosidade sonoras. Um pouco de desert rock com uma guitarrada tocada por Mário Ayres em “Deep Amazon” onde quase que sentimos a brisa na cara. Aqui, encontramos a contraposição da solidão de um vasto deserto com a sua beleza inerente. O álbum termina com um pequeno caos mental que se personifica numa mistura de libertação e confusão. Há uma espécie de chegada ao terminal da viagem onde nós escolhemos em que saída queremos sair e a maneira como o queremos fazer, restando uma tranquilidade libertadora e um pouco inquieta.
A energia sente-se e é partilhada por um elo invisível que nos faz desfazer tudo o que é matéria e ser, também, energia. É um disco que deverá sempre ser escutado sem interrupções, de rojo, de coração e mente abertos
Apesar da apresentação ao vivo desde magnífico disco ter sido condicionada pelos factores externos que nos assolam diariamente, juntamos energias para que possamos, em breve, sentir este grande disco ao vivo e com ele tirar os pés do chão. Para já, podem fechar os olhos, colocar os phones, fixar o volume um pouco acima do médio e embarcar aqui.