Num curto espaço de tempo a frase “por favor desliguem os vossos telemóveis, o espectáculo vai começar” inverteu-se totalmente. Agora que não temos concertos e espectáculos em sala, agora que os temos nas nossas salas individualizadas em aparelhos móveis, a frase de ordem é “por favor liguem os vossos telemóveis que o espectáculo vai começar”.
Nas últimas duas semanas, coincidente com o isolamento social voluntário a que nos submetemos, foram muitos os músicos que se predispuseram a tornar esta nossa nova rotina isolacionista mais partilhada e aconchegante. Salvador Sobral e o guitarrista André Santos (rede social FB), o Festival Eu Fico e Casa que aconteceu de 17 a 22 de março com mais de 70 breves actuações de 20 a 30 minutos, ou encontros de vizinhos artistas como o caso de Rita Red Shoes, Bruno Santos (guitarrista e seu marido) e Ricardo Toscano (saxofonista). Felizmente muitas são as iniciativas que os nossos artistas nos têm proporcionado.
Seguindo esta linha, a de manter a sanidade mental e artística, o canta-autor minhoto Valter Lobo decidiu comemorar o seu aniversário com os seus amigos e seguidores, e ofereceu um pequeno showcase na rede social Instagram.
Juntámos-nos depois do jantar já perto das 22h00 e o concerto começou a horas. O Valter muniu-se da guitarra e de um bom tinto Quinta da Pacheca. Depois de um gole no vermelho escuro do Douro maduro, Valter perguntou-nos o que queríamos ouvir e logo rojaram inúmeras sugestões entre emojis afectuosos. O tema “Quem me dera” do (ainda) solitário álbum Mediterrâneo, foi tocado e cantado numa versão “festa de aniversário na sala de jantar confortável”. Um assobio prolongado acompanhou o final da música e muitas palmas se seguiram. “Esta é a minha festa de anos e estão todos convidados”, disse o Valter em jeito de brinde à nossa saúde! Há semelhança do Bruno Nogueira, que está diariamente no mesmo canal social uma hora mais tarde, Valter fez uma chamada e convidou o amigo Jorge Moura para juntar o som da sua guitarra eléctrica à sua guitarra clássica. A tentativa foi na lindíssima canção “Guarda-me esta noite”, mas o improviso por vezes saí ao lado e nem sempre corre de feição. O Jorge saiu pouco depois e o Valter lá continuou a festa connosco. “Tive um jantar óptimo, e estou a ver tanta gente boa por aqui, olha a Catarina Peres e o Márcio Ribeiro! Espero não me enganar muito.” e seguiu com um tema mais antigo “Cinema Francês” do EP Inverno de 2012. ” Haja o que houver eu vivo em ti, mesmo com as luas sempre a mudar”. Valter confidenciou-nos que foi ao google pesquisar a letra desta música e, qual foi o seu espanto a letra lá estava!
Depois do Jorge Moura, entrou na “sala” o Pedro Moreira não para tocar mas, e pelo que percebemos, para dar um abraço de parabéns e partilhar de que está a trabalhar nas gravações do próximo trabalho de Valter Lobo. O Pedro deu algumas dicas ao Valter sobre a idade como, “A idade é uma merda, ficas cheio de dores e mais rabugento.” O Valter ripostou a dizer que mais rabugento acha que não e que até começou a fazer exercício físico com aulas da net, ” Fiz só 10 minutos, mas valeu a pena!” Nas despedidas o Pedro aconselhou o pessoal a ser responsável e manter-se a salvo.
O Valter regressou à Pacheca e à conversa connosco, e em confidência, disse-nos que iria começar a fazer concertos privados até 20 pessoas, uma espécie de Uber Lobo (risos). “Mandem-me uma história que valha a pena e eu vou a vossa casa.” Há um disco novo que está “no forno” prestes a sair, inclusive já com datas marcadas de concertos e tudo,mas agora foi tudo adiado… “Já tenho saudades vossas”, diz aproximando-se da câmara como quem quer mesmo estar mais próximo, e tocou “Tenho Saudades” (álbum Mediterrâneo). “Se eu morrer um dia destes, esta é a minha mensagem de despedida, “Brilha na Vida / Liga o rádio pode ser que me vás ouvir”, que faz parte de um tema novo que sairá no próximo disco. No final do quarto tema a ligação caiu temporariamente e quando retomámos ouvimos “Raios de Luz“, tocado num registo mais intimista e também com mais seriedade (EP Inverno). Quase a chegar ao final ouvimos à capella, a maravilhosa canção “Quero que me acordes“, (…) até me emocionei quando vi entrar / quem me abraça as noites com força e me rompe as cordas”, do projecto Lobos de Barro com o pianista e compositor André Barros.
“Se ganhámos o Euro com o golo do Éder, também vamos conseguir sair disto bem!” E na despedida (que custou a todos) o derradeiro “Oeste” que foi single de lançamento do álbum Mediterrâneo (2016). Esta foi a única música em que Valter adicionou um ritmo gravado, o de castanholas a cavalgar e acompanhámos todos no refrão. O publico ia comentando e muitas pessoas encontraram-se nesta festa sem estarem a contar! “Isto é que é um aniversário do séc. XXI”, disse o Valter à despedida, ” (…) digam-me coisas e estamos nessa”.
Muitos parabéns Valter pelo teu 37º aniversário, para quem não gosta de festas, ter mais de 200 pessoas a cantar os parabéns é muito bom!