Apesar de terem visto o seu concerto na Culturgest cancelado devido à atual pandemia, os They Must Be Crazy [TMBC], editaram hoje mesmo o seu novo single “Expensive Water (Mati Yakataika)“, com a preciosa colaboração da artista moçambicana Selma Uamusse.
Contudo, é com toda convicção que a banda solta o novo single, dada a intenção que levou à sua criação ganhar uma leitura ainda mais profunda em momento de pandemia global. Os TMBC, em comunicado, reflectem:
“Ao longo dos últimos meses sentimos intuitivamente que era tempo de pararmos com os concertos para colocarmos toda a energia da banda na criação desta música. Durante esse período remexemos vezes sem conta na sua composição para ficar ao gosto de todos nós bem como da Selma, que convidámos para participar por já vir a trabalhar o elemento água (“Mati” é o nome do seu último disco e significa água no dialecto moçambicano changana), além de ter sido uma autêntica embaixadora na resposta às recentes cheias em Moçambique. Decidimos depois honrar esta criação singular com um vídeo gravado em estúdio e fazer um concerto especial só para o seu lançamento. Só nunca imaginámos que viria a ser lançada neste contexto!
Não deixa de ser irónico que um concerto com vista à sensibilização pela preservação daquilo que é essencial à vida seja cancelado por um fenómeno que vem exactamente escarrapachar a urgência disso mesmo perante todo o planeta. E na realidade, faz todo o sentido que isto esteja acontecer. Ao mesmo tempo que somos obrigados a parar, está a acontecer uma revigorante limpeza do planeta, aos olhos de todos, que nos ajuda a compreender a nossa pequenez individual, e o impacto da acção ou neste caso, da não acção colectiva.
O surto do coronavírus vem claramente acordar os instintos da nossa noção de corrermos perigo como espécie, colocando em evidência que os sistemas em que nos tornámos e onde nos inserimos estão cada vez mais frágeis, apesar de nos iludirmos do contrário. Mais que nunca, é necessário activar e fortificar as novas visões e movimentos globais. Mas antes temos de cair de joelhos na terra, deixar que as águas nos subam cá dentro até nos escorrerem pelos olhos, e voltar a reconhecer o respeito pela infinita força da Natureza, em todas as suas formas. “Mati Yakataika, Si Ungayawolere” é um provérbio em língua nyungwe, idioma bantu falado em Moçambique, que significa que a “água derramada, não se volta a apanhar”. Tem duplo sentido ao existir nesta música: pelo honrar ao que é sagrado antes do seu esgotamento; e pelo aceitar e perdoar os erros do passado com a profundidade que nos permita agir com força revigorada para o futuro.
É emergente entendermos que assim que isto passar, não podemos voltar às vidas com as mesmas cegueiras e comodismos dantes. Daqui a diante ou fazemos por evoluir juntos pela auto-regeneração dos nossos ecossistemas, ou continuaremos a aprender cada vez de formas mais duras, cada vez mais caras.“
Os They Must Be Crazy são uma banda composta por 12 portugueses que habitam as periferias de Lisboa. Nasceu em 2014 pela vontade de fazer afrobeat, e em 2016 trouxe ao mundo o primeiro disco, “Mother Nature“.
5 anos após o seu início, nunca a banda se questionou tanto quanto agora sobre o que é, afinal, o afrobeat. À medida que enlouquecem com a complexidade da questão, compreenderam que mais do que qualquer estética que possa caracterizar a música que querem fazer, é na alegria da música que faz balançar o corpo que se unem à intenção em servir causas maiores e de intervir política, social, espiritual e corporalmente. Juntam-se para fazer música levantar o espírito e mexer o corpo com toda a convicção e soltura.
Música para a comunhão, que enlouqueça as pessoas juntas em alegria e êxtase e as ajude a reconectar com a alma, para depois voltarem à vida com direcção mais alinhada e mais força de vontade para a mudança.
+info They Must Be Crazy
Fotografia (capa) – They Must Be Crazy